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segunda-feira, 5 de agosto de 2019

Não, não ficou tudo bem!

Há algo muito errado acontecendo quando o seu garotinho de seis anos de idade sai na porta da escola, com um galo roxo enorme perto do olho, e diz que o "coleguinha" jogou uma garrafa de água nele. E há algo ainda mais errado quando o bilhete, na agenda, diz algo diferente do que realmente aconteceu.

Há alguns meses nos mudamos de São Paulo para Porto Alegre. Desde então a nossa adaptação não tem sido fácil. As diferenças, inclusive as culturais, são imensas e isso é apenas a ponta do "iceberg". Existe um incômodo real desde que chegamos aqui. Não é apenas o fato de não estarmos nos encaixando, existe uma atmosfera estranha no ar. Se você não é daqui e não veio pra ficar, possivelmente vai enfrentar problemas. Se você não morre de amores por chimarrão, se não liga pra  churrasco, se não acha as coisas regionais a oitava maravilha do mundo e não incorporou todas as regras e tradições - que estão em todos os lugares - e nos são sutilmente impostas, você vai ter muitos problemas! E eu nem vou entrar em questões mais polêmicas que tenho presenciado envolvendo racismo, machismo e preconceitos de todos os tipos. 

Já tive o meu carro riscado, com muita raiva, bem pertinho da placa, onde se lê "São Paulo - SP". Já fui chamada de "crespinha", porque meus cabelos estão nascendo encaracolados depois da químio. Já ouvi toda gama de comentários racistas, machistas, separatistas e preconceituosos em diversos lugares. Já tive que discutir com o porteiro que não queria deixar uma catadora de papel subir para buscar umas caixas que eu havia lhe dado. Já fui tratada com desdém 'N' vezes em diversos lugares, já me assustei com a quantidade de adesivos espalhados pela cidade onde se lê: "o sul é o meu país!". Já fui abolida do grupo do condomínio por não gostar de chimarrão e fofocas às 17h, já fui chamada de "animal" por estar fazendo uma manobra absolutamente correta para estacionar. Já voltei chorando para casa várias vezes por me sentir uma perfeita estranha nesse lugar. Até ai a gente engole o choro, a saudade, se faz de surda e segue o barco para poder continuar. Mas quando essas diferenças atingem seu filho a coisa muda muito de figura.

Tomás só tem seis anos de idade. Até quatro meses atrás estudava numa escolinha maravilhosa, tinha muitos amigos e o Parque Ibirapuera era o quintal da sua casa, onde - praticamente todos os dias - vivia mil aventuras. E ele é um garotinho incrível. E não digo isso apenas porque ele é o meu filho, mas porque eu sou capaz de identificar todas as suas peraltices, mas também as suas belas virtudes. O Tomás é um menino bom! Tem um coração de ouro. Não é raro ouvir alguém dizer que ele é muito educado e uma criança muito boa. Recentemente, na sua festinha de aniversário, quando fomos cortar o bolo eu lhe perguntei: "de quem é o primeiro pedaço?" e ele respondeu: "é do Fulano, porque ele é o meu melhor amigo aqui da escola!". O Fulano, em questão é uma criança autista, que segundo a própria professora, muitas vezes as crianças não querem brincar ou sequer sentar ao lado dele. E, ainda de acordo com a professora, o meu filho a emocionou muito, porque desde o primeiro dia de aula ele entendeu as dificuldades do amigo e passou a protegê-lo. 

Tudo caminhava relativamente bem até que o Tomás começou a reclamar muito do "Ciclano", um coleguinha de turma da mesma idade dele. Um dia chegava dizendo que o Ciclano falou que o cabelo dele é feio, outro dia disse que o Tomás não devia existir, que o meu filho era isso e aquilo. E o meu menino passou a não querer mais ir para escola. Por mais que eu argumente dizendo que é normal alguém não gostar da gente e que ele devia tentar conversar com o amiguinho, nada tem adiantado muito. Todos os dias é a mesma ladainha na volta da escola: o Ciclano me empurrou, o Ciclano falou que eu sou um idiota. Até que há alguns dias, conversando sobre o assunto, ele me disse algo que me fez perceber a gravidade disso tudo: "...mamãe a gente é criança e criança briga briguinha boba. Era assim lá em São Paulo, a gente brigava, mas logo fazia as pazes, mas com o Ciclano não. Por mais que eu tente ficar amigo dele, parece que mais ele me odeia". Eu achei aquilo muito pesado. Resolvi dar um toque na escola e falei de como as coisas que o Ciclano dizia estavam afetando o meu filho. Naquele dia recebi um bilhete da escola, dizendo que providências foram tomadas. 


