sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Uma oração! Isso é uma oração!

Hoje eu não posso ficar chateada com absolutamente coisa alguma. Nada do que possam me fazer vai me tirar a paz e a felicidade intensa que tenho sentido nos últimos meses. Eu sei que o futuro me reserva boas coisas, coisas tão maravilhosas e surpreendentes que nada do que acontece a minha volta pode me atingir.

E não tem explicação, só quem a conquistou poderá entender o que é a felicidade intensa de quem sabe que encontrou o seu caminho. Que entende o seu destino e sabe que tudo o que acontece colabora de alguma forma para o seu crescimento.

Nada de ruim que tentarem me fazer hoje poderá mudar isso. Porque o que eu tenho de bom, está num lugar inacessível, inatingível. Tenho coisas boas dentro de mim que me dão toda sustentação necessária para suportar qualquer coisa que possam me fazer e nada vai me destruir.

Podem ferir o meu corpo, podem ferir o meu orgulho e a minha vaidade, podem atrasar um pouco os meus planos, mas nada, nada do que possam me fazer vai tirar a alegria de quem, como eu, sabe que existe algo perfeito esperando por si num futuro próximo. Algo que vai durar por toda eternidade e então os pequenos percalços da vida não são mais que poeira na estrada…

Quando penso no bem supremo que me aguarda, eu sei que posso suportar qualquer humilhação, qualquer provocação e qualquer maldade. Eu posso suportar qualquer coisa, porque eu sei que não estou só. E quando penso na efemeridade das coisas desse mundo e que no fim eu vou ser vitoriosa na minha luta interior, eu vou continuar sendo feliz e haja o que houver eu vou estar bem.

O meu amor, os meus bons sentimentos me salvam de qualquer tormento. O Amor é o que cobre uma multidão de erros, o amor liberta, transforma as pessoas e as fazem melhores. E eu amo a vida, amo as pessoas e amo o que eu tenho com todo o meu ser. Quando alguém tenta te ferir de alguma forma é uma ótima oportunidade de você exercer a sua generosidade e a sua caridade em forma de perdão. Porque elas nada mais são que irmãos imperfeitos, que ainda não descobriram o sentido da vida ou que estamos aqui apenas por um curto espaço de tempo tentando aprender a ser melhores e quando elas acham que estão lhe causando um mal, na verdade estão sendo apenas um desafio que você precisa vencer e passar para um estágio mais avançado e feliz de sua existência. Então eu preciso apenas agradecê-las.

Nada, do que acontecer hoje vai me fazer ficar chateada porque o que eu tenho de melhor, de bom, de belo e de mais precioso está num lugar que nunca vão conseguir alcançar. O meu Espírito! Podem fazer qualquer coisa com o meu corpo e minha vaidade, mas nada vai machucar o meu Espírito.

28/08/2009.

Uma incrível jornada!

Quando você decide fazer uma jornada, não imagina o que vai encontrar e o quanto vai estar diferente no final da experiência. Quando você decide ir em busca de si mesma, com certeza vai acabar encontrando muito mais do que imaginou. Em julho de 2009 eu decidi voltar ao lugar onde nasci para rever pessoas e a casa onde cresci. Também queria reencontrar o meu pai biológico, depois de vinte e cinco anos, e entender o porquê de tantos desencontros.
Nessa tarde, enquanto postava “Para que Servem as Bonecas?” e falava com o Diego, decidi que já era hora de enfrentar os meus medos e ir  resgatar o meu passado. Eu estava morrendo de medo disso, mas quando o Diego disse: “Eu vou com você!”, eu me senti a pessoa mais corajosa desse mundo e fui. Eu, evidentemente, sabia que seria muito bom rever minha casa, meus tios, minha escola e o lugar onde passei a infância e também aproveitaria para confirmar, com o meu tio João, algumas histórias do meu avô para o livro e ouvir, o que quer que fosse, que meu pai tinha para me dizer. Quando finalmente tive a oportunidade de ouvi-lo, compreendi n,uma única conversa, que a vida sempre segue o curso certo, que tudo que nos ocorre é exatamente o que deve acontecer e que tudo está perfeitamente em sintonia. E eu me senti profundamente agradecida pelo meu pai ter permitido que o meu avô cuidasse de mim e que eu fosse criada pelo pai mais maravilhoso que alguém poderia ter tido. Eu o perdoei, de verdade, por ele ter ido embora e ficado longe de mim todos esses anos.

Depois disso, reencontrei o meu tio João, de quase noventa anos, o único irmão do meu avô que ainda vive. E eu jamais conseguiria descrever a doçura desse reencontro depois de tantos anos. A felicidade indescritível do seu abraço, da minha querida tia Emília e da minha prima Nair, que aos sessenta e nove anos ainda é a mesma criança inocente de seis anos que brincava de bonecas comigo. E eu me senti novamente em casa, protegida, amada e de volta ao lugar mais seguro que já conheci. Ouvir as expressões e frases tão familiares, os gestos e todo o jeito italiano da família do meu avô deram-me forças e coragem para continuar minha caminhada. Eu percebi o quanto fui abençoada por ter sido criada em meio a tanta delicadeza e generosidade.

Quando voltei a casa onde, entre idas e vindas, vivi dos três aos quatorze anos, me senti incrivelmente parte. Entrar de novo naquela casa, onde tudo permanece igual, depois de vinte e três anos, foi uma das coisas mais emocionantes que já vivi. A impressão que tive é a de que ninguém ousou tocar em nada naquela casa que o meu avô construiu com as próprias mãos para morarmos. A casa está bastante deteriorada, até a tinta ainda é a mesma de 1987. O jardim, as árvores e plantas da minha avó não existem mais, porém ninguém tocou em nada do que o meu avô fez. Eu senti que toda a energia da nossa história, toda energia da nossa vida naquela casa, ainda está lá e isso me emocionou muito. Eu senti um desejo imenso de comprá-la novamente. Quem sabe um dia.

Em seguida fui até a minha antiga escola. O tempo também pareceu ter parado por lá. Embora muito bem conservada, ela tem ainda as mesmas cores, o mesmo pátio e salas. Tudo me pareceu intocado por lá também e mesmo com todo o silêncio de agora, da época de férias, a algazarra da minha infância estava muito nítida dentro de mim. Estar de volta ao lugar onde aprendi a ler, me fez perceber o quanto carreguei comigo desse universo, o quanto eu ainda faço parte de tudo aquilo e que na verdade eu sempre estive lá, sendo influenciada por tudo aquilo. Na verdade, não importa onde eu esteja, onde quer que eu vá, eu ainda estarei lá.

