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sábado, 11 de março de 2023

Reconstrução Mamária - Final

Depoimento feito para o site da clínica do Dr. Washington, que fez a minha reconstrução mamária em 2021:

Me chamo Adriana e fui diagnosticada com câncer de mama em 2018. O meu tratamento iniciou com uma mastectomia radical da mama esquerda. Na época tive a opção de fazer a reconstrução imediata, mas optei pela reconstrução tardia. Preferi concentrar todas as minhas energias e atenção no processo de cura. Dessa forma tive a oportunidade, três anos e meio depois, de conhecer o Dr. Washington, que me apresentou exatamente a técnica que eu gostaria de fazer. Colocar uma prótese de silicone não estava nos meus planos e a reconstrução com o método DIEP foi a mais acertada. A reconstrução foi feita em duas etapas: na primeira foi feito uma abdominoplastia e a mama foi reconstruída com o retalho, ligando vasos sanguíneos e nervos. Na segunda etapa foi feito o ajuste das mamas, a reconstrução do mamilo - usando parte do mamilo direito, que foi enxertado na mama reconstruída. Também nessa etapa foi feito uma lipoenxertia que preencheu e moldou o colo. Meses depois fiz a micropigmentação da aureola e suavização da cicatriz. O resultado ficou surpreendente e muito natural.
Dr. Washington é um profissional muito competente, experiente e apaixonado pelo que faz. Me senti muito segura e acolhida em todas as fases do processo. Desde a primeira consulta foi extremamente atencioso e detalhista. Eu segui à risca todas as recomendações e tive um pós operatório bem tranquilo, muito tranquilo mesmo. Imaginava que seria um período bem chato, mas foi tudo muito mais fácil. Não senti dores incômodas e em três dias já estava dando alguns passos pela casa. Toda a minha experiência foi realmente muito boa. O meu sentimento é de muita gratidão e carinho por esse profissional incrível que devolveu um pedaço da minha vida que eu não imaginava mais recuperar. Hoje, passado um ano e meio depois dos ajustes, praticamente nem me lembro mais que passei três anos e meio sem o meu seio esquerdo. 

Uma imagem vale mais que as palavras, então deixo aqui algumas fotos das etapas:

                                            (quando retirei as ataduras na mastectomia radical - julho de 2018)


                                             (primeira etapa da reconstrução - abdominoplastia em junho de 2021)


  (segunda etapa da reconstrução - ajustes em outubro de 2021)

  
(terceira etapa da reconstrução -  micropigmentação)

fotos: acervo pessoal)
 

segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Reconstrução - Parte II - No meio do caminho havia um útero.

 

Em junho de 2021, quando iniciei o processo de reconstrução mamária, prometi voltar aqui para contar como anda esse processo. A primeira etapa foi um sucesso. Foi feito uma abdominoplastia e, como já havia contado antes aqui, o material foi usado para reconstruir a minha mama esquerda. A cirurgia durou cerca de oito horas e o trabalho da equipe foi incrível. Tive uma ótima recuperação, levando-se em conta que se tratou de uma cirurgia de grande porte, em poucos dias estava super bem. Não senti dores, e a recuperação foi bem menos chata do que imaginei que seria. Três meses depois a mama reconstruída estava com ótimo aspecto e caimento. Antes dos ajustes eu já estava feliz com o resultado, mesmo sem o mamilo esquerdo. No geral posso dizer que foi uma experiência muito gratificante, que me devolveu a sensação de estar inteira outra vez.

Há dois dias fiz a segunda etapa da reconstrução. Ainda estou aqui me recuperando. No meio do caminho, no acompanhamento com a minha ginecologista, descobri que o meu endométrio estava um pouco espesso. Então decidimos tirar também o útero preventivamente. Não foi uma escolha difícil, depois de ter tido sucesso na ooforectomia preventiva em 2019. Dessa forma poderei encarar os anos que faltam, do tratamento hormonal, mais tranquila, sem o medo constante de que um endométrio espesso, por conta do uso do Tamoxifeno, possa aumentar o risco de um câncer de útero. Uma coisa menos para me preocupar. Como a cirurgia plástica da mama já estava marcada conseguimos conciliar as duas e meus médicos, maravilhosos, fizeram as duas no mesmo dia.

