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domingo, 11 de junho de 2023

Centelha de vida!

Eu tô viva!
E a cada instante eu tenho a noção exata do que isso significa.
Quando a gente recebe um diagnóstico de uma doença grave cruza uma fronteira que a gente nem sabia que existia: a consciência da nossa efemeridade.
Você está ali vivendo sua vida sem prestar atenção e de repente você entende que o tempo pode ser realmente muito curto.
Logo que peguei o resultado da biópsia eu pesquisava, o tempo todo, notícias de sobreviventes. E conheci histórias lindas de superação, de força e coragem. Mas, o que mais me chamou atenção nesses relatos era que 100% dos sobreviventes tinham algo em comum: eles haviam descoberto uma centelha de vida. Um significado grandioso para sua existência: SER FELIZ!
Naqueles primeiros dias eu ficava pensando: como alguém poderia descobrir essa tal felicidade passando por momentos tão difíceis?E foi ao longo do tratamento que eu fui compreendendo cada vez mais o segredo disso. Quando você entende, pra valer, que pode ter que ir embora a qualquer momento a vida começa ter outro sentido. Eu não sei exatamente quando essa transformação aconteceu comigo, mas quem vai sobrevivendo vai se nutrindo de uma vontade férrea de viver. De não perder mais tempo algum com pequenas coisas ou dissabores. O tempo tá passando e você já esteve à beira do abismo, sabe quão profundo ele pode ser.
Então você passa a se nutrir de vida. Enquanto há vida!
Eu sempre fui uma pessoa feliz, sempre gostei de viver e sempre gostei de quem eu sou. Ao menos eu achava isso. Mas agora, cada segundo tem um sabor especial, não desperdiço uma única oportunidade de ser feliz. E quanto mais eu me embriago nessa alegria de estar viva, mais vontade eu tenho de viver.
Hoje quando eu penso em todas as coisas incríveis que só me foi possível perceber e compreender a partir daquele diagnóstico eu quase fico feliz por ter passado por essa experiência.
É um divisor de águas: o antes e depois da descoberta de mim mesma. Isso só foi possível, para mim, passando por um período muito muito muito tenebroso.
Eu não sei explicar exatamente qual foi o momento em que eu encontrei essa centelha, essa coisa etérea que transformou tanto a minha existência, mas quando eu olho as pessoas à minha volta eu fico desejando tanto que todo mundo também tivesse encontrado isso.
O mundo seria tão menos competitivo e tão mais divertido.

sábado, 11 de março de 2023

Reconstrução Mamária - Final

Depoimento feito para o site da clínica do Dr. Washington, que fez a minha reconstrução mamária em 2021:

Me chamo Adriana e fui diagnosticada com câncer de mama em 2018. O meu tratamento iniciou com uma mastectomia radical da mama esquerda. Na época tive a opção de fazer a reconstrução imediata, mas optei pela reconstrução tardia. Preferi concentrar todas as minhas energias e atenção no processo de cura. Dessa forma tive a oportunidade, três anos e meio depois, de conhecer o Dr. Washington, que me apresentou exatamente a técnica que eu gostaria de fazer. Colocar uma prótese de silicone não estava nos meus planos e a reconstrução com o método DIEP foi a mais acertada. A reconstrução foi feita em duas etapas: na primeira foi feito uma abdominoplastia e a mama foi reconstruída com o retalho, ligando vasos sanguíneos e nervos. Na segunda etapa foi feito o ajuste das mamas, a reconstrução do mamilo - usando parte do mamilo direito, que foi enxertado na mama reconstruída. Também nessa etapa foi feito uma lipoenxertia que preencheu e moldou o colo. Meses depois fiz a micropigmentação da aureola e suavização da cicatriz. O resultado ficou surpreendente e muito natural.
Dr. Washington é um profissional muito competente, experiente e apaixonado pelo que faz. Me senti muito segura e acolhida em todas as fases do processo. Desde a primeira consulta foi extremamente atencioso e detalhista. Eu segui à risca todas as recomendações e tive um pós operatório bem tranquilo, muito tranquilo mesmo. Imaginava que seria um período bem chato, mas foi tudo muito mais fácil. Não senti dores incômodas e em três dias já estava dando alguns passos pela casa. Toda a minha experiência foi realmente muito boa. O meu sentimento é de muita gratidão e carinho por esse profissional incrível que devolveu um pedaço da minha vida que eu não imaginava mais recuperar. Hoje, passado um ano e meio depois dos ajustes, praticamente nem me lembro mais que passei três anos e meio sem o meu seio esquerdo. 