No caminho de volta encontrei uma grande amiga da minha família, alguém que esteve presente em todos os meus momentos e me viu crescer. E em apenas quinze minutos de conversa, ela me fez compreender anos de um pedaço da minha história que eu nunca imaginei que poderia resolver nessa viagem e então eu senti um desejo imenso de abraçar de novo a minha tia, de passar pelo menos algumas horas com ela e lhe dizer o quanto eu a amo.

Quando me despedi dos meus velhos tios, da minha tia e das minhas primas eu me senti de novo sendo parte de algo muito importante. Senti-me em paz com a minha história e completamente feliz, entregue… Deixei-me sentir todas as emoções e fui embora agradecida por tudo que vivi.

No caminho de volta para casa, passei muitas horas falando com o Diego, ele me ajudou a entender, de maneira tão doce, tudo aquilo que eu tinha acabado de viver. Foi então que eu entendi a razão dele estar ali comigo, tão à vontade vivendo algo tão íntimo da minha história e me ajudando a me reencontrar.

Eu sei que esse é o maior egoísmo que alguém poderia ter, mas eu sempre desejei ter um amigo, um amigo leal e verdadeiro, que me entendesse sem muitas palavras ou que tivesse a mesma paciência do meu avô para me ouvir por horas sem me julgar, sem me questionar e principalmente sem se cansar de mim. Sempre desejei ter alguém que aceitasse, sem hesitar, sair pelo mundo comigo explorando a vida. Mas eu já tinha desistido de encontrá-lo. Achava que tudo aquilo que eu queria era impossível existir, que os meus sonhos eram egoístas e pretensiosos demais, que a companhia do meu avô, havia sido a minha única oportunidade de ter alguém ao meu lado que me compreendesse e me aceitasse exatamente como sou. Então eu desisti.

Até então, o meu avô tinha sido a única pessoa a me aceitar sem querer me transformar em outra pessoa. Eu sei que sou amada por outras pessoas, pessoas que eu amo muito também e eu seria extremamente injusta com elas se não dissesse isso. Mas o que eu tinha com o meu avô era perfeito. Não havia nenhum medo de rejeição ou de causar mágoas. Eu sabia que nunca poderia magoá-lo, porque ele me conhecia de verdade e me amava apesar das minhas imperfeições, dos meus defeitos e dificuldades. Quando ele se foi, passei dois anos me sentindo muito só, sem ter com quem falar das minhas coisas, com quem ficar ao lado por horas sem dizer uma palavra sequer ou que pudesse falar exageradamente sem que me mandassem calar a boca. Ele era o único que realmente gostava de me ouvir, mesmo quando eu passava horas falando sem parar.

Eu tenho pessoas queridas que me amam e são capazes de entender parte do que eu sou. Pessoas que são maravilhosas comigo e que eu espero correspondê-las sempre, mas foi no final da minha jornada que eu percebi que ganhei muito mais do que eu havia ido buscar. Quando o Diego estava comigo, tive a certeza de que não estava mais sozinha sem ter alguém para dividir meus sonhos, meus planos e minhas descobertas. Então eu encontrei o amor da minha vida. Eu o reconheci. Eu o teria reconhecido entre milhões de pessoas e eu não tenho como descrever a felicidade de tê-lo reencontrado, porque sei que já o conhecia de outras existências e que esse foi apenas um reencontro e eu não quero nunca mais perdê-lo de vista.

Diego e eu

24/08/2009

Eu estava me apaixonando pelo Diego...

Eu não sei se você leu, ou um dia lerá as cartas que Khalil Gibran escreveu durante anos à Mary Haskell, talvez você as leia um dia e até mesmo diga que me tornei a maior plagiadora que já existiu nesse mundo, mas eu realmente poderia ter escrito para você todas aquelas cartas que ele escreveu para ela.

Elas se encaixam perfeitamente nas coisas que em algum momento eu gostaria de ter dito, ou que até lhe disse em outras palavras.

Eu poderia ter dito, por exemplo, que fui tocada pela tua presença desde a primeira vez que o vi e que na medida em que conversávamos, o seu jeito suave me fez falar de mim mesma e arrancou o que havia de mais profundo em mim, sentimentos que nunca havia antes compartilhado com qualquer outra pessoa. Isso foi ótimo e continua sendo.

Eu também escreveria que nos tornamos amigos para sempre!
Exatamente como Khalil, eu lhe diria que viajar ao lado da sua imagem e ternura me fez em vez de reparar nas cidades, estudar a mim mesma enquanto conversava contigo...
Que reconheci a paixão do primeiro encontro e que sei que ela vai permanecer para sempre, pois eu o amarei por toda eternidade, como já o amava muito antes de vê-lo pela primeira vez.

Não sinto culpa por me apossar das palavras de Khalil, porque exatamente como ele disse a Mary, eu também digo a você que eu sei que nada poderá nos afastar, pois nem eu e nem você podemos mudar essa relação. Eu quero que você se lembre pelo resto dos seus dias que você é hoje a pessoa mais importante do meu mundo, pois você ajudou-me a descobrir a mim mesma e agradeço aos céus por ter te encontrado.

Como Khalil, eu também perdi o meu pai e tenho certeza que ele está bem, mas também não consigo evitar a tristeza e a dor da sua ausência. Também me pergunto se um dia irei reencontrá-lo. Eu também teria te escrito dizendo o quanto sofro de saudades do meu ente querido e lhe diria que você tem sido o meu único consolo embora esteja tão longe.
Teria te contado que quando eu caminho você está perto, que quando trabalho, você conversa comigo e, quando me sento sozinha para comer, sua presença surge ao meu lado e então eu sei que não há distância entre aqueles que se amam.

Eu poderia perfeitamente ter escrito para você dizendo que nunca vou para a cama sem antes lhe dizer boa noite em meus pensamentos e que tento transformar toda essa energia desse sentimento puro em algo bom para mim, para você, e todas as pessoas que nós amamos.
Diria que também acredito que o maior desejo do meu coração é revelar-se totalmente e ser compreendido por ti, pois todas as pessoas do mundo querem mesmo ser desvendadas e compreendidas por pelo menos uma pessoa.
Diria a você que ninguém pode conviver sozinho com a beleza que é capaz de perceber e que eu e você buscamos o absoluto, que estamos construindo um jardim usando a nossa solidão.

