sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Longa Espera

Era um quintal cheio de sombras, cercado de balaustras.



As goiabeiras tinham goiabas brancas e vermelhas e as nêsperas tinham o gosto delicioso das lembranças.


Em todo quintal haviam frutas, folhas e cheiro de infância bem vivida.



Eu comia pão com mortadela e bebia tubaína com tampa de rolha e o mundo lá fora havia parado com a saudade.


Depois encontrei o meu avô, que me sorriu, não estava doente e nem havia morrido, Por isso ria e seus lábios e rosto de novo iluminados.



Caçava o que fazer para gastar sua alegria:


“Onde está o meu formão?

Minha vara de pescar?

Cadê meu binga, meus óculos e meu gibi?”

"Adélia e eu".


Eu também - como Adélia Prado - sempre sonho que nunca nada está morto.



O que parece morto espera…

O que parece vivo, também espera.

Adriana Mani - 04/04/2008





Meu avô e eu - 1975






Um dia ele acariciou demoradamente o meu rosto, me olhou da maneira mais terna e doce que jamais haviam me olhado e depois foi embora.

Partiu deixando o meu coração dilacerado de dor e a mente repleta de deliciosas recordações. Lembranças de tardes perfeitas, risadas, sonhos divididos e conselhos para uma vida inteira.
E eu simplesmente não consigo lhe dizer adeus.

Por mais que eu saiba que é preciso, ainda não consigo encerrar essa história e virar a página. Nunca foi segredo para ninguém da família a minha predileção pelo meu avô. Sempre fomos amigos, companheiros inseparáveis - mesmo quando distantes. Ele foi sempre quem mais me compreendeu. Objeto de todo meu afeto, respeito e gratidão.
Ao longo da nossa caminhada tivemos momentos de perfeita harmonia e confidências. Tínhamos o prazer da companhia um do outro.

E hoje, quando penso nesses momentos - em todas as coisas boas que ele me ensinou e nos exemplos que deixou - penso também que não posso guardar tudo apenas na minha memória, suscetível ao esquecimento. Seria um egoísmo muito grande de minha parte.
Nós vivemos uma linda história de amor.

Não posso e não quero esquecer alguém que - durante toda a sua existência - viveu de uma maneira tão bonita.

Ele era simples, trabalhador, honesto!

Um exemplo de dignidade e respeito.

Era humilde, mas não sabia disso.

Generoso, mas nem se dava conta da sua grandiosidade.

Foi um excelente educador, pessoa sábia e amiga, mas não tinha a menor vaidade.

Falar sobre ele, sobre o quanto eu o amo e sinto a sua falta, foi a forma que encontrei de mantê-lo vivo.

Eu simplesmente não posso dizer adeus à pessoa mais lindas que já conheci.

Tantas Saudades…
Domingos Mani - 04/04/1931 - 08/07/2007


(esse trecho acabou se tornando prefácio do meu livro: Meu Avô e Eu - Editora Multifoco em 2010).

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