Uma imagem vale mais que as palavras, então deixo aqui algumas fotos das etapas:

                                            (quando retirei as ataduras na mastectomia radical - julho de 2018)


                                             (primeira etapa da reconstrução - abdominoplastia em junho de 2021)


  (segunda etapa da reconstrução - ajustes em outubro de 2021)

  
(terceira etapa da reconstrução -  micropigmentação)

fotos: acervo pessoal)
 

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Me livrei do câncer, e agora?


É outubro novamente e a cor rosa está, de novo, em todo canto. Eu não queria mais escrever sobre câncer. Eu só queria esquecer, se eu pudesse, que um dia eu tive câncer. Faz dez meses que não escrevo mais sobre isso. Mas hoje, eu quis falar sobre isso outra vez. Eu devo isso à você que, acabou de receber um diagnóstico de câncer de mama e, está totalmente apavorada e perdida -  como eu estive no começo de abril de 2018. É para você que eu preciso falar.

Nesse momento, se você resolveu abrir o jogo e contar para todo mundo como eu fiz, deve estar recebendo um monte de mensagens de apoio, de pessoas queridas dizendo que estarão ao seu lado e que você é: "guerreira", "forte", "determinada", "corajosa" e "vai tirar de letra". Mas, quando você está sozinha você chora, porque sabe que isso não é verdade. Por mais que seja bom ouvir essas mensagens de encorajamento você sabe que não é tão corajosa assim e que está sentindo o pior medo que já sentiu na sua vida. Que por mais que tenha uma rede de amigos, de familiares amorosos e pessoas que te apoiarão. Você nunca se sentiu tão só, tão absurdamente só, antes. Eu sei exatamente o que você está sentindo.

Há exatos 18 meses eu escrevia nesse mesmo blog um artigo chamado: "Estou com câncer, e agora?", se quiser ler basta clicar ai no título. E desde dezembro - quando terminei a parte mais pesada do tratamento não escrevi mais. Eu só queria esquecer que um dia eu tive câncer - como se isso fosse possível. Não é possível esquecer! Não tem como esquecer algo que está grudado em você e a cada vez que se despir aquela cicatriz imensa estará lá para te lembrar. Não tem como ser a mesma pessoa depois de um câncer, mas existe uma possibilidade muito grande de você se tornar alguém que se conhece bem. Eu não vim aqui trazer uma mensagem de desesperança para você. Ao contrário disso, eu estou aqui para te dizer que é possível sobreviver. Eu sobrevivi! Eu estou sobrevivendo dia após dia desde 16 de março de 2018.

Por mais aterrador que seja esse momento que você está passando. Acredite, quando te dizem que isso vai passar. É verdade! De uma forma ou de outra vai passar! Você não vai sofrer essa angústia terrível eternamente. Aos poucos você vai aprendendo a lidar com o diagnóstico e com cada etapa que virá. Por mais medo que você esteja sentindo agora, não deixe ele te paralisar. Corra! Corra desesperadamente atrás da sua cura, da sua chance de, como eu, sobreviver. Você não vai se tornar a pessoa mais corajosa do mundo, não espere por isso. Não espere se transformar numa heroína para ir. Vá! Vá com medo mesmo! Vá tremendo de medo, chorando de medo, apavorada de medo, mas por favor vá! Todos os dias eu agradeço por ter ido. Por ter corrido o mais rápido que eu pude. Foi o que me salvou.

Eu quero dizer pra você que nem a mastectomia, nem a quimioterapia é pior do que esse momento que você está vivendo HOJE. Descobrir um câncer, não saber a real extensão da coisa, não saber se está no início, no meio ou no fim é apavorante. Você deve estar pensando coisas horríveis. Imaginando que não estará aqui daqui um ano. Eu imaginei isso! Mas a verdade é que a gente não sabe absolutamente NADA sobre a doença, a não ser que passe por ela ou que esteja cuidando de alguém doente. 