Em novembro de 1911, Khalil escreveu à Mary dizendo da felicidade indescritível que ele estava sentindo porque ela iria visitá-lo no próximo mês. Isso é exatamente o que estou sentindo hoje em relação à sua visita. Eu poderia ter te escrito exatamente o que ele escreveu, teria usado as mesmas palavras: "...talvez essa distância que somos obrigados a aceitar seja um benefício, pois coisas assim tão grandes só podem ser vistas de uma certa distância."

Meu anjo, eu poderia roubar todas as frases, palavra por palavra de tudo o que Khalil escreveu e diria que ninguém sabe qual a fronteira entre a dor (da distância) e o prazer (da existência) e que muitas vezes, como ele, eu penso que é impossível separar essas duas coisas: que eu também não posso planejar nada importante, porque isso transformaria tudo em pequenas coisas.
Que apenas parte de mim vive hoje aqui e a outra parte vive a vagar em busca da sua presença, que você nem precisaria dizer nada, nem mesmo sorrir, pois apenas estar ao seu lado já me faria completa. Diria que é preciso tocar a alma para conseguir compreender sentimentos tão intensos. E eu reconheço que sou exagerada, não sei sentir nada de forma simples e equilibrada.

A felicidade, a amizade, o amor, a fé ou até mesmo a dor quando me vem toma conta de todo o meu ser e eu me entrego completamente a esses sentimentos.
E só alguém como você seria capaz de compreender isso tudo, sem ver maldade ou loucura no que sinto.
08/2009

Ligia e o Cigarro

O problema da minha amiga Ligia é que ela fuma. Ela deve ter outros defeitos que talvez eu nunca vá reparar, mas ela fuma e isso às vezes ferra tudo. Quando nós saímos juntas pelas ruas de São Paulo, em todo canto que se olha tem um placa dizendo que não se pode mais fumar ali, o que eu particularmente acho ótimo, até mudaria os dizeres da placa para “Proibido Fumar Neste Planeta”, mas a Lígia fica atormentadíssima com essas placas e isso faz com que ela tenha ainda mais vontade de fumar. Mas não é sobre a nova lei anti-fumo que eu quero falar.

O que atrapalha a vida da minha amiga Ligia é que no melhor da conversa ela tem que sair correndo, desesperada, porque o corpo dela está pedindo mais nicotina. E então ela some. E deixa lá na mensagem da internet um recado dizendo: “Fui fumar!”. Justo quando eu ia perguntar para ela se eu estou ficando doida por pensar as coisas que eu ando pensando.

Justo quando eu ia reclamar para ela que hoje acordei às seis da manhã ou quando eu ia dizer a ela que ela nunca mais deveria falar com alguém que ache a casa dela muito longe. A casa de ninguém que a gente ama é longe. E alguém que nos ama de verdade não deixa a gente falando sozinho na internet, a não ser que tenha ido, correndo desesperadamente, fumar.

O melhor da minha amiga Ligia é que depois de fumar ela sempre volta correndo e consegue responder a tempo todas as minhas perguntas. E ela sempre ri das idiotices que eu escrevo, como por exemplo, que eu detesto qualquer pessoa que arruma muitas desculpas (esfarrapadas) dizendo que não pode encontrar a minha amiga porque ela mora longe.

A minha amiga Ligia é uma das pessoas mais lindas que eu conheço e ela merece que a única resposta para um chamado dela seja: “Tô indo!”. Porque é isso que ela vai te responder quando você chamá-la, a não ser que ela esteja em algum lugar aberto fumando. E ela vai fumar correndo, vai quase se matar subindo escadas ou empurrando pessoas no elevador para conseguir chegar a tempo de te responder.

A confusão é que enquanto minha amiga Ligia sai para fumar, às vezes dá tempo das pessoas resolverem outras coisas sobre sua vida. Dá tempo, por exemplo, de alguém com quem ela esteja falando conversar com outras mil pessoas, e é ai que a coisa fica ruim para ela.

Porque pessoas que não fumam acabam sendo mais rápidas nas respostas. Elas conseguem nesses minutos em que a Ligia está fumando ter respostas mais afinadas e convenientes.

É uma pena alguém não esperá-la acabar seu cigarro, porque a Ligia é a pessoa mais legal desse mundo. Com aquele ar de Courtney Love dela, com seu batonzinho vermelho ouvindo David Bowie sem parar, não tem como qualquer cara, em sã consciência, não se apaixonar por ela. Eu me apaixonei por ela. Quero falar com ela o tempo todo, mesmo tendo que esperá-la terminar seu cigarro algumas vezes por dia.

E acho que as pessoas deviam ter mais paciência e esperar a Lígia acabar o cigarro dela. Porque enquanto ela fuma, ela pensa nas melhores respostas para qualquer pergunta. Enquanto ela fuma lentamente seu cigarro, junto com o a fumaça fétida que encharca o pulmão dela, ela consegue encher o coração de amor ao mesmo tempo.

É por essa razão que eu aturo o cigarro da Ligia. Por pior que seja o vício dela, ela fica melhor a cada dia.

12/08/2009.

Eu devia tê-la fotografado!

Eu adoro quando tenho um desses rompantes e tomo decisões completamente intempestivas. No dia 29 de julho de 2009 tomei uma delas: resolvi às 14h que às 19h embarcaria para o Paraná. E decidi isso segundos depois de perguntar para o Diego, meu namorado, se ele topava viajar comigo e, sem hesitar, ele respondeu: “Eu vou!”. Eu não podia recuar… Então fui! Mas antes corri muito para fazer as malas, pegar três metrôs lotados, comprar a passagem e conhecer a Luana.

- Conhecer a Luana?

Sim. Enquanto esperava meu ônibus encostar à plataforma, eu conheci a Luana, de nove anos, que estava com o olhar mais triste desse mundo parada atrás de mim na fila do pão de queijo. Ela olhou curiosa para a foto do Michael Jackson na minha camiseta, como que perguntando “Quem é esse de sorriso tão lindo?” Eu sorri para ela, mas ela não retribuiu o sorriso. Eu insisti e dois segundos depois ela me perguntou para onde eu estava indo. Ela disse que estava indo morar com o pai e a madrasta e que estava triste porque não queria se mudar de São Paulo, deixando o tio e os primos. Então eu lhe disse que ela poderia voltar um dia, se quisesse.