Logo depois ele teve uns dias de férias. Ele já estava tristinho por ficar trancado em casa - por conta do frio e da chuva e porque as crianças do condomínio não querem brincar com ele. Já voltou pra casa chateado, diversas vezes, porque chamaram ele de "ovelha" por causa dos seus cabelinhos cacheados, porque não deixaram ele brincar, porque não respondem quando ele pergunta. E o meu garotinho que sempre foi uma criança alegre, falante e entusiasmada, foi ficando cada vez mais agitado, gritando e dizendo coisas agressivas até para nós, seus pais. As aulas voltaram e ele foi para escolinha, entre receoso e feliz. Já no primeiro dia voltou reclamando que o Ciclano não deixava ele brincar com ninguém, porque ele fala "você" em vez de "tu". Eu conversei com ele, disse para ele não levar as implicâncias tão sério e que logo ele teria mais dez dias de férias, pois irá comigo para São Paulo, na próxima quarta (07/08/19), e que lá vai rever os amiguinhos, que vai todos os dias no Ibira e no Manequinho e que o levarei na antiga escolinha para ver a professora, que ele ama de paixão. Ele ficou todo feliz.

Hoje quando fui buscá-lo, ele chegou todo agitado, falando muito alto - ele está cada dia falando mais alto e num tom agressivo que nunca teve. Quando chegou perto de mim, percebi um galo roxo enorme na fronte dele. Galo equivalente ao que ele teve quando teve uma queda bem violenta, de bicicleta, na descida da passarela do MAC - Museu de Arte Contemporânea de São Paulo. A auxiliar da escolinha, que o entregou a mim, disse que ele estava brincando bem com o Ciclano que "sem querer" jogou um brinquedo na parede e acertou o Tomás. Eu fiquei sem reação na hora. Tentei ver o machucado, mas ele não deixou. Pedi, na frente da auxiliar, para ele me contar o que tinha acontecido, ele respondeu que me contaria no carro. Insisti para ele me contar, ele só disse: "o fulano jogou uma garrafa de água em mim", dai olhou para a moça e completou: "mas foi sem querer mamãe.". Eu só consegui pegá-lo no colo e dizer: "isso nunca aconteceu antes com você meu filho!". Tirei uma foto dele para mostrar pro pai dele e li o bilhete na agenda. 


Eu entrei no carro e perguntei para ele o que houve, se eles estavam sozinhos na hora, se ninguém tinha visto. Ele disse que uma das auxiliares estava com eles. Que ela havia dito para ele não ficar triste porque o Ciclano não fez por querer. Eu perguntei para ele se ele achava que tinha sido sem querer ele respondeu: "sim, mas o Ciclano não gosta de mim, então pode ter sido por querer, mas a professora falou que era sem querer então eu acreditei...".

Olha, a mim não interessa mais se o Ciclano fez ou não por querer. O fato é que uma criança que joga uma garrafa - ou mesmo que fosse um brinquedo, com tal violência contra a "parede" - é uma criança que está precisando de atenção ou está passando por algum problema.

Uma criança de SEIS ANOS não pode, não tem capacidade de odiar um coleguinha. Não se ela não for ensinada, de alguma forma, a fazer isso. Nenhuma criança de seis anos é capaz de, sozinha, não gostar de um coleguinha por causa do seu cabelo ou do jeito que ele fala. As crianças, todas elas, tendem a repetir o padrão dos adultos. E se eu já estava bem preocupada do meu filho viver num lugar onde, a maioria esmagadora das pessoas na praça de alimentação dos shoppings, não recolherem os próprios lixos, de não respeitarem os sinais de trânsito ou do coleguinha de escola dizer insistentemente que não gosta dele. Agora eu estou desesperada de medo, de que o meu filho ache normal um coleguinha tacar uma garrafa de água na cara dele, ou que ache bonito, como já tem feito, olhar para nós, apontar e rir debochadamente quando o corrigimos ou passamos por alguma situação chata, como deixar algo cair. O meu menino, que chegou aqui um lordezinho, tem estado impaciente, exigente e vive irritado com qualquer coisa.

