sexta-feira, 18 de setembro de 2009

As Boas Mulheres da China


“Quando alguém mergulha nas próprias recordações, Abre uma porta para o passado; A estrada lá dentro tem muitas ramificações E a cada vez que a porta é aberta O trajeto é diferente.”
Xin Ran
***

Na última sexta-feira eu estava péssima, fui para o trabalho em frangalhos, no meio do expediente, estava muito frio e eu não havia pego um casaco, resolvi ir para casa. Só queria me enfiar sob o edredom e chorar até dormir. Estava tão frágil, sem amigos, sem qualquer pessoa para conversar. Estava precisando tanto de carinho e atenção e simplesmente quanto mais eu desejava isso menos eu tinha. Cheguei em casa e me enfiei sob o edredom e tudo o que eu mais queria era dormir e esquecer um pouco da minha vida. Antes de adormecer, porém, eu li um trechinho do livro que uma amiga havia me emprestado: As Boas Mulheres da China, da escritora e radialista Xin Ran.
“Tenho me sentindo fraca nos últimos dias… mas parei de chorar, ninguém sabia por que eu estava chorando… gosto de dormir e estar longe desse mundo…”
Aquelas frases soltas no livro caíam como um raio na minha cabeça. As frases da jovem suicida Hongxue da história real do livro, poderiam ter sido ditas por mim naquele dia. Antes de adormecer, levantei-me depressa, tomei um banho, me arrumei e sai, sem saber exatamente o que queria fazer. Só sabia que precisava muito reagir àqueles sentimentos negativos que estavam se apossando de mim. Quando estava na rua, as idéias começaram a surgir. Entrei num salão de beleza e finalmente criei coragem para tonalizar o cabelo. Acabei cortando, hidratando e escovando. Fiz as sobrancelhas e as unhas e pela primeira vez as pintei de vermelho. Os garotos do salão fizeram um bom trabalho. Saí de lá e entrei direto numa loja de calçados. Nem olhei para as costumeiras sapatilhas e pedi um salto. Sai calçada com o meu novo sapato. Passei em outras lojas e finalmente acabei indo para casa. As pessoas todas acabaram me elogiando e suas atitudes em relação a mim mudaram automaticamente.
Toda essa experiência acabou sendo uma grande descoberta, as pessoas gostam mais de você quando você se gosta. No momento em resolvi ser um tanto quanto egoísta e talvez até fútil, comecei a receber o carinho das pessoas novamente. Faz apenas quatro dias, mas aquela pessoa frágil que abandonei naquele edredom está bem longe de mim.
Queria muito que a Hongxue tivesse saído daquele hospital com vida. O que mais me intriga nessa história toda é o fato daquela menina chinesa ter morrido, porque não teve forças para levantar sozinha daquele quarto de hospital e as pessoas , às vezes, simplesmente se negam a dar amor e atenção para quem está precisando. Elas só gostam de você quando você está bem, quando você tem atitudes que elas esperam de você. Quando você se importa mais consigo mesmo do que com as outras pessoas parece que começam a te enxergar. Um pouco de afeto também teriam me feito levantar daquela cama. Uma conversa teria me feito parar de chorar. Uma sugestão de algum amigo também teria me levado àquele salão para essa experiência… Nem sempre as pessoas tem um livro por perto ou forças para mudar radicalmente o comportamento nocivo que vem tomando.
A morte daquela garotinha de apenas dezessete anos me tocou muito. Ela não precisava ter morrido se alguém a tivesse abraçado. Se alguém lhe tivesse sorrido e lhe compreendido. Muitas vezes julgamos o comportamento das pessoas sem saber quais as causas a levaram agir de determinada maneira. As pessoas sofrem a nossa volta sem nos darmos conta e nós simplesmente não sabemos como agir.

Recomendo:
As Boas Mulheres da China
Xin Ran
Editora: Cia das Letras

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