Ela agora estava disposta a conversar, mas sua tia a chamou antes que ela pudesse me responder qualquer coisa. Provavelmente ela não devia estar conversando com estranhos. Paguei meu pão de queijo (que a essas alturas nem me interessava mais) e não me dei por vencida. Escrevi meu endereço no papel do pão de queijo e entreguei a ela com uma nota de dois reais. Então disse para a tia dela: “Ajude-a a me escrever uma carta quando ela chegar, eu quero muito saber como ela foi de viagem, pois agora somos amigas".

E ela se foi… Quando o ônibus dela saiu, eu me dei conta de que a minha máquina fotográfica estava na bolsa. Eu devia tê-la fotografado… Espero que ela me escreva um dia.

11/08/2009

Mas ela nunca me escreveu...
(ao menos até hoje: 04/09/2018)

Para que servem as bonecas?


Quando nascem as nossas filhas, antes mesmo delas comerem sua primeira alimentação sólida já lhes damos “filhos” para elas cuidarem, mas negamos isso aos nossos filhos homens. Tem sido assim há muito tempo, com raras exceções. E por que negamos isso a eles? Por que lhes negamos o direito de aprender a ser pessoas mais sensíveis, mais amorosas? Por que lhes negamos o direito de aprenderem a amar os filhos que um dia poderão ter?


Quando dissemos aos nossos meninos coisas como: “menino não brinca com bonecas”, “menino não brinca de casinha”, “menino não chora”, “menino não dança assim”… desgraçadamente estamos dizendo a eles para continuarem a ser uma geração insensível, uma geração que nao consegue sequer conceber a possibilidade de um homem ter uma enorme sensibilidade, generosidade e pureza de sentimentos tão conflitantes com a nossa realidade que só podemos olhar para esse homem e achá-lo completamente bizarro, excêntrico e totalmente fora dos padrões…

Estamos desgraçadamente dizendo a nossos meninos e meninas que a pureza de sentimentos não existe mais, que qualquer adulto que se aproximar de uma criança é uma pessoa perversa, porque nós simplesmente nao acreditamos mais na possibilidade de existir um homem adulto que realmente queira apenas brincar de fantasias inocentes com uma criança.

Quando dissemos aos nossos meninos que eles não devem brincar com bonecas, estamos desgraçadamente matando a inocência e a pureza que há nesse pequeno ser. Porque ele simplesmente não pensa nas coisas profanas que nós adultos pensamos. Eles não vêem o mundo da mesma forma que vemos. Quando um menino de três anos pega a roupa da mãe para brincar, por exemplo, ele não está pensando em se tornar uma ‘drag queen’ quando crescer… Ele simplesmente está pensando: “estou me divertindo muito hoje…”

São as nossas perversões e maldades que nos fazem dizer a esse garotinho que ele está errado em entrar no quarto da amiguinha, também criança, e ambos fazerem a maior bagunça com as fantasias  de carnaval que ela tem guardada numa caixa… Quando esse garotinho decide brincar de casinha ou bonecas com a irmã... Eles simplesmente não estao pensando que são homens ou mulheres fazendo coisas que homens e mulheres não deviam fazer, eles simplesmente estão sendo crianças inocentes fantasiando qualquer coisa no seu mundinho e somos nós quem poluímos isso… somos nós que apresentamos um mundo perverso a eles.

E eu não quero mais ter que assistir a um garotinho inocente e tão pequeno levar bronca da mãe, porque ele estava fazendo a coisa mais errada do mundo ao pegar uma boneca e brincar com sua amiguinha…

E eu não quero mais ver o olhar tão confuso desse garotinho, sem saber a razão pela qual foi arrancado da sua brincadeira e arrastado daquela "casinha" porque estava fazendo algo que ele nem sabia que era errado.

Eu não quero mais ver esse garotinho chorando tão dolorosamente, sem entender o que aconteceu.

Eu apenas queria dizer a ele que ele não fez absolutamente nada de errado, ele simplesmente está sendo arrancado da sua inocência e estão apresentando a ele um mundo cheio de inversões de valores.

Mas eu fiquei calada, não podia interferir na educação de um filho que não era meu, e apenas chorei com ele, sem poder lhe dizer o tamanho da minha indignação, sem poder lhe explicar a insanidade do nosso mundo…

Mas eu não quero mais ver nenhum outro garotinho tão confuso e triste.

E eu não vou mais me calar, eu vou dizer aos garotos: Vão… vão lá!
Brinquem… brinquem do que quiserem e por favor não abandonem tão cedo as suas bonecas!
Por favor não se tornem péssimos pais!

29/07/2009.