Eu ainda não sei o que vou fazer a respeito. Não faço ideia de como vou lidar com isso e estou bem triste com o desenrolar de tudo. Meu filho que, chegou nessa escolinha e, foi considerado uma criança educadíssima, criativa e feliz. Agora está triste! Não quer mais ir para a escola de jeito nenhum. Não para de dizer que ainda é da turma da escolinha antiga, que sente falta da tia da outra escola. Da tia querida, que não esquece dele e que até hoje manda áudio no whats app para ele, e diz que o ama. Ainda não faço ideia de como vou resolver essa situação. Mas a única coisa que eu sei é que eu não o quero achando todas essas coisas normais. Que aceite ser manipulado, enganado, maltratado ou subornado. Eu não sei ainda como vou lidar com isso tudo, mas a única coisa que eu sei é que preciso ver a alegria no olhar do meu filho outra vez. Que preciso vê-lo feliz, correndo na chuva, andando de bicicleta por aí com os amiguinhos, rindo e sendo uma criança inocente por muito mais tempo ainda. Ele é amado demais para não ser feliz.






Fotos: Acervo pessoal
Trilha sonora: Titãs - Não vou me adaptar

quinta-feira, 25 de julho de 2019

Malditas estrelas!!!

Outro dia Tomás chegou da escolinha muito chateado, volta e meia ele volta chateado da escola, disse que estava triste porque havia se comportado muito bem, durante toda tarde, e mesmo assim não tinha ganho uma "estrelinha".

Eu perguntei-lhe que "estrelinha" era essa e ele me explicou que são estrelas que cada criança ganha quando se comporta bem e que no final do mês a criança que tiver mais estrelas vai ganhar um chocolate. Eu expliquei à ele que as regras da escola não se aplicam ao nosso lar - e preciso repetir isso à ele todos os dias quando volta da escola. Que sentia muito por ele não ter recebido a tal estrela, mas que ele não precisava ficar triste, porque ele não precisa de estrela nenhuma para se comportar. Que ser um garotinho gentil, educado, observador das regras e atencioso com as pessoas não implicaria em receber algum prêmio por isso. Disse-lhe que ser bem educado era um dever, de qualquer um que quer ser uma boa pessoa, mas que fazer isso simplesmente esperando algo em troca não era legal. Disse-lhe que o nome disso é "suborno" e em casa nós não subornamos e nem chantageamos as pessoas.

Depois dessa nossa conversa fiquei pensando na gravidade dessas "inocentes" estrelas e no que elas significam de verdade. Nada mais que uma forma de controlar as crianças, um meio mais fácil de fazê-las se comportar como os adultos querem que elas se comportem. Por que cargas d´água estamos ensinando nossas crianças, desde a mais tenra idade, a serem subornadas, chantageadas e enganadas? Por que precisam mentir tanto para uma criança para que ela faça o que os adultos querem? Diego e eu escolhemos jamais mentir para o nosso filho e sinceramente temos conseguido que ele nos ouça e faça aquilo que lhe pedimos muito mais fácil do que vejo outros pais tentando.

Quando ele tinha dois anos, e ainda chupava chupetas, uma vez, uma pessoa que nunca havíamos visto antes, chegou nele e disse: "dê sua chupeta para o Papai Noel que dai ele te trás um presente!". Ao que eu imediatamente retruquei: "não filho! Você deve parar de chupar chupeta porque vai entortar todos os seus dentinhos e fazer com que isso atrapalhe você no futuro!". Quando ele me entregou a chupeta, pouco tempo depois, me disse que não queria mais chupá-la para não estragar os dentes. Não raro escutamos coisas como: "se você comer tudo vai ganhar sobremesa!", enquanto eu lhe digo: "olha filho a gente precisa comer, porque é a comida que nos sustenta e nos mantém vivos, se você não comer não vai receber as vitaminas que precisa, vai ficar fraquinho, doentinho e não vai ter energia pra brincar." E ele come de tudo, inclusive brócolis e rúcula - se realmente estiver com fome. Eu dou frutas de sobremesa para o meu filho, então não há nenhum problema em casa se ele resolver comer só a sobremesa.

