É outubro novamente e a cor rosa está, de novo, em todo canto. Eu não queria mais escrever sobre câncer. Eu só queria esquecer, se eu pudesse, que um dia eu tive câncer. Faz dez meses que não escrevo mais sobre isso. Mas hoje, eu quis falar sobre isso outra vez. Eu devo isso à você que, acabou de receber um diagnóstico de câncer de mama e, está totalmente apavorada e perdida - como eu estive no começo de abril de 2018. É para você que eu preciso falar.
Nesse momento, se você resolveu abrir o jogo e contar para todo mundo como eu fiz, deve estar recebendo um monte de mensagens de apoio, de pessoas queridas dizendo que estarão ao seu lado e que você é: "guerreira", "forte", "determinada", "corajosa" e "vai tirar de letra". Mas, quando você está sozinha você chora, porque sabe que isso não é verdade. Por mais que seja bom ouvir essas mensagens de encorajamento você sabe que não é tão corajosa assim e que está sentindo o pior medo que já sentiu na sua vida. Que por mais que tenha uma rede de amigos, de familiares amorosos e pessoas que te apoiarão. Você nunca se sentiu tão só, tão absurdamente só, antes. Eu sei exatamente o que você está sentindo.
Há exatos 18 meses eu escrevia nesse mesmo blog um artigo chamado: "Estou com câncer, e agora?", se quiser ler basta clicar ai no título. E desde dezembro - quando terminei a parte mais pesada do tratamento não escrevi mais. Eu só queria esquecer que um dia eu tive câncer - como se isso fosse possível. Não é possível esquecer! Não tem como esquecer algo que está grudado em você e a cada vez que se despir aquela cicatriz imensa estará lá para te lembrar. Não tem como ser a mesma pessoa depois de um câncer, mas existe uma possibilidade muito grande de você se tornar alguém que se conhece bem. Eu não vim aqui trazer uma mensagem de desesperança para você. Ao contrário disso, eu estou aqui para te dizer que é possível sobreviver. Eu sobrevivi! Eu estou sobrevivendo dia após dia desde 16 de março de 2018.
Por mais aterrador que seja esse momento que você está passando. Acredite, quando te dizem que isso vai passar. É verdade! De uma forma ou de outra vai passar! Você não vai sofrer essa angústia terrível eternamente. Aos poucos você vai aprendendo a lidar com o diagnóstico e com cada etapa que virá. Por mais medo que você esteja sentindo agora, não deixe ele te paralisar. Corra! Corra desesperadamente atrás da sua cura, da sua chance de, como eu, sobreviver. Você não vai se tornar a pessoa mais corajosa do mundo, não espere por isso. Não espere se transformar numa heroína para ir. Vá! Vá com medo mesmo! Vá tremendo de medo, chorando de medo, apavorada de medo, mas por favor vá! Todos os dias eu agradeço por ter ido. Por ter corrido o mais rápido que eu pude. Foi o que me salvou.
Eu quero dizer pra você que nem a mastectomia, nem a quimioterapia é pior do que esse momento que você está vivendo HOJE. Descobrir um câncer, não saber a real extensão da coisa, não saber se está no início, no meio ou no fim é apavorante. Você deve estar pensando coisas horríveis. Imaginando que não estará aqui daqui um ano. Eu imaginei isso! Mas a verdade é que a gente não sabe absolutamente NADA sobre a doença, a não ser que passe por ela ou que esteja cuidando de alguém doente.
Você deve estar com muito medo dos exames todos. Mas você precisa fazê-los. Nesse momento você vai descobrir que a gente é muito mais forte do que supõe. Que a gente é capaz de coisas que nunca imaginou. Que mesmo tremendo de medo você vai dar conta. Não tenha receio de chorar. Chore! Sofra! Sinta! Mas, por favor faça todos os exames que o médico te pedir. Eu sei que é um momento de muita angústia, meu estadiamento levou dois meses e mais vinte dias até o SUS autorizar minha cirurgia. Foram mais 15 dias esperando o resultado da biópsia final. Quatro meses sem dormir. Quatro meses olhando meu filho, de cinco anos, dormindo na caminha dele de madrugada e implorando por uma chance de vê-lo crescer.