50 - coisas sobre mim

1- Eu achava, aos seis anos, que existia um “pé de bife”, e depois de colher a carne as pessoas penduravam os bifes no açougue;
2- Eu já enterrei a chave do carro do meu avô no quintal e tiveram que chamar o chaveiro…
3- Muitos anos depois, meu tio plantando umas coisas no jardim desenterrou a chave toda enferrujada;
4- Eu não gosto de tomar água;
5- Já escondi minha bolsa de um assaltante e ele nem viu;
6- Eu compro um monte de livros e não leio;
7- Adoro frio e chuva;
8- Quero ter uma banheira branca antiga para encher de bolhinhas de sabão;
9- Eu descasco o esmalte da unha depois de dois dias;
10- Queria ser arquiteta;
11- Me lembro com detalhes da minha festa de três anos;
12- Meu lugar preferido é o Pavilhão Japonês no Parque do Ibirapuera, de tarde no meio da semana;
13- Eu não gosto de cerveja, prefiro pina colada;
14- Eu adoro fazer faxina;
15- Tenho pavor de cigarro;
16- Quando tinha 4 anos achava que ladrão tinha rabo e chifre;
17- Já menti para o padre no confessionário;
18- Eu ja disse para o meu tio que ele não podia entrar em casa porque estavam arrumando a festa surpresa dele e ele sumiu por 3 dias e tiveram que fazer a festa sem ele;
19- Toda vez que olho a lua eu me lembro de uma noite em 1978 com o meu avô;
20- Já tive um dia de sonhos feliz como nunca;
21- Sempre penso que meu futuro será ainda melhor;
22- Eu queria ser mais delicada e tranquila;
23- Eu quero viajar o mundo todo;
24- Eu acredito em reencarnação e vida após a morte;
25- Quero uma casa com jardim, fogão à lenha e cadeira de balanço;
26- Estou tentando ser vegetariana;
27- Tenho medo de sapo;
28- Eu estou superando a morte do meu avô;
29- Eu tenho dez irmãos, sete deles acabei de encontrar pelo orkut e ainda não os conheço pessoalmente;
30- Eu vi o cometa Halley quando tinha 14 anos;
31- Eu não sei assoviar;
32- Eu escrevi um livro;
33- Estão sempre me mandando calar a boca… menos uma pessoa;
34- E eu adoro falar, sempre tenho coisas para dizer;
35- Eu tenho feito bem mais as coisas que eu gosto;
36- Resolvi ter um jardim mesmo morando em apartamento…
37- No meu “jardim” já tem 19 suculentas, um fícus, duas que não sei o nome e um pé de primaveras, agora estou com medo dele crescer muito e interditar a sacada;
38- Eu tenho um monte de canetas coloridas, papéis e cartões;
39- Eu amo perfumes;
40- Adoro cores;
41- Detesto falar de religião;
42- Eu não tenho um time de futebol favorito;
43- Não gosto de futebol, de samba, de feijoada, de carnaval e nem de caipirinha, será que sou brasileira?
44- Eu tenho crise de espirros e isso me irrita muito;
45- Eu nunca repeti o ano na escola;
46- Eu amo gatos, tenho duas super sapequinhas;
47- Eu já me arrependi de muitas coisas, mas já me perdoei por elas;
48- Eu sempre perdôo as ofensas se a pessoa me sorri ou fala comigo;
49-Eu detesto gente racista e preconceituosa;
50- E eu estou tentando de verdade me tornar uma pessoa melhor.

Dez...

Coisas que eu gostaria que estivessem acontecendo agora mesmo:

1. Que eu já estivesse morando na casa que vou morar, perto do parque, com um jardim tão lindo, uma banheira branca antiga, talvez um fogão à lenha, uma rede na varanda e uma mesinha branca no jardim para os meus chás da tarde e café da manhã nos dias de primavera;

2. Que o meu livro já estivesse publicado; (publicado em julho de 2011)

3. Que a minha passagem para uns dias de descanso na Provence e Toscana já estivesse comprada e faltasse só alguns dias para embarcar com o meu amor;

4. Que a minha filha já estivesse na faculdade, feliz com sua escolha e se encaminhando para ser uma profissional de sucesso;

5. Que eu já estivesse fazendo um trabalho útil como voluntária em algum lar de idosos. Que estivesse bem equilibrada emocional e espiritualmente;

6. Que todas as pessoas que eu amo estivessem felizes e realizadas, que eu não tivesse nenhum problema de relacionamento, que já tivesse esquecido toda e qualquer ofensa que recebi e que fosse perdoada pelas que cometi, ou seja, que eu já fosse a pessoa melhor que eu quero ser;

7. Que tivesse um tempinho toda tarde para ler os livros que me aguardam na mesinha de cabeceira, para tomar um chá com as amigas ou ficar com a família; (desde setembro de 2012 tenho esse tempo e desde abril de 2013 passo todas as tardes com o meu bebezinho amado)

8. Que eu já tivesse tido a idéia que eu preciso ter para conseguir que todas essas coisas se realizem;

9. Que eu já tivesse chego aos 55 quilos e manter esse peso não fosse nenhum sacrifício. Que pudesse preparar nossa refeição, cuidar da casa e que nossa vida financeira estivesse bem, com segurança e próspera o suficiente para eu não ter que me preocupar mais tanto com isso; (depois que mudei minha alimentação quando recebi um diagnóstico de câncer, está sendo bem fácil manter o peso)

10. Que os meus melhores desejos, meus sinceros desejos estivessem realizados e que com isso muita gente já estivesse se beneficiando.

Ano Novo... desejos novos!

Em 2009 serei feliz como nunca!
Realizarei mais sonhos, terei muito mais amigos, oportunidades de progresso!
É certo que viajarei mais com pessoas que eu amo!
Terei mais amor, harmonia, mais fé e prosperidade…

Receberei visitas de queridos e terei momentos maravilhosos.
Em 2009 eu darei muito mais risadas…
Conversarei mais com a minha filha…
Passarei mais tempo com quem amo!

Aproveitarei melhor os meus dias.
Serei muito mais gentil, educada e generosa…
Ajudarei mais o próximo e serei bem mais tolerante.
Aprenderei coisas novas e espero poder ensinar!

Em 2009 irei bem mais no Parque e terei uma vida mais saudável.
Serei mais feliz e respeitada no trabalho…
Farei mais as coisas que eu gosto…
Terei férias maravilhosas!

Pagarei todas as minhas contas rigorosamente em dia…
Divertirei-me muito mais!
Reconciliarei-me com quem preciso…
Serei mais amada, mais amiga, mais bondosa
E vou amar muito e ser grata por cada dia de 2009
Que assim seja!
Feliz 2009!!!

06/01/2009

Concluindo Etapas

“As pessoas com as quais nos relacionamos são sempre um espelho refletindo nossas crenças e simultâneamente somos espelhos refletindo as delas. Assim, os relacionamentos são poderosas ferramentas para nosso desenvolvimento.”
Gawain
***

Dezembro é um dos meus meses favoritos. Não apenas pelo Natal, Ano Novo e as boas energias, que apesar do consumismo, são emanadas nessa época.
Gosto dos dezembros, porque estamos sempre concluindo etapas de nossas vidas. Nesse dezembro específico, concluí o 1º Básico do Curso de Filosofia Espírita na FEESP.
Conheci pessoas muito especiais no curso, pessoas que ao longo desses dois anos, Preparatório e 1º Básico, foram se transformando em verdadeiros amigos.
São pessoas que te fazem se sentir muito melhor na sua presença, não por causa dos elogios, mas porque te aceitam com as suas qualidades e defeitos. Pessoas que te ajudam a superar obstáculos e sempre estão dispostas a ver o que há de melhor em você, te mostram o quanto você já conseguiu. Quando te elogiam o fazem com sinceridade e quando te mostram seus erros o fazem de forma carinhosa, respeitando nossas dificuldades e limites.
Aprendi muito com os meus amigos e professores da FEESP, pois cada um deles doam um pouco de si em cada aula e juntos conseguimos avançar mais rápido.
Ontem quando nos reunimos para comemorar o final de mais um ano letivo, percebi em cada abraço o quanto cada um deles se tornaram importantes na minha vida.
Sou muito grata pelos momentos maravilhosos que passamos juntos durante todo ano de 2008 e estou muito feliz porque permaneceremos juntos no próximo ano dando continuidade ao nosso aprendizado.
04/12/2008.