Dizendo dessa forma, parece fácil, mas reconstruir sua vida pós câncer de mama não é uma tarefa simples. É necessário passar por muitos desafios e etapas que eu jamais teria escolhido passar, mas que durante toda essa jornada estão me tornando uma pessoa de quem eu gosto mais. Até agora, desde que descobri o câncer, em março de 2018, aconteceram tantas coisas que olhando em retrospecto nem sei como consegui vencer cada uma delas: começou com uma mastectomia radical da mama esquerda, dois meses de quimioterapia que me deixou sem os cabelos e por dias bem debilitada. Em 2019 tive episódios de depressão que me nocautearam, talvez mais que a químio. Ainda em 2019 desenvolvi um cisto imenso no ovário, causado pelo uso da medicação, e decidimos retirar os ovários para aliviar as dores e também como forma de prevenção já que o tratamento do câncer de mama aumenta um pouco o risco de desenvolver câncer de ovários. Nessa época morei por alguns meses em outra cidade e precisava vir todos os meses até São Paulo, para continuar o tratamento. No início de 2020 voltei à São Paulo e as coisas ficaram mais fáceis.

No final de 2020 meu mastologista, pela décima vez, quis me encaminhar para a cirurgia plástica para reconstruir a mama, mas eu só aceitei falar com o cirurgião quando a minha oncologista me declarou em remissão completa da doença em três anos. Isso significa que em três anos a doença não voltou e não houve nenhuma intercorrência que indicasse a possibilidade disso acontecer. Isso quer dizer que nesse momento estou curada, mas que o tratamento e o acompanhamento, que à princípio seriam de cinco anos, ainda não acabou. Mas, não deixou de ser um marco, um motivo de grande comemoração e só então decidi fazer a reconstrução. Depois de retirar o útero a minha onco resolveu estender o tratamento com o hormônio por dez anos, já que estudos novos sugerem maior segurança para a paciente se usado a medicação por mais tempo.

Depois do trabalho mais pesado finalmente eu comecei a me empolgar com a possibilidade de me refazer. Eu já estava completamente desencanada. Pensava, inclusive, em nem fazer a reconstrução, mas quando falei com o Dr. Washington, ele conseguiu me convencer de que eu merecia ter de volta esse pedaço da minha vida e do meu corpo. Ele estava certíssimo! Já na primeira etapa eu percebi que aquela Adriana, de antes do câncer, finalmente estava de volta. E não tenho nem palavras para agradecer o carinho e o cuidado dele, e de toda sua equipe, comigo. Tem sido uma experiência realmente boa depois de tantos percalços.

Eu sempre digo isso e preciso reafirmar que sou uma pessoa de muita sorte, por ter desde o início dessa saga encontrado os melhores médicos e pessoas que eu poderia ter encontrado. Dr. Andrade, meu mastologista, foi muito acertivo em todos os conselhos e recomendações que me deu. Fizemos a melhor escolha ao focar em uma coisa de cada vez. Não quis fazer a reconstrução imediata, preferi tratar a doença primeiro e ter certeza de que ela provavelmente não retornaria. Foi uma escolha muito feliz. Fazer a reconstrução tardia me deu a tranquilidade de concentrar toda minha energia na cura da doença e a possibilidade de encontrar, três anos depois, o Dr. Washington que me apresentou exatamente o tipo de reconstrução que eu queria fazer.

Também conto, nesse tempo todo, com a parceria da Dra. Kelly, minha oncologista, que tem sido um verdadeiro anjo na minha vida. Sempre muito realista comigo, me colocando de frente com as melhores soluções, como ter tirado os ovários, para poder parar de produzir hormônios e entrar logo na menopausa, por exemplo. Esses cuidados todos tem feito toda diferença no meu tratamento. Há um ano conto também com o apoio da Dra. Maria Augusta, que é uma pessoa incrível. Alguém que eu quero como amiga pelo resto dos meus dias. Ela tem sido muito mais que uma médica e terapeuta - porque ela acaba sendo um pouco minha terapeuta também. É alguém que já posso chamar de amiga. Eu tenho muita sorte! Muita! Estou cercada de pessoas que fazem as coisas serem muito mais fáceis para mim. Esse post é também a expressão de toda minha gratidão à eles. Obrigada! De todo meu coração.

Eu costumo dizer que não têm como passar por um tratamento de câncer sem algumas lágrimas, houveram muitas, e sem alguma dor. Também tive muitos dias dolorosos, de muito sofrimento, dúvidas e muito medo. Mas estou aqui para lhes dizer que é possível passar por tudo isso com o menor estrago. Acho que a parte mais importante disso tudo foi eu ter aprendido que algumas coisas eu precisaria passar sozinha, que era preciso abandonar algumas crenças, me desprender de toda e qualquer vaidade e não sofrer lutos desnecessários. Eu quero VIVER! E viver acabou sendo mais importante do que ter seios e cabelos ou não ter olheiras e algumas cicatrizes. É preciso em algum momento decidir e apenas IR!

