quinta-feira, 26 de abril de 2018

A difícil tarefa de perdoar e pedir perdão...

Mágoas, rancores, ressentimentos e estresses ajudam a causar câncer! Eu tive certeza disso, quando descobri que estou com câncer de mama. 
Nos dias que antecederam o meu diagnóstico eu passei por um turbilhão de emoções. Diante da possibilidade de estar com um tumor maligno, fragilizada que estava, busquei apoio e acolhimento onde eu imaginava que seria o primeiro lugar onde iria encontrá-lo. 
Na verdade eu já sabia das dificuldades que teria, mesmo assim não exitei em pedir apoio. E, uma vez mais, me decepcionei muito quando não encontrei o apoio (da forma que eu gostaria) na pessoa que eu mais queria que tivesse me acolhido naquele momento.
Eu fiquei destruída! Arrasada, passei o dia chorando pelos cantos, mesmo recebendo amor e carinho do marido, dos meus filhos, da minha prima e amigos próximos. Quando a noite chegou e todos dormiram eu desabei. Chorei profundamente como nunca havia chorado em toda minha vida. Me permiti, naquele momento, que toda a minha mágoa, decepção e dor viessem à tona.
Me joguei no sofá lamentando o fato do meu avô - meu pai de criação e o meu melhor amigo - não estar mais aqui para que eu pudesse chorar no colo dele. Sofri por não poder ligar para a minha avó e chorar até não poder mais ou até que a voz dela e os seus conselho - sempre tão oportunos - pudessem me acalmar. Minha avó está com quase 88 anos, muito frágil e gravemente doente. Naquele momento eu não poderia pedir o apoio dela e nem o da minha amada tia Isa, que se foi há dez anos.
Fiquei ali no sofá e depois deitei no chão da sala, em posição fetal, chorando baixinho. Então eu percebi que o meu nódulo - apenas ele - estava doendo, ardendo e latejando. Quanto mais eu chorava, mais aquele caroço estranho no meu corpo doía. Aos poucos fui parando de chorar e comecei a prestar atenção no que estava acontecendo comigo. Aquelas pontadas no meu peito não me deixaram dúvidas: uma das causas desse tumor no meu peito certamente é essa mágoa, esse rancor que eu carrego desde pequena. E pensei: "eu fiz isso comigo!". 
Eu ainda nem tinha recebido o diagnóstico, mas naquele momento eu já sabia que uma das causas daquele tumor ali latejando era a mágoa que eu cultivava há tantos anos. Foi o meu despertar. Dias depois a confirmação na biópsia: "carcinoma ductal invasivo, grau I". Então eu comecei a pesquisar sobre as causas, sobre curas e o que eu poderia fazer para me ajudar.
Além da medicina - que evoluiu muito na cura do câncer - , existem muitas coisas que eu posso fazer para ajudar o meu corpo a restabelecer minha saúde. Uma alimentação adequada, exercícios físicos regulares, equilíbrio psicológico e outro item me chamou atenção: o exercício do perdão. Esse último vinha de encontro a tudo que eu tinha acabado de vivenciar.
Logo em seguida comecei uma assistência espiritual - onde as pessoas que estão doentes participam de  12 palestras - e já no primeiro dia de palestra a expositora falou sobre a importância do perdão para nossa saúde e equilíbrio mental. A palestra reforçou ainda mais aquilo que eu estava descobrindo. No dia seguinte na terapia psicológica - que faço há anos - minha terapeuta ouviu atenciosamente sobre as minhas descobertas e considerações e quando estava me despedindo ela disse: "a medicina não reconhece que mágoas causam câncer, mas a medicina reconhece que uma mente sã colabora para um corpo são e quando você se livra de uma mágoa e você perdoa (e se perdoa) sua mente fica mais sã, então vou te dizer: perdoe, perdoe-se!".
No mesmo dia, quando cheguei em casa comecei a pensar sobre todas essas informações, de que mais do que os 15% de probabilidade hereditária de eu ter um câncer, foram o meu estilo de vida e minhas atitudes que colaboraram para que o meu corpo produzisse células defeituosas. Então comecei a pensar em como eu faria para me libertar dessas amarras de mágoas e ressentimentos.
Não é fácil, depois de tantos anos agindo de certa maneira, mudar tudo. Mas, quando você se decide verdadeiramente, quando você se esforça para entender e quer de verdade fazer isso, os meios começam a surgir. Nessa mesma tarde peguei uma fotografia, liguei uma música calma e fiquei olhando para mim - ainda pequena na foto - e no riso da pessoa ao meu lado. Fiquei assim por muito tempo, até me lembrar daquele dia e sentir uma emoção muito forte. A compreensão de tantas coisas veio num único instante. Finalmente consegui enxergar o amor que existia naquele momento em que a fotografia foi tirada. Então pude compreender tantas coisas e fatos que foram obstáculos para nós, que antes simplesmente não conseguia.
Percebi que passei boa parte da minha vida ressentida, sem tentar ao menos entender a pessoa, ou dar a chance de ser amada da maneira como podiam me amar e não da forma que eu gostaria de ser amada. Eu precisei ser diagnosticada com uma doença grave para compreender isso e deixar de ser uma menininha esperneando porque não me deram o que eu queria, da forma como eu queria. Quando digo que o câncer veio me curar é disso que estou falando. Eu precisei ficar doente para entender que eu estava exigindo demais das pessoas. Exigindo algo que as pessoas não tinham para me dar. Então, em vez de me lamentar eu comecei a agradecer.
Depois dessa experiência percebi que até mesmo o fato de não ter sido acolhida - da forma como gostaria de ter sido - foi o que me ajudou a levantar e enfrentar o meu medo. A assumir a minha responsabilidade sobre a doença e a minha cura. Foi o que me fez perceber que me curar ou sobreviver vai depender exclusivamente de mim mesma.
Como disse em outro texto, eu não recebi uma sentença de morte, mas um alerta para acordar enquanto há tempo. Deixar de fazer as coisas que estavam me prejudicando. E eu vou me empenhar, em tudo o que eu puder, para me curar e poder, de alguma forma, ajudar outras pessoas que estejam passando pelo mesmo que eu. Acho que esse é um desejo de muita gente que consegue vencer um câncer.

É claro que muitas vezes ainda fico deprimida, penso no quanto o tratamento é complicado, difícil e em todos os riscos que estou correndo: de ter metástase, de ter recidiva, de não aguentar... São monstros que ainda me assombram, mas eu também sei que tenho muito a meu favor: Não teve nenhuma alteração de linfonodos no meu exame de ultrassom (um bom sinal de que não há metástase), o tipo do tumor é de crescimento lento, apesar de ser invasivo ainda foi descoberto razoavelmente cedo e vou me equilibrando dessa forma. Um dia mais preocupada, noutro mais confiante, mas com a certeza de que vou fazer tudo o que puder para me tirar dessa. E principalmente que  já deixei de ser essa menininha assutada da foto.

Orem por mim,
Vibrem por mim,
Torçam por mim,
Me enviem suas melhores energias.

Um beijo a todos.

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