As Boas Mulheres da China


“Quando alguém mergulha nas próprias recordações, Abre uma porta para o passado; A estrada lá dentro tem muitas ramificações E a cada vez que a porta é aberta O trajeto é diferente.”
Xin Ran
***

Na última sexta-feira eu estava péssima, fui para o trabalho em frangalhos, no meio do expediente, estava muito frio e eu não havia pego um casaco, resolvi ir para casa. Só queria me enfiar sob o edredom e chorar até dormir. Estava tão frágil, sem amigos, sem qualquer pessoa para conversar. Estava precisando tanto de carinho e atenção e simplesmente quanto mais eu desejava isso menos eu tinha. Cheguei em casa e me enfiei sob o edredom e tudo o que eu mais queria era dormir e esquecer um pouco da minha vida. Antes de adormecer, porém, eu li um trechinho do livro que uma amiga havia me emprestado: As Boas Mulheres da China, da escritora e radialista Xin Ran.
“Tenho me sentindo fraca nos últimos dias… mas parei de chorar, ninguém sabia por que eu estava chorando… gosto de dormir e estar longe desse mundo…”
Aquelas frases soltas no livro caíam como um raio na minha cabeça. As frases da jovem suicida Hongxue da história real do livro, poderiam ter sido ditas por mim naquele dia. Antes de adormecer, levantei-me depressa, tomei um banho, me arrumei e sai, sem saber exatamente o que queria fazer. Só sabia que precisava muito reagir àqueles sentimentos negativos que estavam se apossando de mim. Quando estava na rua, as idéias começaram a surgir. Entrei num salão de beleza e finalmente criei coragem para tonalizar o cabelo. Acabei cortando, hidratando e escovando. Fiz as sobrancelhas e as unhas e pela primeira vez as pintei de vermelho. Os garotos do salão fizeram um bom trabalho. Saí de lá e entrei direto numa loja de calçados. Nem olhei para as costumeiras sapatilhas e pedi um salto. Sai calçada com o meu novo sapato. Passei em outras lojas e finalmente acabei indo para casa. As pessoas todas acabaram me elogiando e suas atitudes em relação a mim mudaram automaticamente.
Toda essa experiência acabou sendo uma grande descoberta, as pessoas gostam mais de você quando você se gosta. No momento em resolvi ser um tanto quanto egoísta e talvez até fútil, comecei a receber o carinho das pessoas novamente. Faz apenas quatro dias, mas aquela pessoa frágil que abandonei naquele edredom está bem longe de mim.
Queria muito que a Hongxue tivesse saído daquele hospital com vida. O que mais me intriga nessa história toda é o fato daquela menina chinesa ter morrido, porque não teve forças para levantar sozinha daquele quarto de hospital e as pessoas , às vezes, simplesmente se negam a dar amor e atenção para quem está precisando. Elas só gostam de você quando você está bem, quando você tem atitudes que elas esperam de você. Quando você se importa mais consigo mesmo do que com as outras pessoas parece que começam a te enxergar. Um pouco de afeto também teriam me feito levantar daquela cama. Uma conversa teria me feito parar de chorar. Uma sugestão de algum amigo também teria me levado àquele salão para essa experiência… Nem sempre as pessoas tem um livro por perto ou forças para mudar radicalmente o comportamento nocivo que vem tomando.
A morte daquela garotinha de apenas dezessete anos me tocou muito. Ela não precisava ter morrido se alguém a tivesse abraçado. Se alguém lhe tivesse sorrido e lhe compreendido. Muitas vezes julgamos o comportamento das pessoas sem saber quais as causas a levaram agir de determinada maneira. As pessoas sofrem a nossa volta sem nos darmos conta e nós simplesmente não sabemos como agir.

Recomendo:
As Boas Mulheres da China
Xin Ran
Editora: Cia das Letras

L.O.V.E.


L is for the way you look at me
O is for the only one I see
V is very, very extraordinary
E is even more than anyone that you adore can
Love is all that I can give to you Love is more than just a game for two
Two in love can make it Take my heart and please don’t break it Love was made for me and you

L is for the way you look at me
O is for the only one I see
V is very, very extraordinary
E is even more than anyone that you adore can

Love is all that I can give to you
Love is more than just a game for two
Two in love can make it
Take my heart and please don’t break it
Love was made for me and you
Love was made for me and you
Love was made for me and you

Nat King Cole

http://br.youtube.com/watch?v=JErVP6xLZwg&feature=related

Hesse


“Nada posso lhe dar nada que já não exista em você. Não posso abrir-lhe outro mundo de imagens além daquele que há em sua própria alma. Nada posso lhe dar a não ser uma oportunidade, o impulso, a chave. Só posso ajudar-te a enxergar o teu próprio mundo”.

Herman Hesse

Longa Espera

Era um quintal cheio de sombras, cercado de balaustras.



As goiabeiras tinham goiabas brancas e vermelhas e as nêsperas tinham o gosto delicioso das lembranças.


Em todo quintal haviam frutas, folhas e cheiro de infância bem vivida.



Eu comia pão com mortadela e bebia tubaína com tampa de rolha e o mundo lá fora havia parado com a saudade.


Depois encontrei o meu avô, que me sorriu, não estava doente e nem havia morrido, Por isso ria e seus lábios e rosto de novo iluminados.



Caçava o que fazer para gastar sua alegria:


“Onde está o meu formão?

Minha vara de pescar?

Cadê meu binga, meus óculos e meu gibi?”

"Adélia e eu".


Eu também - como Adélia Prado - sempre sonho que nunca nada está morto.



O que parece morto espera…

O que parece vivo, também espera.

Adriana Mani - 04/04/2008





Meu avô e eu - 1975






Um dia ele acariciou demoradamente o meu rosto, me olhou da maneira mais terna e doce que jamais haviam me olhado e depois foi embora.

Partiu deixando o meu coração dilacerado de dor e a mente repleta de deliciosas recordações. Lembranças de tardes perfeitas, risadas, sonhos divididos e conselhos para uma vida inteira.
E eu simplesmente não consigo lhe dizer adeus.