Eu abri meus exames, todos! E sofri desgraçada e desnecessariamente por causa disso. Por favor peça ajuda, se não conseguir evitar, mas não faça isso. A gente abre os exames não entende porcaria nenhuma, corre pro google e ele vai te dizer que você está morrendo, mesmo que não esteja. Espere o parecer do seu médico, por mais ansiosa que esteja, espere o seu médico te dizer a real situação do seu caso. Ele não vai mentir pra você.
Não acredite que uma planta milagrosa vai curar você. Por favor, não abandone o seu tratamento convencional. Muitas vezes a planta que reagiu bem no organismo de uma pessoa, não vai funcionar para você. O que, comprovadamente, pode curar um câncer de mama é quimioterapia, radioterapia, cirurgia e tratamentos hormonais adjacentes. Fora isso é tudo especulação que as pessoas disseminam sem a menor responsabilidade. Por mais complicada que seja a sua situação, acredite, a medicina está bem avançada, em se tratando de câncer de mama, e é possível ter uma qualidade de vida mesmo em tratamentos paliativos. Nessa minha jornada, conheci pessoas que se tratam há 19 anos de metástases ósseas, vivendo relativamente muito bem. NÃO DESISTA!
Se afaste drasticamente, seja de quem for, que vier te contar casos terríveis de pessoas que sucumbiram à doença. De pessoas que de alguma forma te desencorajem. Algumas pessoas vão se revelar completamente cruéis ou sem noção alguma. Não permita que ninguém tire a esperança do seu coração. Não existe um tumor idêntico a outro. Cada um é único e reage de forma diferente em cada organismo, portanto não tem como comparar com ninguém. Já vi casos desoladores, no hospital, de me fazerem chorar, que a pessoa fez a cirurgia e o monstro não era tão terrível quanto se mostrava e a pessoa renasceu das cinzas. Já vi casos simples se complicarem também. Se concentre em si mesma e NÃO DESISTA!
E se demorar I´ll wait for you (eu esperarei por você)!
Ela vem e ninguém mais bela, vem em minha direção!
É pra colher amor."
Doía muito me ver tão frágil, mas não tem como passar por um câncer sem algum tipo de dor. Eu chorava quando precisava chorar, sofria o que precisava sofrer, mas no dia e na hora marcada eu estava lá para enfrentar tudo e receber a minha cura.
Hoje, numa entrevista sobre o outubro rosa, para um jornal do Paraná, me perguntaram: "Quem é a Adriana depois do Câncer?" E eu respondi o seguinte:
Eu ainda estou no primeiro, de cinco anos, de tratamento. Em julho fez um ano que tirei a mama, o tumor foi completamente removido na cirurgia e não havia nenhum comprometimento por metástases. No dia 31 de outubro de 2019 faz um ano que terminei a minha última quimioterapia. Eu fiz uma quimioterapia adjacente, como prevenção. Comecei a tomar o tamoxifeno em dezembro. Há cerca de quinze dias fiz uma ooforectomia preventiva. Eu não tinha entrado na menopausa com o tamoxifeno e ainda estava com a produção hormonal muito alta, isso poderia ser ruim porque o tumor que tive foi causado por excesso de hormônios e eu precisava cessar a produção de estrógeno e progesterona. Depois disso tudo então eu hoje sou alguém em recuperação.
Uma pessoa se recuperando do trauma de ter tido um câncer. Se recuperando e aprendendo a conviver com as sequelas da mastectomia, da quimioterapia e da ooforectomia. Eu fiz apenas quatro ciclos da quimioterapia chamada "branca", mas as minhas doses eram altíssimas - normalmente se aplica 20ml, por eu estar forte e bem de saúde, tomei 80ml em cada sessão. Segundo a minha oncologista o meu organismo levará cerca de dois anos para se recuperar totalmente da quimioterapia. Falta um ano!
