terça-feira, 15 de maio de 2018

Enfrentando o medo

Hoje passei o dia no IBCC para fazer um exame chamado cintilografia óssea. É o exame que vai me dizer se tenho ou não algum tumor nos ossos.

Confesso que estava morrendo de medo. Não do exame em si, mas do resultado que esse exame pode ter. Das tantas incertezas e tantas inseguranças. Porque esse processo de estadiamento é muito angustiante. Talvez seja uma das piores partes. Não saber exatamente a extensão e gravidade da coisa.

Como não é um exame complicado, que não tem qualquer tipo de reação, eu fui sozinha. Cheguei às 10h. Você toma uma injeção com o contraste e 3h depois vai para a máquina que vai mapear todos os seus ossos.

Eu cheguei no hospital meio pra baixo. Estava bem insegura, mas enquanto esperava o primeiro procedimento conheci a Ivone. Uma mulher da minha idade, que terminou o tratamento e está fazendo acompanhamento. Posso dizer que tê-la conhecido fez toda a diferença no meu dia. Uma pessoa super alto astral, que enfrentou sua doença e o tratamento de cabeça erguida. Sem parar de trabalhar, indo muitas vezes sozinha na quimio e radioterapias. 

Passamos as 3h de espera juntas. Almoçamos, fomos caminhar pelo bairro, nos perdemos e nos achamos. Descobrimos que moramos no mesmo lado da cidade e ela resolveu voltar de carona comigo. Eu já tinha lido sobre isso, mas hoje também descobri que as "amigas de peito" são incríveis. São mulheres que já passaram pelo mesmo que você tá passando, são pessoas que realmente entendem o que você está sentindo e, talvez por isso, tem condições de te ajudar a sair da "caverna do medo". Elas já conseguiram sair dessa caverna e podem te ensinar o caminho.

Hoje a Ivone fez isso por mim. Me viu lá no cantinho, triste - pensando em tantas coisas, e principalmente no quanto quero ver o meu filho crescer - e veio falar comigo. Perguntou alguma coisa, que nem lembro mais o que era, e me tirou daqueles pensamentos sombrios de dor, lágrimas e medo. Segundos depois ela estava me contando de como ela encarou essa situação toda.

Ivone é uma mulher simples, trabalha como diarista, e não parou de trabalhar durante o tratamento. Ela me disse que não tem tempo de ficar triste ou de passar mal. Não passou mal em nenhuma sessão de quimio. Disse que no dia seguinte levantava tomava banho e ia fazer faxina na casa da patroa. Quando eu perguntei como ela conseguia, ela me respondeu: "quando você perde um filho aos 21 anos, nada mais é tão complicado. Se você sobrevive à morte do seu filho amado, você é capaz de sobreviver a qualquer coisa. Um câncer pra mim, não é nada perto da dor que eu senti e sinto por ter perdido o meu filho.".

Ao longo do dia, ouvindo as histórias da minha nova amiga, fui ficando mais fortalecida, mais confiante. Como disse antes, é preciso  todos os dias se reabastecer de coragem, fé e confiança. Porque por mais forte que você seja ou esteja, muitas vezes vai vacilar. Por isso é tão importante ter incentivos diários dos amigos e familiares. A energia vai se esvaindo e você precisa constantemente encontrar meios de se fortalecer. Hoje quem fez isso por mim foi a Ivone, ontem foi a Eliana - uma pessoa querida que conheço a tão pouco tempo, mas que tem se mostrado uma grande amiga. Anteontem foi o Diego quem me ajudou a dormir e assim a vida vai seguindo.

Umas das coisas mais importantes que descobri hoje é que não vai ter como pular etapas. Para o meu tratamento ser bom, ser bem feito e funcionar, preciso passar por esse doloroso caminho do estadiamento. Quanto mais eles souberem sobre a doença, mas chances terei de combatê-la. Então o melhor jeito é tentar não ficar tão ansiosa com os resultados, não sofrer tanto por antecipação e nem tentar entender sozinha os resultados dos exames. Por mais que eu queira estar bem informada, acho que chegou o momento de parar de pesquisar e esperar o médico analisar tudo e me dizer exatamente em que situação está tudo e como será o melhor tratamento. Dia 24 passo no pré operatório e análise dos exames e depois disso saberei tudo o que eu preciso saber. 

Vou tentar não pensar mais tanto nesse assunto e não querer saber as coisas de qualquer jeito, pois isso está causando sofrimentos desnecessários que eu já tinha decidido não ter. Diego ontem me disse uma frase que pode me ajudar muito: "substitua o medo pela vontade de ganhar". Vontade de vencer eu já tenho, muita, só preciso me livrar, definitivamente, desse medo.

Torçam por mim,
Vibrem por mim,
Orem por mim!

Um beijo afetuoso.

  

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