Por mais que eu saiba que é preciso, ainda não consigo encerrar essa história e virar a página. Nunca foi segredo para ninguém da família a minha predileção pelo meu avô. Sempre fomos amigos, companheiros inseparáveis - mesmo quando distantes. Ele foi sempre quem mais me compreendeu. Objeto de todo meu afeto, respeito e gratidão.
Ao longo da nossa caminhada tivemos momentos de perfeita harmonia e confidências. Tínhamos o prazer da companhia um do outro.

E hoje, quando penso nesses momentos - em todas as coisas boas que ele me ensinou e nos exemplos que deixou - penso também que não posso guardar tudo apenas na minha memória, suscetível ao esquecimento. Seria um egoísmo muito grande de minha parte.
Nós vivemos uma linda história de amor.

Não posso e não quero esquecer alguém que - durante toda a sua existência - viveu de uma maneira tão bonita.

Ele era simples, trabalhador, honesto!

Um exemplo de dignidade e respeito.

Era humilde, mas não sabia disso.

Generoso, mas nem se dava conta da sua grandiosidade.

Foi um excelente educador, pessoa sábia e amiga, mas não tinha a menor vaidade.

Falar sobre ele, sobre o quanto eu o amo e sinto a sua falta, foi a forma que encontrei de mantê-lo vivo.

Eu simplesmente não posso dizer adeus à pessoa mais lindas que já conheci.

Tantas Saudades…
Domingos Mani - 04/04/1931 - 08/07/2007


(esse trecho acabou se tornando prefácio do meu livro: Meu Avô e Eu - Editora Multifoco em 2010).

Rebelion Lies

Antes de tudo, você precisa ter ouvido, ao menos uma vez, Rebelion Lies do Arcade Fire quando ler esse texto…



Isso é o que você sente quando realmente ouve as batidas do seu coração e se dá conta de que um dia ele irá parar de bater…


É o que sente quando percebe que tudo o que sabe sobre a tua própria existência é apenas intuição e que tudo o que acha real não passa de algo efêmero e ilusório e que a realidade é algo que você desconhece completamente…


É o que sente quando vê que todos os dias você deixa passar algo muito importante e que não está tão atento quanto deveria. Que não tem se empenhando de fato e o tempo está passando…

É o que sente quando entende que a vida que leva está sendo criada por você mesmo e que você é a única pessoa que pode te ajudar. Mudar a sua realidade só depende de você e você simplesmente não sabe o que fazer…


É o que sente quando sabe que está se despedindo - por um período muito longo - de alguém que ama…

É o que sente quando acorda no meio da noite e realmente compreende que está absolutamente só. Que nasceu só e morrerá só. Entre esses dois fatos apenas se ilude que não está só…


É o que sente quando se dá conta de que, definitivamente, não faz parte do meio em que vive. Quando olha tudo a sua volta e pouca coisa faz sentido. Você sabe que está ali por alguma razão, mas não tem ideia do que seja…


É o que sente quando sabe que convive muito menos do que gostaria com as pessoas que ama e muito mais com pessoas absurdamentes diferentes de você. Que você precisa muito aprender algo com essas pessoas e não sabe o que…


É o que você sente quando faz uma longa viagem e sabe que não voltará a mesma pessoa. Essa viagem te transformará completamente. Você vai rever todos os seus conceitos e descobrir que pode suportar muito mais que imaginava…



É o que sente quando entende que experimentou, há pouco, todo seu potencial de bondade. Que ao menos uma vez conseguiu não ser tão egoísta e fez o melhor que você consegue fazer, mas sabe que - apesar de querer ser essa pessoa que você descobriu que pode ser - você ainda não consegue manter essa bondade…




É o que sente quando descobre que mesmo desejando o melhor para alguém que ama, o que você acredita ser certo não é o que a pessoa precisa no momento. Você então entende que não pode mudar o caminho de ninguém - a não ser o seu.


Isso é o que sinto quando realmente ouço Rebelion Lies.

14/10/2008

Caminhos


“Ninguém pode construir em teu lugar
as pontes que precisará passar para atravessar o rio da vida.
Ninguém, exceto tu e só tu.
Existem por certo atalhos sem números,
desvios e semi-deuses que se oferecerão para levar-te além do rio,
mas isso te custaria a tua própria vida.
Tu te hipotecarias e te perderias…
Existe no mundo um único caminho por onde tu e só tu podes passar.
Onde leva?
Não pergunte.
Segue-o!”
Nietzsche

***



Às vezes precisamos deixar para trás as lembranças - mesmo as boas - e seguir em frente. Muitas vezes nos sentimos presos a sentimentos e pessoas que há muito tempo já tomaram outros rumos. Elas simplesmente não fazem mais parte do nosso convívio, da nossa rotina e, muitas vezes, nem da nossa vida.
O assunto já foi encerrado, a conta foi paga, cada um tomou uma direção e a gente acaba nem se dando conta disso.
As pessoas - todas elas - apenas passam pela nossa vida. Umas se demoram mais, outras menos e outras menos ainda, mas todas elas passam.
Quando elas se vão, algumas, deixam um vazio enorme. Um vazio que precisa ser preenchido com a nossa própria existência, pois ao final dessa caminhada, não importa quantas pessoas passaram pela tua vida e nem o que aprendeu com elas, você chegará sozinho ao teu destino.
Isso significa que por mais que as relações humanas sejam importantes, precisamos nos concentrar em nós mesmos e não nos perder de vista. Somos nosso único companheiro de uma vida inteira.
Ter a consciência disso não significa retirar-se do mundo e muito menos não se envolver com as pessoas. Mas procurar usar esse período de convivência da melhor forma possível. Extrair aprendizados, virtudes e tentar tirar o melhor de nós mesmos.
Madre Teresa uma vez disse “sempre que sair da presença de alguém, deixe-a se sentindo melhor por ter estado com você, pois você não sabe se um dia tornará a vê-la.”
Eu sempre penso nessa frase. Sei que preciso me empenhar mais para mostrar o meu melhor. Não tenho feito isso e sei que está errado. Eu tenho uma dificuldade enorme para me expressar. Preciso me concentrar mais nisso. Muitas vezes digo coisas que não diria se tivesse pensado melhor. Faço coisas que não faria se tivesse medido as consequências.
Não pretendo me justificar aqui, mas apenas procurar corrigir esses defeitos enquanto posso. Sei que não somos perfeitos e acredito que estamos aqui justamente para nos melhorarmos.
Chegamos sós e voltaremos sós e entre nossa chegada e partida, apenas nos iludimos que estamos acompanhados.