Essas marcas no meu corpo hoje têm esse significado: EU ESTOU VIVA! Eu estou sobrevivendo há três anos apesar de todo medo e angústias durante o percurso. O que começou de forma tão dolorosa e num abismo de insegurança tem me tornado uma pessoa mais forte. Eu já era muito forte, mas antes eu não sabia disso. Tem me tornado uma pessoa que eu sei quem é e do que é capaz de suportar. Alguém que eu admiro e hoje posso dizer isso sem parecer arrogante. Eu sou uma pessoa incrível, por ter sido corajosa o suficiente de ir, mesmo com medo, mesmo com dor. Essas marcas hoje não doem, juro, não doem nadinha. Talvez, por eu ter me acostumado que para se estar vivo é preciso aprender a conviver com a dor e o medo.

Além de tirar o útero, dessa vez ajustamos a simetria das mamas e reconstrução do mamilo (foi feito um transplante do mamilo da outra mama), que eu ainda não vi, mas tenho certeza de que ficou ótimo. A ultima etapa dessa via crucis agora será a tatuagem da aréola. E ai acabou!

Por mais louco que isso seja, apesar desses hematomas, da lipoaspiração para enxertia na mama, essa pessoa que lhes escreve aqui é uma das pessoas mais felizes desse mundo hoje. Eu estou aqui! Por mim, pelos meus filhos, pelo meu amor, pelos amigos e minha família. E cada dia tenho mais certeza de que ainda vou ficar aqui por um bom tempo.

Que assim seja!

Esse texto foi escrito ao som de "another love" do Tom Odell.

Fotos: acervo pessoal





quinta-feira, 10 de junho de 2021

Reconstrução Mamária - Método Diep

 

O ano era 2018. Logo no início de abril eu recebia um diagnóstico de câncer de mama. A notícia foi um golpe que me deixou sem chão.

Escrevi bastante sobre essa experiência durante toda a parte mais pesada do tratamento. Há quase três anos, em julho de 2018 eu fui submetida a uma mastectomia radical da mama esquerda. Por mais doloroso que isso tenha sido, foi o que me salvou. Assim que abri os olhos na sala de recuperação, a Dra. Letícia imediatamente me disse: "tenho uma ótima notícia! Conseguimos retirar tudo, estava encapsulado, não tinha nenhuma contaminação dos linfonodos, você está livre do câncer. Essa notícia, dada assim de sopetão mudou tudo na aceitação da minha nova condição.

Quando soube que iriam retirar toda a minha mama esquerda, depois de receber toda explicação - perfeita -  do Dr. Andrade, eu "escolhi"não fazer a reconstrução imediata. Apesar de todo sofrimento de saber que seria mutilada, hoje eu entendo que fiz a melhor escolha. Ter retirado a mama toda, sem reconstruir, já me poupou de fazer radioterapia, uma das partes mais dolorosas de todo o tratamento. Além disso, a reconstrução tardia, permitiu que o foco da equipe médica fosse apenas a doença. Nesses quase três anos vivendo sem a minha mama esquerda foram de aprendizados incríveis. Eu já poderia ter reconstruído há um ou dois anos, mas eu quis esperar esses três anos até ter certeza de que a minha remissão estivesse mais perto da cura oficial. 

O marco de três anos em remissão é um motivo de muita comemoração e alegrias, pois venci mais da metade do tratamento, que no meu caso será de 5 anos. Ainda tomo tamoxifeno, ainda faço exames periódicos de três em três meses, mas nesses últimos três anos todas as minhas notícias foram sempre boas, maravilhosas. Depois de um ano da mastectomia eu resolvi retirar os ovários, preventivamente, isso me mantém ainda mais segura, pois consegui zerar a produção dos hormônios que me causaram o câncer. Pela primeira vez, em muito tempo, eu realmente me senti aliviada. Em paz de novo.