São muitos os "subornos" que os adultos fazem com as crianças e eu acho isso muito grave. Acho até que é a origem de todos os problemas mais infelizes que vemos na humanidade. Porque começa assim: "se você comer tudo ganha sobremesa", "se der a chupeta prô Papai Noel ele te trás um presente", "se passar de ano ou se tirar notas boas te dou uma bicicleta!", "se você arrumar seu quarto te dou uma mesada!", "se você passar no vestibular te dou um carro!" e termina com: "se você me der as licitações eu te dou um mensalão!". E não acho que estou exagerando aqui. Pois eu realmente acredito que todas as mentiras, chantagens e subornos que as crianças ouvem, muitas vezes de seus próprios pais, vão construindo o ser corrupto que chega à maturidade.

Uma criança nasce, como costumo dizer, zeradinha. Uma folha em branco sem nenhum defeito, nenhum preconceito, nenhum racismo, nenhuma corrupção. E enquanto ela cresce nós, os adultos, que deveríamos protegê-las e ensiná-las a ser a nossa melhor versão, somos os primeiros a corrompê-las! Uma criança não sabe mentir, ela aprende isso, muitas vezes, em casa com os próprios pais. Quando o telefone toca e a mãe pede à criança: "diga que eu não estou!". E quando essa criança descobre, quando começa a crescer, que "coelhinho da páscoa", "papai noel", "fada do dente" e zilhões de outras coisas nunca existiram - é uma grande frustração. Há quem venha me dizer: "mas é lúdico!" e eu digo: "o lúdico, as fantasias e imaginação infantis - tão bem vindas - não têm nada a ver com mentiras!". Nós nunca mentimos para o Tomás, que tem seis anos, e ele é uma das crianças mais criativas e imaginativas que eu já conheci. Ele curte o Natal, adora tirar fotos com o Papai Noel, mas ele sabe que é só o cara do Shopping vestido com uma fantasia legal.

Desde quando estava grávida do Tomás eu venho pesquisando, lendo e aprendendo sobre como as coisas que dissemos a uma criança - por mais inocentes que pareçam -  podem impactar na sua vida futura. E cada vez mais me preocupo, não só com as coisas que dissemos à ele em casa, mas principalmente com as coisas que ele escuta fora do nosso alcance. E todos os dias quando o meu filho volta da escola eu tenho a árdua e exaustiva tarefa de explicar, novamente, todas as coisas tortas que ele escuta. 

Preciso lhe dizer inúmeras vezes que ele pode brincar do que ele bem entender! Que não existe brincadeiras de meninos e brincadeiras de meninas, que ele pode gostar de qualquer cor - qualquer uma inclusive de rosa, pois é só uma cor -, que ele não precisa ser o número um em nada e que se ele não aprendeu algo hoje ele tem a vida toda para aprender, que não precisa ter pressa. Preciso lhe dizer todos os dias que o cabelo dele é lindo, que ele é um garotinho maravilhoso e que todas as coisas más que ele escuta não devem importar para ele. 

Em 2017, quando escrevi o texto "Mãe de Menino"*, eu já previa que tudo isso iria acontecer em breve. Só não imaginava que seria assim tão difícil ver o meu filho descobrindo que o mundo pode ser tão cruel com garotinhos de seis anos de idade. Que ele seria impedido de brincar, com a boneca "baby alive" da amiguinha, por ser brinquedo de menina. E quando lhe perguntei o que ele achava disso, ele me respondeu: "ah! acho que a "fulana" brinca que o pai do bebê dela morreu e ela precisa cuidar dele sozinha, porque senão ela me deixaria brincar com ela e ser o papai na brincadeira!". E eu senti um misto de alívio, tristeza e uma preocupação imensa, pois se eu não quero que ele seja manipulado, nem eu posso fazer isso. E se nem eu, a mãe dele, o manipula, não posso permitir que outras pessoas o façam. Eu preciso protegê-lo, pois ele é o garotinho mais incrível e feliz que eu já conheci nesse mundo.
Por mais cansativo que seja ter que explicar tudo de novo o tempo todo para o meu filho eu ainda agradeço por ter tempo e disposição para isso. Eu não posso vencer esse sistema absurdo sozinha -  essa ânsia que as pessoas têm de querer ser a qualquer custo "o número um", o melhor, o mais isso e o mais aquilo - mas, felizmente ainda posso educar o meu filho para ser feliz e não um vencedor. Mesmo porque, na verdade, só há três lugares no pódium - e para os mais desesperados apenas UM. É muita gente para pouca medalha de ouro. Sem querer ser pessimista, já que conheço muita gente bacana e empenhada em ter filhos felizes, mas teremos, num futuro próximo pouco pódium para muita gente frustrada e infeliz.