13/10/2008.

Tristes Trópicos

“Por que é triste o olhar do verdadeiro viajante?
Como ninguém ele sabe que o mundo começou sem ele
e acabará sem o homem.
Percebe que todos os mitos, estilos e linguagem
são construções de sentido,
sempre à beira de um vazio.
Sente que a sua viagem não terá propriamente um retorno.
Sua exploração ficará sempre inconclusa.
No entanto, entre a solidão que reproduz a máquina de uma cultura herdada
E a tristeza desse caos caleidoscópico do mundo que se deixa entrever,
prefere a segunda condição, a de navegante solitário,
fiel apenas a sua própria narrativa,
senhor de suas histórias e paisagens,
aquém de todo pensamento e além de toda a sociedade.”
Claude Levi-strauss

***

Quem sou eu?

Numa manhã de quarta-feira de cinzas, numa pequena cidade no noroeste do Paraná, exatamente as onze horas do dia 16/02/1972, nasci.
Ao longo dos anos, aprendi a duras, ou moles, penas a gostar de algumas coisas, detestar outras e pelo menos tentar me relacionar bem com algumas.
Ainda não descobri à que vim, só sei que estou aqui por alguma razão e já que estou aqui decidi fazer tudo o que eu puder para me tornar uma pessoa melhor, simplificar a minha vida e fazer alguma coisa útil.
Entre outras coisas, sou alguém que acredita no amor, na beleza desse mundo e que descobriu que não precisa de coisas grandiosas para ser feliz. Pequenas coisas me dão um enorme prazer. Entre elas:

Conversar por horas e horas e horas com o Diego;
Ficar em casa num dia chuvoso;
A arte de Ben Vautier, Van Gogh, Modigliani e Andy Warhol;
Exupéry e seu Petit Prince;
O Pavilhão Japonês do Ibirapuera;
Ouvir a nona sinfonia do Beethoven e as quatro estações do Vivaldi;
Receber cartinhas da Lea e postais dos quatro cantos do mundo;
Finais de semana e feriados;
Olhar o céu, a lua e as estrelas;
Caminhar na trilha do Ibirapuera ouvindo Moby;
Ver filmes, muitos filmes…
Primavera, verão, outono e inverno;
Comer raclete, fondue e comida japonesa;
Ler Camões, Vinícios, Gregório de Matos e Neruda;
Sair pela cidade na companhia do Diego;
Usar batinhas, sapatilhas e bolsas grandes;
Papéis coloridos e canetas stábilo de todas as cores do mundo;
Lembrar as tardes lindas que passei com o meu avô;
Fluxus e Pop Art;
Passear pela Paulista e Augusta num domingo à tarde;
Os filmes do Jeneut, Fellini, Aldóvar e Agresti;
Litoral norte de São Paulo e a estrada Rio-Santos;
Mário Prata, Zélia Gattai e Mário Quintana;
Café colonial da Serra Gaúcha;
As cores da Frida Kahlo;
Reciclagem, ecologia e preservação ambiental;
Trabalho Voluntário em favor do próximo;
Ver o Pantanal do avião;
Chá com torradinhas e chocolate suíço nas tardes de outono;
Passar no Natural da Terra e tomar um suco com o meu amor;
Paraty, Angra e Serra Fluminense;
As tardes de sábado com a minha filha Bia;
Filosofia, história da arte e da cultura, geografia e história;
Minhas gatas Augusta e Maria Amélia;
Midnight Oil, Placebo, R.E.M., The Smiths e Indochine;
Londres, Paris e Zurique;
Fotografia;
Argentina, Peru e Chile;
Escrever;
Colagens;
As palestras do Umberto Fabri;
Gerard Depardieu, Jean Reno, Camila Morgado e Matheus Naschtergalle;
Oscar Wilde, Bertolt Brech, Fernando Pessoa e Nietzsche;
Aumento de salário, férias e décimo terceiro;
Michael Jackson e Peter Garret;
MASP, MAM e Oca do Ibirapuera;
Setembros, Outubros, Dezembros e Fevereiros;
Ganhar e dar presentes;
Arcade Fire, música celta e peruana;
Nat King Cole, Edith Piaf, Louis Armstrong, Ray Charles e Aretha Franklin;
Banho demorado de banheira;
Roupas novas;
A comida da tia Emília;
Ghandi, Buda e Jesus Cristo;
Dirigir;
Abraços sinceros;
Marilyn, Audrey e James Dean;
As confidências e confabulações com o meu amigo Paulo Afonso;
Ouvir risadas pela casa;
Estar com minha prima Thaís;
Viajar com o Diego;
Aprender sempre;
Edredon, pijama e chinelinho;
Jardins floridos;
Colecionar cards e canecas;
Feirinha da Benedito Calixto;
Valentin, Atticus Finch, Catarina Batista e Amelie Poulain;
Os Fiordes da Noruega e os Alpes Suíços;
O quadro que a Bia pintou;
Mr. Maggo, Pink Panter e Gordo & Magro;
Franz Krajcberg , Edvard Munch e Jonas Barros;
Cultura indígena do Brasil;
Kurosawa e Jim Sheridan;
Sócrates, Confúcio, Goethe e Voltaire;
Gregor, Beatrix e a criançada;
Um amor como o do tio João e da tia Emília (para sempre);
Ruas arborizadas;
Banco e anão de jardim;
Rios Verde, Teles Pires e Paraná;
Barulho de Chuva;
Darcy Ribeiro, Khalil Gibran e Shakespeare;
Fernando Fernan Gomez, Jude Law e Daniel Day Lewis;
Hagen Dazs de Tiramissu;
Manjericão, salsinha e cebolinha;
Pagar contas em dia;
Andar de barco;
Cinema e teatro;
Expedição Langdorff;
Apóstolo Paulo e Provérbios de Salomão;
Perfume Flor de Agatha Ruiz de La Prada ou J´adore;
Clipe de Porcelain (Moby) e One Country (Mid. Oil);
Montanhas e Cachoeiras;
Centre Pompidou, Tate Modern e Met;
Positano, Bellagio e Provence;
Hermam Hesse, Anaïs Nin, Harper Lee e Lispector;
Consideração, respeito, coragem e pensamento positivo…