Você deve estar com muito medo dos exames todos. Mas você precisa fazê-los. Nesse momento você vai descobrir que a gente é muito mais forte do que supõe. Que a gente é capaz de coisas que nunca imaginou. Que mesmo tremendo de medo você vai dar conta. Não tenha receio de chorar. Chore! Sofra! Sinta! Mas, por favor faça todos os exames que o médico te pedir. Eu sei que é um momento de muita angústia, meu estadiamento levou dois meses e mais vinte dias até o SUS autorizar minha cirurgia. Foram mais 15 dias esperando o resultado da biópsia final. Quatro meses sem dormir. Quatro meses olhando meu filho, de cinco anos, dormindo na caminha dele de madrugada e implorando por uma chance de vê-lo crescer.

Eu abri meus exames, todos! E sofri desgraçada e desnecessariamente por causa disso. Por favor peça ajuda, se não conseguir evitar, mas não faça isso. A gente abre os exames não entende porcaria nenhuma, corre pro google e ele vai te dizer que você está morrendo, mesmo que não esteja. Espere o parecer do seu médico, por mais ansiosa que esteja, espere o seu médico te dizer a real situação do seu caso. Ele não vai mentir pra você.

Não acredite que uma planta milagrosa vai curar você. Por favor, não abandone o seu tratamento convencional. Muitas vezes a planta que reagiu bem no organismo de uma pessoa, não vai funcionar para você. O que, comprovadamente, pode curar um câncer de mama é quimioterapia, radioterapia, cirurgia e tratamentos hormonais adjacentes. Fora isso é tudo especulação que as pessoas disseminam sem a menor responsabilidade. Por mais complicada que seja a sua situação, acredite, a medicina está bem avançada, em se tratando de câncer de mama, e é possível ter uma qualidade de vida mesmo em tratamentos paliativos. Nessa minha jornada, conheci pessoas que se tratam há 19 anos de metástases ósseas, vivendo relativamente muito bem. NÃO DESISTA!

Se afaste drasticamente, seja de quem for, que vier te contar casos terríveis de pessoas que sucumbiram à doença. De pessoas que de alguma forma te desencorajem. Algumas pessoas vão se revelar completamente cruéis ou sem noção alguma. Não permita que ninguém tire a esperança do seu coração. Não existe um tumor idêntico a outro. Cada um é único e reage de forma diferente em cada organismo, portanto não tem como comparar com ninguém. Já vi casos desoladores, no hospital, de me fazerem chorar, que a pessoa fez a cirurgia e o monstro não era tão terrível quanto se mostrava e a pessoa renasceu das cinzas. Já vi casos simples se complicarem também. Se concentre em si mesma e NÃO DESISTA! 

Aguente firme cada uma das etapas. Em algumas situações, mesmo que tenha alguém que te ama ao seu lado, existirão momentos, que você terá de enfrentar tudo sozinha. Por mais que estejam ao seu lado você terá que entrar sozinha naquelas máquinas de exames. É na sua veia que vão aplicar a medicação. Terão momentos em que você vai se sentir muito fraca, impotente, debilitada, quase sem forças, mas você vai passar por isso também! Quando você se olhar no espelho sem cabelos, com olheiras profundas, completamente frágil e insegura. Lembre-se: isso significa que o remédio está fazendo efeito. As pessoas se iludem muito com as aparências. No dia que eu descobri o câncer eu estava linda! Meus cabelos estavam do jeito que eu sempre quis ter. Meus seios estavam lindos - exuberantes. Minha pele saudável, sobrancelhas grossas - esse foi o momento em que estive mais doente. Nos dias em que estava mais debilitada, mutilada, cansada e destruída pela quimioterapia, eu me olhava no espelho e dizia a mim mesma: essa é a cara de uma pessoa livre do câncer. Nesses momentos eu ligava a música "Na estrada" da Marisa Monte, no último volume e cantava berrando junto, algo mais ou menos assim:

"Ela vai voltar, vai chegar! 
 E se demorar I´ll wait for you (eu esperarei por você)!
 Ela vem e ninguém mais bela, vem em minha direção!
 Seu horário nunca é cedo e quando escondo a minha olheira 
 É pra colher amor."

Doía muito me ver tão frágil, mas não tem como passar por um câncer sem algum tipo de dor. Eu chorava quando precisava chorar, sofria o que precisava sofrer, mas no dia e na hora marcada eu estava lá para enfrentar tudo e receber a minha cura.

