sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Uma incrível jornada!

Quando você decide fazer uma jornada, não imagina o que vai encontrar e o quanto vai estar diferente no final da experiência. Quando você decide ir em busca de si mesma, com certeza vai acabar encontrando muito mais do que imaginou. Em julho de 2009 eu decidi voltar ao lugar onde nasci para rever pessoas e a casa onde cresci. Também queria reencontrar o meu pai biológico, depois de vinte e cinco anos, e entender o porquê de tantos desencontros.
Nessa tarde, enquanto postava “Para que Servem as Bonecas?” e falava com o Diego, decidi que já era hora de enfrentar os meus medos e ir  resgatar o meu passado. Eu estava morrendo de medo disso, mas quando o Diego disse: “Eu vou com você!”, eu me senti a pessoa mais corajosa desse mundo e fui. Eu, evidentemente, sabia que seria muito bom rever minha casa, meus tios, minha escola e o lugar onde passei a infância e também aproveitaria para confirmar, com o meu tio João, algumas histórias do meu avô para o livro e ouvir, o que quer que fosse, que meu pai tinha para me dizer. Quando finalmente tive a oportunidade de ouvi-lo, compreendi n,uma única conversa, que a vida sempre segue o curso certo, que tudo que nos ocorre é exatamente o que deve acontecer e que tudo está perfeitamente em sintonia. E eu me senti profundamente agradecida pelo meu pai ter permitido que o meu avô cuidasse de mim e que eu fosse criada pelo pai mais maravilhoso que alguém poderia ter tido. Eu o perdoei, de verdade, por ele ter ido embora e ficado longe de mim todos esses anos.

Depois disso, reencontrei o meu tio João, de quase noventa anos, o único irmão do meu avô que ainda vive. E eu jamais conseguiria descrever a doçura desse reencontro depois de tantos anos. A felicidade indescritível do seu abraço, da minha querida tia Emília e da minha prima Nair, que aos sessenta e nove anos ainda é a mesma criança inocente de seis anos que brincava de bonecas comigo. E eu me senti novamente em casa, protegida, amada e de volta ao lugar mais seguro que já conheci. Ouvir as expressões e frases tão familiares, os gestos e todo o jeito italiano da família do meu avô deram-me forças e coragem para continuar minha caminhada. Eu percebi o quanto fui abençoada por ter sido criada em meio a tanta delicadeza e generosidade.

Quando voltei a casa onde, entre idas e vindas, vivi dos três aos quatorze anos, me senti incrivelmente parte. Entrar de novo naquela casa, onde tudo permanece igual, depois de vinte e três anos, foi uma das coisas mais emocionantes que já vivi. A impressão que tive é a de que ninguém ousou tocar em nada naquela casa que o meu avô construiu com as próprias mãos para morarmos. A casa está bastante deteriorada, até a tinta ainda é a mesma de 1987. O jardim, as árvores e plantas da minha avó não existem mais, porém ninguém tocou em nada do que o meu avô fez. Eu senti que toda a energia da nossa história, toda energia da nossa vida naquela casa, ainda está lá e isso me emocionou muito. Eu senti um desejo imenso de comprá-la novamente. Quem sabe um dia.

Em seguida fui até a minha antiga escola. O tempo também pareceu ter parado por lá. Embora muito bem conservada, ela tem ainda as mesmas cores, o mesmo pátio e salas. Tudo me pareceu intocado por lá também e mesmo com todo o silêncio de agora, da época de férias, a algazarra da minha infância estava muito nítida dentro de mim. Estar de volta ao lugar onde aprendi a ler, me fez perceber o quanto carreguei comigo desse universo, o quanto eu ainda faço parte de tudo aquilo e que na verdade eu sempre estive lá, sendo influenciada por tudo aquilo. Na verdade, não importa onde eu esteja, onde quer que eu vá, eu ainda estarei lá.

No caminho de volta encontrei uma grande amiga da minha família, alguém que esteve presente em todos os meus momentos e me viu crescer. E em apenas quinze minutos de conversa, ela me fez compreender anos de um pedaço da minha história que eu nunca imaginei que poderia resolver nessa viagem e então eu senti um desejo imenso de abraçar de novo a minha tia, de passar pelo menos algumas horas com ela e lhe dizer o quanto eu a amo.

Quando me despedi dos meus velhos tios, da minha tia e das minhas primas eu me senti de novo sendo parte de algo muito importante. Senti-me em paz com a minha história e completamente feliz, entregue… Deixei-me sentir todas as emoções e fui embora agradecida por tudo que vivi.

No caminho de volta para casa, passei muitas horas falando com o Diego, ele me ajudou a entender, de maneira tão doce, tudo aquilo que eu tinha acabado de viver. Foi então que eu entendi a razão dele estar ali comigo, tão à vontade vivendo algo tão íntimo da minha história e me ajudando a me reencontrar.

Eu sei que esse é o maior egoísmo que alguém poderia ter, mas eu sempre desejei ter um amigo, um amigo leal e verdadeiro, que me entendesse sem muitas palavras ou que tivesse a mesma paciência do meu avô para me ouvir por horas sem me julgar, sem me questionar e principalmente sem se cansar de mim. Sempre desejei ter alguém que aceitasse, sem hesitar, sair pelo mundo comigo explorando a vida. Mas eu já tinha desistido de encontrá-lo. Achava que tudo aquilo que eu queria era impossível existir, que os meus sonhos eram egoístas e pretensiosos demais, que a companhia do meu avô, havia sido a minha única oportunidade de ter alguém ao meu lado que me compreendesse e me aceitasse exatamente como sou. Então eu desisti.

Até então, o meu avô tinha sido a única pessoa a me aceitar sem querer me transformar em outra pessoa. Eu sei que sou amada por outras pessoas, pessoas que eu amo muito também e eu seria extremamente injusta com elas se não dissesse isso. Mas o que eu tinha com o meu avô era perfeito. Não havia nenhum medo de rejeição ou de causar mágoas. Eu sabia que nunca poderia magoá-lo, porque ele me conhecia de verdade e me amava apesar das minhas imperfeições, dos meus defeitos e dificuldades. Quando ele se foi, passei dois anos me sentindo muito só, sem ter com quem falar das minhas coisas, com quem ficar ao lado por horas sem dizer uma palavra sequer ou que pudesse falar exageradamente sem que me mandassem calar a boca. Ele era o único que realmente gostava de me ouvir, mesmo quando eu passava horas falando sem parar.

Eu tenho pessoas queridas que me amam e são capazes de entender parte do que eu sou. Pessoas que são maravilhosas comigo e que eu espero correspondê-las sempre, mas foi no final da minha jornada que eu percebi que ganhei muito mais do que eu havia ido buscar. Quando o Diego estava comigo, tive a certeza de que não estava mais sozinha sem ter alguém para dividir meus sonhos, meus planos e minhas descobertas. Então eu encontrei o amor da minha vida. Eu o reconheci. Eu o teria reconhecido entre milhões de pessoas e eu não tenho como descrever a felicidade de tê-lo reencontrado, porque sei que já o conhecia de outras existências e que esse foi apenas um reencontro e eu não quero nunca mais perdê-lo de vista.

Diego e eu

24/08/2009

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