*Mãe de Menino - clique aqui para ler a postagem. 

fotos: acervo pessoal



domingo, 5 de novembro de 2017

Mãe de Menino

O Tomás, meu caçula, tem quatro anos e antes dele existir eu pouco tinha convivido com meninos. A irmã dele é 20 anos mais velha que ele e ela tinha sido a minha última experiência com crianças. Convivi com um irmão e um primo, mas não tomei conta deles. Com minha irmã e primas, por ser mais velha, acabei muitas vezes fazendo o papel de baby sitter delas. O meu filho é a minha primeira convivência tão próxima com um menino.

Antes dele eu não tinha noção do quanto seria difícil ser mãe de um garotinho. Já começou antes mesmo dele nascer: comprar enxoval e preparar o quarto para um menino é um desafio e tanto se você não quiser cobrir o seu bebê, da cabeça aos pés, de azul. No dia que ele nasceu, enquanto era anestesiada, ouvia os médicos discutindo e falando por mim sobre quais desenhos ele deveria assistir: "...ela vai ter um menino,  ele não vai assistir pequenas princesas..."

O Tomás é uma criança incrível. Às vezes fico observando o seu jeito de olhar o mundo e sinto aquele frio na barriga. Ele ainda não frequenta a escola. Não tem ideia ainda de como as coisas funcionam nesse lugar tão caótico em que vivemos. Ele ainda não sabe que, para algumas pessoas,  existe brincadeira de meninos e brincadeiras de meninas. Ele não se importa se não compramos um brinquedo que ele viu na vitrine, mas se empolga muito quando fazemos juntos seus próprios brinquedos. Ele se encanta com as pequenas coisas.

Em sua inocência não ele sabe que lá fora existe racismo e preconceitos infinitos. Ele simplesmente não sabe que o amor  entre duas pessoas às vezes não é aceito. Não sabe que a cor da pele de alguém poderá ter influência em alguma coisa.  Ele não dá a mínima se o amiguinho que brinca com ele é rico, pobre, branco, negro, se foi pra Disney ou se nunca saiu do bairro. Ele ainda não conhece a maldade humana. E eu sofro só de pensar que em breve, de alguma forma, ele irá conhecê-la.

O meu menino é uma criança feliz. Ainda vive sob a total proteção dos pais. Quando tinha dois anos ficou obcecado por máquinas de lavar. Mas ele não ouviu quando me disseram para levá-lo ao psicólogo por causa disso. Também não entendeu os fervorosos elogios quando a obsessão dele mudou para aviões. Estranhamente ninguém me mandou levá-lo ao psicólogo por isso, pelo contrário, ele agora é ovacionado porque será um brilhante piloto ou um engenheiro.

Ele não entende porque algumas pessoas pensam que ele é menina e continua pedindo para nós não cortarmos o cabelinho dele. Ele ainda não sabe que religião existe. Não sabe que algumas pessoas não deixarão seus filhos brincarem com ele quando descobrirem que o seu pai é ateu ou sua mãe kardecista. E tenho medo que ele descubra isso da pior forma: sendo proibido de fazer algo ou de brincar com algum amiguinho que ele goste simplesmente porque os pais pensarão diferente dos pais dele.

Às vezes, quando penso nisso tudo tenho vontade de segurá-lo aqui conosco. Queria não mandá-lo nunca para escola. Queria impedi-lo de conhecer esse outro mundo tão cedo, mas não posso fazer isso. Está cada dia mais complicado protegê-lo disso. Outro dia um garotinho quase da idade dele, no parque, zombou porque ele não sabe falar inglês. Ele sequer entendeu o que era aquilo e continuou brincando com aquele menino mesmo quando ele começou a jogar água suja na carinha dele. Meu coração fica aflito quando penso que toda essa pureza que ele carrega está perto de acabar.