Hoje, numa entrevista sobre o outubro rosa, para um jornal do Paraná, me perguntaram: "Quem é a Adriana depois do Câncer?" E eu respondi o seguinte:

Eu ainda estou no primeiro, de cinco anos, de tratamento. Em julho fez um ano que tirei a mama, o tumor foi completamente removido na cirurgia e não havia nenhum comprometimento por metástases. No dia 31 de outubro de 2019 faz um ano que terminei a minha última quimioterapia. Eu fiz uma quimioterapia adjacente, como prevenção. Comecei a tomar o tamoxifeno em dezembro. Há cerca de quinze dias fiz uma ooforectomia preventiva. Eu não tinha entrado na menopausa com o tamoxifeno e ainda estava com a produção hormonal muito alta, isso poderia ser ruim porque o tumor que tive foi causado por excesso de hormônios e eu precisava cessar a produção de estrógeno e progesterona. Depois disso tudo então eu hoje sou alguém em recuperação.

Uma pessoa se recuperando do trauma de ter tido um câncer. Se recuperando e aprendendo a conviver com as sequelas da mastectomia, da quimioterapia e da ooforectomia. Eu fiz apenas quatro ciclos da quimioterapia chamada "branca", mas as minhas doses eram altíssimas - normalmente se aplica 20ml, por eu estar forte e bem de saúde, tomei 80ml em cada sessão. Segundo a minha oncologista o meu organismo levará cerca de dois anos para se recuperar totalmente da quimioterapia. Falta um ano! 

A medicação tem efeitos colaterais como ansiedade e depressão. Além disso morei por oito meses longe do hospital onde me trato, dos amigos e familiares e isso me deu muita insegurança. Eu passei esse ano de 2019 muito deprimida, sem saber lidar com tantas informações e mudanças. Ainda não me reconheço no espelho. Às vezes me pergunto se aquela Adriana - do início de 2018 - vai voltar ou não. Eu ainda não sei. Talvez eu eu nunca mais deixe de sentir medo. Mas eu vou enfrentar cada um deles. Como enfrentei os últimos dez dias esperando o resultado da biópsia dos ovários. Como fiz, há dois meses, dirigindo sozinha, com o meu filhinho, de Porto Alegre até São Paulo para não perder meus exames e consultas.  Eu também estava apavorada no último dia 25 de setembro de 2019, quando entrei naquela sala de cirurgia para tirar os meus ovários, mas na hora marcada eu estava lá. 

Eu sou essa ai! Despeitada! Terei que encarar ainda pelo menos mais duas cirurgias plásticas, se quiser ter peito um dia de novo. Com uma cicatriz imensa que não me deixa esquecer que tive um câncer, mas que também me lembra que eu me livrei dele. Com os cabelos crescendo encaracolados pelas drogas da quimioterapia que ainda estão saindo do meu corpo. Uma mulher de 47 anos se refazendo dos efeitos da químio. Tendo que usar óculos porque a visão também foi afetada pelo tratamento, mas estou aqui... Me recuperando! E enquanto a vida permitir eu vou tentar ficar aqui por mais tempo. Tremendo, aterrorizada, morrendo de medo, mas farei o que for preciso pra ficar mais tempo com as pessoas que amo e criando meu filho ainda tão pequeno.


NOTA: Eu escrevi sobre a minha jornada em busca da cura, de abril à dezembro de 2018.
Basta clicar na TAG: Câncer.
E se você precisa ou se quer conversar sobre isso, mas não tem com quem falar. Me procure. Nos meus piores momentos o que mais me acalmou foi conversar com mulheres que estavam no meio ou no final do tratamento. Eu fui acolhida por essas elas, fui amparada e foram as únicas pessoas que realmente entendiam (e entendem até hoje) toda a complexidade do que estava/estou vivendo. Eu as chamo de amigas do peito. E eu quero muito fazer isso por outras mulheres também. Eu devo isso à você. 

Fotos: Acervo pessoal e Mulher Maravilha - divulgação (retirado do instagram da Fernanda Young)

Trilha sonora: Gunship - When you grow up your heart dies

domingo, 13 de janeiro de 2019

Ibira Mon Amour



Todo mundo, ainda que não saiba, tem o seu lugar preferido. O seu lugar preferido no mundo todo, como costumo dizer. O meu, sem a menor sombra de dúvidas, se chama Ibirapuera. Desde a primeira vez que visitei o parque, ainda criança, fiquei encantada com toda imensidão e beleza diante dos meus olhos.

