Quem me conhece bem, ou acompanha meu blog, conhece as muitas histórias que tenho de amizades incríveis que fiz com os meus "velhinhos favoritos" ao longo da minha vida.
Aos cinco anos a minha melhor amiga era a dona Verdilina, uma senhorinha de 80 anos. Eu fugia toda tarde para ir tomar café com ela. a história toda tá aqui ó: Dona Verdilina.
Ter amigos bem mais velhos que eu nunca foi um problema pra mim, pelo contrário, sempre me deram um prazer imenso e experiências maravilhosas.
Mas, a última amiga que fiz fugiu completamente à essa minha regra. Laís é simplesmente quarenta anos mais nova que eu. E acho que finalmente compreendi o que a dona Verdilina, seu Agostinho, seu Ignácio, a dona Eugênia e tantos outros enxergavam em mim: a sinceridade dessa amizade.
Laís estava balançando e eu estava observando o Tomás brincar com uns garotinhos. Balançar sempre foi uma das minhas brincadeiras favoritas, eu voava livre e feliz no balanço que o meu avô me fez. Fazia apenas 5 dias que eu tinha recebido o meu diagnóstico positivo de câncer. Eu ainda estava muito triste - lutando com todas as minhas forças para me manter forte, positiva e confiante - , estava aproveitando cada pequena oportunidade de "me fazer um carinho". Não pensei duas vezes. Não me importei com os rapazes que pintavam o coreto da pracinha (sem trocadilhos eles estavam mesmo pintando o coreto da pracinha), nem com as pessoas passando na rua e muito menos com os adultos que estavam comigo.
Sentei no balanço ao lado daquela garotinha e comecei a balançar cada vez mais alto. Tão alto e sem medo quanto eu conseguia ir quando tinha seis anos.
Então ela me falou: "Que legal você sabe ir bem alto! Como é o seu nome?. Eu lhe respondi que me chamo Adriana e ela me disse que o nome dela é Laís e que ela tem seis anos. Então ela resolveu me ensinar o twist: "é assím ó: você precisa se balançar muito alto e dai você vira o corpo e o balanço vira ao contrário." Obviamente eu não consegui fazer o tal twist, mas consegui fazer uma amiga.
(o twist da Laís)
Nós ficamos ali nos balançando e conversando juntas por um bom tempo, muito tempo. Tanto tempo que a minha amiga Cris resolveu nos fotografar. O tempo todo Laís me chamava pelo meu nome, nenhuma vez me chamou de "moça", de "tia" ou de senhora. Eu tinha conseguido vencer aquela barreira que existe entre adultos e crianças. Aquela que nós "os grandes" fazemos questão de erguer para se fazer respeitar e mostrar que temos mais experiência, que sabemos mais das coisas... Naquele dia eu descobri que não sabemos! Laís, que tem 6, sabe fazer um twist, eu, que tenho 46, não sei.
A confiança cresceu tanto que ela me convidou para o mais incrível de todos os convites que um adulto poderia receber: "Adriana, você quer conhecer o meu esconderijo? A minha cabaninha secreta que mais ninguém conhece?". É claro que eu queria!
Ela não só me mostrou a sua cabaninha, mas me inseriu no seu mundo, no seu maravilhoso faz de contas. Me apresentou o seu "pastor alemão", chamado Laranjinha, que toma conta do esconderijo para ela. Me disse para não chegar muito perto dele, porque ele era muito bravo e me morderia. Eu obedeci.
(Laís e o Laranjinha)
Ela me confidenciou seus truques, me mostrou sua casa ao longe e que aquela na janela, nos olhando, era sua irmã mais velha. A amizade estava selada e nossa conversa animada durou até a irmã dela vir correndo e mandá-la para casa. (obviamente ela não devia estar conversando com aquelas mulheres estranhas - A cris e eu).
Nós nem nos despedimos. Só escutei alguém berrando: "Laísssss!!!" e ela se foi correndo...
Já estava tarde, começava a chuviscar e nós também fomos embora. A amizade ficou! E quando eu voltar a Paranapiacaba vou procurar a minha amiga e saber como está o Laranjinha, o seu pastor alemão.
(há um tempo ensinando Tomás se balançar)
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