sábado, 9 de abril de 2011

Joanetes


Olhando para as minhas joanetes, esse carocinho que anda crescendo ao lado dos dedões dos meus pés, me dei conta de que isso só pode significar uma coisa: sou uma legítima Mani.
Não me lembro de muitas coisas sobre a minha bisavó Adelaide, mãe do meu avô materno. Ela faleceu quando eu tinha apenas dez anos, mas uma das lembranças mais nítidas que tenho dela é das suas Alpergatas de tecido velhinha toda rasgadinha dos lados.
Nós chamávamos errôneamente o calçado da minha bisavó de precatinha. O problema do calçado não era a idade dele, mas o volume enorme nas laterais que forçavam o tecido e, por mais novo que fosse, logo estava rasgado. Os pés do meu avô eram idênticos ao da mãe dele. Na velhice, também ele passou a gostar de usar as tais precatinhas velhas como as de sua mãe.
Ainda criança, lembro-me da minha tia se queixando daqueles ossinhos doloridos que cresciam ao lado dos seus dedões tirando-lhe toda a elegância das belas sandálias que ela usava.
Minha Noninha Bisa se foi há muito tempo, meu avô e minha tia, mais recentemente, também se foram. Mas, me deixaram como herança esses ossinhos volumosos que crescem nos meus pés.
Eles doem, é verdade. Deixam meus pés com um aspecto ainda mais horroroso, além de espalhado é largo, mas as minhas joanetes são a marquinha deles que crescem em mim.
Ao contrário da minha mãe e tias, eu amo minhas joanetes. Cada vez que as percebo me lembro de quem sou. Elas são a prova concreta do mundo à qual pertenço.
Mais do que meu registro de nascimento, são as minhas joanetes a evidência de que realmente sou uma Mani.
Ainda não estou na fase das alpargatas, mas penso se já não devia começar a providenciar um estoque delas.