Existe um momento na vida da gente em que, mesmo sem perceber, decidimos as coisas que serão sempre uma parte importante da nossa vida. Naquela tarde distante, no início dos anos 80, em que passei umas poucas horas correndo pelo parque, eu declarei que aquele era o meu canto favorito do mundo. Eu devia ter uns 12 anos. Logo depois fui embora para longe.

Anos mais tarde eu estava de volta. Vim à passeio, mas quando reencontrei o meu paraíso particular, eu já não podia mais viver sem ele. Voltei de vez! Voltei pra ficar (ao menos é isso que eu imagino). E não bastava mais morar na mesma cidade e frequentá-lo de vez em quando. Eu precisava vivê-lo, precisava respirá-lo e estar aqui sempre que quisesse. Há treze anos moro ao lado do parque, que chamo de meu quintal.

Quase todas as manhãs, quando o dia começa despontar, eu calço meu tênis e é lá que eu saúdo o meu novo dia. É para lá que corro sempre que acontece algo comigo. Qualquer coisa! É entre as suas generosas e frondosas árvores e o barulho dos pássaros que eu enxugo as minhas lágrimas, agradeço as felicidades, curo minhas dores e me sinto viva.

Foi para lá que eu corri imediatamente quando apareceu um nódulo no meu seio esquerdo, e eu nem sabia ainda o que era. Foi para o Ibirapuera que eu contei primeiro o meu maior temor naquele momento. 

Dias depois, já com o diagnóstico de "carcinoma ductal invasivo", eu corria novamente para o meu bosque. E olhando aquele verde intenso, a cor mais linda que já vi, eu chorei alto o meu choro mais dolorido, e em seguida decidi que queria continuar viva, que queria continuar levando meu filho todas as tardes para que ele continue crescendo nesse lugar. 

O Ibirinha, como carinhosamente Tomás e eu o chamamos, me acolheu, como sempre. Muitas vezes eu já entrei despedaçada, com o coração apertado, nas suas trilhas e enquanto corria ia me refazendo, me consertando, me remendando e curando.  Com o câncer não foi diferente.

Quando você recebe um diagnóstico complicado desses, é impossível não pensar na efemeridade da sua existência. Quando encarei de frente o fato de que não viverei eternamente e fiz o meu balanço interno, sendo o mais honesta possível comigo mesma, surpreendentemente descobri que poucas coisas ainda me prendem à esse mundo. Eu partiria com saudades de muitos amigos, familiares e pessoas queridas. Muitas mesmo, mas eu estaria pronta para dizer até logo a todos eles - porque eu realmente acredito em um até logo. Mas, não poderia ainda dizer isso ao meu marido e meus filhos. E quando pensei no que mais me faria falta nesse mundo, em todos os lugares onde já estive, onde fui feliz e gosto, de todos eles o único lugar que me fez chorar, por ter que deixá-lo, foi o Parque Ibirapuera. 

Desde que voltei morar em São Paulo e viver ao lado do parque, todos os grandes acontecimentos da minha vida passaram a ter uma relação direta com ele. Depois de sonhar tantos anos com o amor da minha vida, foi ali, no gramado do laguinho, que percebi o quanto estava apaixonada - pela pessoa mais incrível que eu já havia conhecido. Naquele dia eu realizei um desejo que guardava, há muito tempo, de ter um dia inteiro perfeito: com o céu azul sem nenhuma nuvem, a grama verde numa tarde quente. Foi olhando as carpas no jardim japonês, que há dez anos Diego me pediu em casamento. E foi lá, no Ibira, que eu disse o melhor e mais importante sim de toda a minha vida.

No mesmo lugar onde chorei a morte do meu avô e me curo da dor da sua ausência, cinco anos depois, nas mesmas trilhas, me mantive saudável, durante toda a gestação do Tomás.  O Parque foi o primeiro lugar onde eu levei o meu filho, recém nascido, para passear. Ele tinha apenas 15 dias. E ali ele mamou no meu seio, aprendeu a engatinhar, a caminhar, correr, andar de bicicleta e aprenderá a patinar em breve. É onde ele vive as suas aventuras e fantasias mais incríveis. Ele está crescendo tendo a floresta encantada como testemunha. Ele só tem cinco anos, mas já ama o parque tanto quanto eu.