A medicação tem efeitos colaterais como ansiedade e depressão. Além disso morei por oito meses longe do hospital onde me trato, dos amigos e familiares e isso me deu muita insegurança. Eu passei esse ano de 2019 muito deprimida, sem saber lidar com tantas informações e mudanças. Ainda não me reconheço no espelho. Às vezes me pergunto se aquela Adriana - do início de 2018 - vai voltar ou não. Eu ainda não sei. Talvez eu eu nunca mais deixe de sentir medo. Mas eu vou enfrentar cada um deles. Como enfrentei os últimos dez dias esperando o resultado da biópsia dos ovários. Como fiz, há dois meses, dirigindo sozinha, com o meu filhinho, de Porto Alegre até São Paulo para não perder meus exames e consultas. Eu também estava apavorada no último dia 25 de setembro de 2019, quando entrei naquela sala de cirurgia para tirar os meus ovários, mas na hora marcada eu estava lá.
Eu sou essa ai! Despeitada! Terei que encarar ainda pelo menos mais duas cirurgias plásticas, se quiser ter peito um dia de novo. Com uma cicatriz imensa que não me deixa esquecer que tive um câncer, mas que também me lembra que eu me livrei dele. Com os cabelos crescendo encaracolados pelas drogas da quimioterapia que ainda estão saindo do meu corpo. Uma mulher de 47 anos se refazendo dos efeitos da químio. Tendo que usar óculos porque a visão também foi afetada pelo tratamento, mas estou aqui... Me recuperando! E enquanto a vida permitir eu vou tentar ficar aqui por mais tempo. Tremendo, aterrorizada, morrendo de medo, mas farei o que for preciso pra ficar mais tempo com as pessoas que amo e criando meu filho ainda tão pequeno.
NOTA: Eu escrevi sobre a minha jornada em busca da cura, de abril à dezembro de 2018.
Basta clicar na TAG: Câncer.
E se você precisa ou se quer conversar sobre isso, mas não tem com quem falar. Me procure. Nos meus piores momentos o que mais me acalmou foi conversar com mulheres que estavam no meio ou no final do tratamento. Eu fui acolhida por essas elas, fui amparada e foram as únicas pessoas que realmente entendiam (e entendem até hoje) toda a complexidade do que estava/estou vivendo. Eu as chamo de amigas do peito. E eu quero muito fazer isso por outras mulheres também. Eu devo isso à você.
Fotos: Acervo pessoal e Mulher Maravilha - divulgação (retirado do instagram da Fernanda Young)
Trilha sonora: Gunship - When you grow up your heart dies
Trilha sonora: Gunship - When you grow up your heart dies
Minha amiga iluminada, transparente e sem vitimismo. Mulher forte, minha mulher Maravilha, admirável e guerreira, te admiro pela superação, encorajando quem ainda está no começo dessa batalha, sabe o que amo mais? A sua força e simplicidade em encarar uma guerra tão difícil, te amo sorella mia <3
ResponderExcluiro seu amor é plenamente correspondido mia sorella!
ExcluirTe amo e te admiro muito! Tô longe, mas estou com vc! <3
ResponderExcluirObrigada lu! <3
ResponderExcluirMinha irmã. Amor, orgulho, respeito e admiração é o que sinto por você.
ResponderExcluirTe admiro cada dia mais!!! Vc é f***!😍😘😘😘😘😘
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirVitoriosa,que relato,que mulher forte,encorajadora,obrigada 🌹🙏💕
ResponderExcluirQue relato sofrido porém encorajador. Tudo que li é pura verdade, somente quem passa por essa situação ou tem alguém que ama vivenciando isso, sabe o quanto verdadeiro é... Parabéns pela mulher forte que é, espero daqui um tempo estar podendo relatar essa cura tbm. Deus te abençoe!
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