quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Pescador de Ilusões

O dia começou igual a todos os outros, praticamente igual a todos os mil e oitocentos anteriores.
A ansiedade tem estado cada vez mais presente e a luta que travo agora é contra os milhares de pensamentos que povoam a minha mente.

A garota que eu já fui um dia era tão confiante que se sentia perfeitamente capaz de realizar qualquer sonho. E realizava! Ela não se comparava com nada e nem ninguém. Não ligava para elogios ou críticas. Não se magoava facilmente e não dava importância para nada de ruim que acontecia com ela. Estava apenas determinada a seguir cegamente em frente. Achava que as agruras da vida não poderiam alcançá-la se ela não parasse. Durante anos ela seguiu sempre em frente sem olhar para trás ou para os lados.

Aos 15, 20 ou 30 anos eu não me importava ou ainda não tinha me dado conta de quanta coisa eu teria que passar. Vencer tantas batalhas e se manter de pé cansa. Hoje estou exausta! Tenho sentido falta de tanta coisa e tanta gente. E a maior delas é a falta de mim mesma, daquela garota determinada a chegar a algum lugar. Mesmo que eu nem soubesse que lugar era esse.

 Aquela sensação de vazio toma conta, mesmo tendo os dias totalmente preenchidos com a maternidade e a casa. Então eu começo a pensar, demasiadamente, em coisas que eu poderia estar fazendo e não estou. No quanto estou precisando ser admirada novamente. E percebo que acabei me tornando uma pessoa completamente diferente do que era.

Uma vez eu reclamei que passava a maior parte do meu tempo - no trabalho -  perto de pessoas que não tinham absolutamente nada a ver comigo e quase nada junto daqueles que eu amava. Eu queria tanto estar em casa fazendo coisas que eu gosto, perto de quem eu amo...

Meu desejo se realizou. Estou em casa e passo todas as minhas horas ao lado de uma das pessoas que eu mais amo nesse mundo. E eu não imaginava que isso me deixaria tão exausta. Dizendo assim, dessa forma, posso parecer arrependida. Não estou! Faria tudo igual, mas estou precisando, desesperadamente, sentir de novo aquela empolgação com a vida. Aquele desejo incontrolável de seguir em frente, porque ainda não tinha chegado no final.

Por mais que eu queira continuar fazendo o que tenho feito, acho que preciso fazer de outra forma. Ser mãe e dona de casa não é nada glamouroso e uma hora a gente acaba se ressentindo pela falta de reconhecimento - fica parecendo que manter a vida, sua e dos seus, em ordem não é mais que uma obrigação 'sua'. E dai você começa a sentir inveja das conversas, dos elogios destinado à outras pessoas, do tempo passado com amigos e adultos e a sua autoestima vai lá pra Conxinxina. Vai se ressentir de não ter um lugar importante em lugar algum (ou ser fod* pra caramba pra alguém no presente, não no passado). Rainha do lar, meu filho, não tem coroa  nenhuma, não!

O fundo do poço tá ali, bem perto, quando você recomeçar ouvir Beirut ou sentir vontade de postar mensagenzinhas - como as do quadro ao lado - no FB.

Mas eu vou reunir toda a minha coragem hoje - depois que eu terminar de passar a roupa, guardar tudo, lavar a louça, limpar a cozinha, dar banho no Tomás, fazer a janta - e vou viver uma grande aventura. Talvez num lugar onde eu não precise ser boa em nada e nem conquistar mais nada.

Num lugar onde eu não precise mais correr sem medo de olhar para os lados, porque eu já cheguei - de verdade - onde eu queria e agora é só curtir adoidado.