Todas as tardes livres, em que eu pergunto ao Tomás o que ele quer fazer, a sua única e certeira resposta é: "eu quero ir no Ibirinha!". Isso me enche de orgulho e felicidade. O Ibirapuera não é apenas um lugar para nós. Ele é o nosso quintal. É onde o meu filho, apesar de morar em apartamento, numa cidade grande, pode correr livre, tomar banho de chuva, colher frutas no pé, subir em árvores, conhecer pássaros, ver animaizinhos e ter a mesma liberdade que eu tinha na minha infância vivendo numa cidadezinha com menos de dez mil habitantes. 

Tomás é uma das crianças mais felizes que eu já conheci. Tenho certeza que esse pedacinho de chão é o responsável por isso. Ele é dono das tardes mais perfeitas que uma criança poderia ter. Seja com amigos ou sozinho, ele sempre volta, sujo, cansado e intensamente feliz para casa. E eu sei que ele está criando as melhores lembranças que terá na vida.

O mais impressionante é que nós nos sentimentos completamente retribuídos nesse amor. Em cada sombra de árvore num dia quente, em cada brisa fresca que sopra do lago e em cada folha seca caída no chão.

Eu tenho o privilégio imenso de poder escrever e falar sobre isso na "Revista do Ibirapuera". Até isso consegui juntar: o meu lugar preferido no mundo com o que eu mais gosto de fazer nessa vida. Escrever. É uma troca intensa de amor. O Ibirapuera se tornou o meu lar e da minha família.

Eu não sei o que o futuro me reserva. Talvez eu precise, um dia, dizer até breve a este meu lugar tão querido. Mas certamente um pedaço grande do meu coração vai sentir muito. Vai doer demais esse "até logo!" Quando penso em quantas coisas já vivi nesse lugar e em quantas coisas ainda quero viver, uma vida inteira parece tão pouco. Eu quero envelhecer e continuar a caminhar ao lado do meu filho e marido por entre essas árvores e trilhas. Quero poder apresentá-lo a tanta gente ainda, continuar descobrindo coisas novas a cada dia e poder um dia ver meus netos redescobrindo tudo de novo. 

Enquanto eu me curava do câncer o Ibira também me curava e muitas outras coisas. Era onde eu me desesperava e me refazia. Era o único lugar onde eu me sentia à salvo nos piores dias. Era onde recobrava minhas forças durante a quimioterapia e recarregava as baterias para mais um ciclo.  Talvez eu não tivesse me restabelecido tão bem, a cada ciclo, sem esse oásis por perto. Eu ainda estou me recuperando da jornada. É por entre os seus caminhos que eu me silencio e escuto a minha voz interior, onde me encho de coragem e esperança para continuar.

Gratidão é tudo o que define o meu sentimento ao Ibirapuera nesse instante. E espero que todas as pessoas, que um dia estiverem à frente desse lugar, saibam que ele é muito mais que um lugar onde se pode lucrar. Ele simplesmente é a razão de viver de algumas pessoas. Então espero que cuidem bem, preservem-no e não o tratem como apenas mais um meio de se fazer dinheiro. O Ibira é o lugar onde quero estar por toda eternidade quando as minhas cinzas forem tudo o que restar de mim.
(Rua do "Arigatô" - Obrigado)









segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Na estrada

♪♫
Ela vai voltar, vai chegar
E SE DEMORAR, I´LL WAIT FOR YOU!!!
Ela vem, e ninguém mais bela
Baby, i wanna be yours tonight
Sem botão, no tempo
No topo, no chão
Em cada escada
A caminhada
A pé
De caminhão...
Seu horário nunca é cedo
Aonde estou?
E quando escondo
A minha olheira
É pra colher amor...
Sala, sem ela, tem janela
Inclino, em cerca de atenção
Ela vem, e ninguém
Mas ela vem
Em minha direção
Sala, sem ela tem
Janela inclino
Em cerca de atenção
ELA VEM E NINGUÉM MAIS BELA
VEM EM MINHA DIREÇÃO.
Sem botão, no tempo
No topo, no chão
Em cada escada
A caminhada
De caminhão...
Seu horário nunca é cedo
Aonde estou?
E QUANDO ESCONDO
A MINHA OLHEIRA
É pra colher amor...
Sala, sem ela, tem janela
Inclino, em cerca de atenção
Ela vem, e ninguém
Mas ela vem
Em minha direção
Sala, sem ela tem
Janela inclino
Em cerca de atenção
Ela vem, e ninguém
Mais bela vem
Em minha direção...
♪♫
na estrada - marisa

quarta-feira, 25 de abril de 2018

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Crianças francesas não fazem manha... será?


o livro

a leitura

um dia no parque com o pequeno...

garotinho mais lindo...

mais charmoso...

aiô silverrrr!