Eu não posso evitar esse confronto. Eu sei que ele terá sempre o aconchego do nosso abraço e a paz do nosso lar, mas também sei que a responsabilidade de educar um menino é bem grande. Talvez maior que educar uma menina, com a Bia pareceu tão fácil. Ela andava de bicicleta e jogava futebol na escola, mas ninguém nunca me mandou levá-la no psicólogo por essa razão. 

Outro dia disse para minha sobrinha, que tem 21 anos e é uma garota incrível, que eu não preciso explicar para o Tomás um relacionamento gay, porque ele simplesmente está olhando como nós nos comportamos diante das coisas. Se é natural para nós, será natural para ele também. Ele está atento a tudo o que fazemos e falamos e muitas vezes vejo-o repetindo por ai palavra por palavra do que dissemos. A minha maior preocupção é deixar passar alguma coisa que carregamos, que estão intrínsecas na gente porque foi assim que aprendemos. 

Quando penso no enorme desafio de criar um homem bom na nossa realidade, eu sinto muito medo. Tenho me deparado com circunstâncias que estão completamente na contramão de tudo aquilo que desejo para ele. Espero que ele entenda o verdadeiro significado do respeito, que saiba que, por mais doido que seja lá fora, aqui em casa será diferente.  Que quando perguntarem se ele é uma menina, por causa do seu cabelo grande, ele não se sinta inferiorizado. Que ele compreenda que há algo errado com as pessoas que não aceitam as diferenças e não com ele. Que não há absolutamente nada errado em ajudar em casa, brincar com uma máquina de lavar e que rosa é apenas uma cor - e que ele pode gostar dela.

Fico apreensiva quando penso nessas coisas todas que ele ainda vai conhecer. Muitas vezes fico chateada com as coisas que eu ouço.  Mas, quando vejo o pai que escolhi para ele meu coração fica mais tranquilo, pois eu sei que não estou sozinha nesse imenso desafio. E o maior exemplo que o meu filho terá na vida é do homem maravilhoso que ele tem como pai.










quarta-feira, 21 de maio de 2014

Crianças francesas não fazem manha... será?


o livro

a leitura

um dia no parque com o pequeno...

garotinho mais lindo...

mais charmoso...

aiô silverrrr!

Sim, crianças francesas fazem manha!
Na hora de ir embora o brasileirinho não fez manha...
Já as amiguinhas francesas... deram show!

=)

sábado, 17 de maio de 2014

O livro e o bebê

Terminei ontem a leitura gostosa de "Crianças Francesas dia a dia"! Um manual com algumas regras francesas de educação dos filhos. É bem bacana e descomplicado. Tem dicas ótimas que dá para aplicar sem problemas.
Acho que o maior empecilho para criar brasileirinhos comportadíssimos como os francezinhos é o fato de não estarmos na França. É fácil ter um filho educado onde todas as crianças são educadas. Complicado mesmo é manter seu tutuco elegante quando todas as crianças ao redor estão fazendo o maior auê.
Sem neuras dá sim para ter uma criança comportada a maior parte do tempo, mas ao mesmo tempo feliz e com pais tranquilos e desencanados. Educar com o coração acho que ainda é a melhor regra.

Meu tutuco é um amor de bebê quando saímos e quando pousa para a foto da mamãe...

Se comporta super bem nos lugares. É sociável e mexe com as meninas na livraria...

Mas, não dá para ganhar todas...
Ele come tão bem quanto os francezinhos, mas não esperem um pequeno lorde com guardanapo no colo, comendo de boquinha fechada!

terça-feira, 19 de novembro de 2013

as coisinhas dele...

Gosto tanto de vê-lo concentrado brincando...
Esse encanto todo pelo mundo novo que se abre aos seus olhos!
Tudo nele é curiosidade, tudo nele são descobertas!
Gosto de ver as coisinhas dele fazendo parte da nova decoração da casa...
Amo tanto!

a biblio e videotequinha está crescendo...

tem amiguinhos por todo lado...

mas o queridinho da vez é o etêzinho...

e ele adora o woodstock...

e eu adoro o cheirinho dele!