Depois de três anos olhando o meu corpo no espelho, convivendo bem com a prótese externa, fiquei expert nas "gambiarras", usava maiô tranquilamente. Sempre passei desapercebida na multidão. Nunca perceberam, a não ser que eu dissesse, que eu não tinha um seio. A convivência feliz com o meu novo corpo, a aceitação e o apoio incondicional do marido, varreram para longe de mim a ideia de reconstruir a mama. Até que em dezembro, numa das consultas com o meu mastologista ele me disse: você está ótima! Está radiante! Você está feliz, saudável e renovada. Vou te encaminhar para a cirurgia plástica, porque chegou o momento de você pensar nisso. Num primeiro momento eu disse categórica que não iria fazer a reconstrução, estava bem com a minha vida. Nunca fui tão feliz como sou hoje. E ele então me disse que esse era o melhor motivo para eu ir e conversar com o cirurgião. Eu fui!

Já cheguei no consultório dizendo que não queria reconstruir, que não queria colocar silicone num momento em que tantas mulheres estavam retirando. Que eu sempre sonhei envelhecer naturalmente, sem nenhum subterfúgio. Que eu sou feliz sendo quem eu sou. Então o Dr. Washington me disse: eu tenho exatamente o que você quer e isso casa perfeitamente com o que você precisa. Então ele me apresentou o modelo de reconstrução mamária feita com meu próprio tecido e que eu poderia envelhecer como sempre sonhei, mas INTEIRA outra vez. Ele me disse muitas coisas que acabaram por me convencer, mas acho que o que realmente me tocou foi quando ele me disse que a vida poderia me devolver tudo o que perdi. Que eu poderia ter de volta o equilíbrio do meu corpo, aposentar as minhas gambiarras e ser, de novo, uma pessoa completa.

Ele me disse isso justamente num momento em que eu vejo que a vida, aos poucos, tem me devolvido coisas que perdi durante esses 49 anos anos da minha existência. Até mesmo o disco do Ritchie, que eu ganhei aos 13 anos e que me roubaram - ganhei outro de aniversário. Reencontrei amigos de quem estava afastada há tempos. Tenho, dia após dia, recuperado pessoas, coisas, lugares, sentimentos e conquistas, que eu julgava perdidas. O mais importante de tudo: tenho reencontrado a mim mesma. Numa longa conversa de quase 2h, o meu médico me convenceu. Decidi recuperar também o meu seio esquerdo, concordando com ele de que a vida, depois de tudo que passei e sofri, me deve sim isso.

Então ele me explicou que faria exatamente o que eu tinha lhe pedido: reconstruir o meu seio, com material do meu próprio corpo, para que eu pudesse virar essa página e seguir envelhecendo normalmente. Ele me falou das maravilhas do novíssimo método DIEP que reconstrói a partir de um retalho abdominal, feito por microcirurgia, com fios mais finos que os meus cabelos, ligando vasos e nervos, o que, além do aspecto mais natural e parecido com o que eu era antes, possibilitará o retorno da sensibilidade da mama. Trocando em miúdos faremos conforme a figura abaixo:

                                             

Depois que me recuperar dessa primeira cirurgia, daqui três meses, ele fará os ajustes, simetria e mamilo. Ainda tenho um pedaço longo pela frente: me recuperar bem desta e encarar a próxima e última. É claro que estou com medo. Quem acompanhou a minha jornada até aqui, sabe dos perrengues todos, das minhas tantas etapas de medo, mas também sabe que eu não me paralisei, enfrentei tudo o que veio pela frente, morrendo de medo, tremendo de medo, mas na hora marcada eu estava lá. Hoje não será diferente. Estou aqui escrevendo porque não consegui dormir. Morrendo de medo de encarar mais 8h de um procedimento extremamente grande e delicado, mas às 7h da manhã estarei na sala de cirurgia do Hospital Sírio-libanês para que o Dr. Washington me devolva o mais próximo possível de quem eu era no início de 2018.

Por mais medo que eu sinta, eu sei que vai dar certo e sei que toda essa experiência tem me tornado uma pessoa  melhor, alguém de quem eu gosto muito. Uma pessoa mais livre e feliz. É claro que dá um frio na barriga colocar meu filho para dormir e saber que daqui a pouco sairei para enfrentar mais um dragão imenso sozinha, mas a diferença é que hoje eu sei que preciso fazer isso sozinha e que ninguém, por mais que me ame, poderá ir comigo ou no meu lugar para enfrentá-lo. Esse dragão, certamente, não será o 
último, mas a cada passo dessa jornada eu me sinto mais forte para ir.

Eu volto, assim que possível, para contar tudo como foi.
Torçam por mim!

Imagem: ShutterStock
Figura: divulgação internet