Sim, crianças francesas fazem manha!
Na hora de ir embora o brasileirinho não fez manha...
Já as amiguinhas francesas... deram show!

=)

terça-feira, 20 de maio de 2014

Fabiano


Nasceu quando eu tinha 6 anos, o conheci dias depois.
.
Minha mãe chegou com ele do hospital. Já era enorme e cabeludo!
.
Desde então somos irmãos e amigos.
.
Mesmo sendo mais novo, ele quem me protege hoje em dia!
.
Era baixinho e gordinho, hoje é grandão e magrelo!
.
Eu cuido dele e ele cuida de mim.
.
Já me deu dois sobrinhos lindos: Eduardo e Ana Clara!
.
É o meu único irmão menino!
.
Sinto saudades da nossa infância...

Sinto falta de tê-lo sempre por perto...

Sexta vou vê-lo por quatro dias! Ebaaaa!

Melhor irmão do mundo inteiro, melhor amigo... melhor abraço!

sábado, 17 de maio de 2014

O livro e o bebê

Terminei ontem a leitura gostosa de "Crianças Francesas dia a dia"! Um manual com algumas regras francesas de educação dos filhos. É bem bacana e descomplicado. Tem dicas ótimas que dá para aplicar sem problemas.
Acho que o maior empecilho para criar brasileirinhos comportadíssimos como os francezinhos é o fato de não estarmos na França. É fácil ter um filho educado onde todas as crianças são educadas. Complicado mesmo é manter seu tutuco elegante quando todas as crianças ao redor estão fazendo o maior auê.
Sem neuras dá sim para ter uma criança comportada a maior parte do tempo, mas ao mesmo tempo feliz e com pais tranquilos e desencanados. Educar com o coração acho que ainda é a melhor regra.

Meu tutuco é um amor de bebê quando saímos e quando pousa para a foto da mamãe...

Se comporta super bem nos lugares. É sociável e mexe com as meninas na livraria...

Mas, não dá para ganhar todas...
Ele come tão bem quanto os francezinhos, mas não esperem um pequeno lorde com guardanapo no colo, comendo de boquinha fechada!

Tempo tempo, mano velho...

Eu e meus irmãos...
O ano: 1980
Eu 8, a Joseane 6 e o Fabiano 2... a Jú ainda não havia sido encomendada pela cegonha.

 O ano: 2002
Eu já havia perdido a minha "loirice original", a Josy continuava igual e o baixinho gordinho cresceu mais que as duas. A Jú estava em algum lugar que desconheço.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

o que eu faço?


Penso / leio / estudo / rio / choro / canto / danço / corro / assisto / persisto / encaro / fujo / amo / sinto / desejo / espero / cuido / descuido / me apaixono / me iludo / pesquiso / me entrego / desisto / cozinho / lavo / passo / escrevo / aconselho / relaxo / me estresso / me liberto / oro / sonho / realizo / coleciono / corto / colo / penteio / despenteio / me poupo / me desgasto / me curo / me amo / me faço!

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Enquanto isso...

O que eu andei fazendo nesse tempo todo que sumi daqui?
Bem, dizem que uma imagem vale mais que mil palavras.
Isso é o que andei fazendo:

Cuidando do meu bebê recém nascido...

Cuidando dele quando ficou doentinho...

alguma pausa para recarregar as baterias...

investidas culinárias - bolo de laranja com creme...

indo ao parque com o meu bebê...

terminando aquele livro empacado...

guardando nossa história...

outra investida culinária - minha primeira cuca

aquela faxina sagrada - com fiscal e tudo!

fazendo o biquinho naquela toalha que tava esquecida...

tirando o RG dele e arquivando tudo...
mais uma investida na cozinha - goiabinhas

terminando aquele trilho que também tava empacado...

aprendendo a dar papinhas pra ele...

jogando fora tudo que não é mais de ficar...

lendo quando deu...

ficando pertinho dos meus amores...

passeando por ai...

fazendo meu primeiro pão...

minha primeira guacamole...

vendo meu amorzinho crescer...

amando MUITO!

Isso é boa parte do que andei fazendo!