domingo, 3 de junho de 2018

Um Isolamento chamado Câncer!

Quem já recebeu, em algum momento da sua vida, um diagnóstico de câncer vai entender melhor essa postagem. Quando você abre seu coração e expõe o que está vivendo as pessoas virão, solidárias, demonstrar o seu apoio e isso, sem sombra de dúvidas, faz um bem enorme.

Mas, depois de algum tempo a gente vai se dando conta do quanto essa jornada será longa e solitária. Ainda que receba o carinho das pessoas, o fato é que você terá de enfrentar os piores momentos sozinha.

Por mais que o seu marido esteja lá, na antessala, de mãos dadas com você, quando chamam o seu nome para algum exame, você precisa soltar a mão dele e entrar (e enfrentar) tudo sozinha. Mesmo que esteja recebendo amor e cuidados muitas vezes aquilo que você está sentindo nem tem como ser compartilhado. E ainda nem estou falando daquelas pessoas que simplesmente pararam de te procurar e sumiram. Porque a verdade é que quase ninguém entende de verdade o que você está passando. Poucos sabem o que é estar com câncer. A não ser que esteja passando ou já tenha passado pela mesma situação.

Mesmo que você tenha boa vontade de explicar todo o processo e por mais boa vontade que as pessoas tenham em tentar entender, as coisas simplesmente não têm como ser avaliadas por quem está de fora. É muito difícil para as pessoas, mesmo aquelas que realmente se preocupam com você, acompanhar a avalanche emocional de um paciente oncológico. Há pessoas que sequer conseguem falar a palavra câncer. A falta de conhecimento sobre o assunto e todo o estigma de morte que envolve a doença ainda é muito forte. Algumas pessoas simplesmente não conseguem lidar com isso. Não se sentem confortáveis e se afastam. Algumas sequer falam com você após o diagnóstico e então você vai se sentindo cada vez mais sozinha.

Ainda que você tente entender a dificuldade que algumas pessoas têm, perceber que algo mudou te deixa muito triste. Saber que pessoas que falavam sempre com você, e até mesmo familiares, se afastam é mais uma coisa difícil que a gente precisa aprender a lidar. Quando se trata de um familiar próximo a situação é ainda mais complicada. É preciso criar uma força sobrenatural para conseguir se manter forte e não cair na depressão. Isso talvez machuque mais que a doença. A maioria das pessoas não está preparada para lidar com alguém diagnosticado com câncer. 

Tem dias que você vai estar forte, decidida e confiante na sua cura, já em outros vai estar pensando um monte de bobagens. Vai estar morrendo de medo e precisando muito de um colo, que nem sempre terá. O afastamento de pessoas queridas dói demais. Saber que você não vai poder contar com pessoas - que você tinha certeza que estariam ali com você - é algo bem difícil de lidar. Pra quem vive numa cidade grande, feito eu, longe da família e da maior parte dos amigos, é um desafio e tanto se manter motivada. Na maior parte do tempo somos eu, o Tomás e, nos finais de semana fico mais tempo com, o Diego. Vejo poucos amigos. E eu sei que todo o tratamento irá impor um isolamento ainda maior. Isso tem me preocupado muito, pois é um momento de muita fragilidade emocional (e estamos falando de uma pessoa que já era bastante instável antes do diagnóstico).

Hoje li uma matéria que fala justamente sobre isso. Que a solidão e o isolamento podem contribuir para recidiva e aumenta em até 60% as mortes por câncer de mama. Isso me deixou apavorada. No fim de semana já fiquei bem triste por ter sido convidada, "pero no mucho", para uma diversão. Eu tinha colocado muita expectativa de sair, me divertir e esquecer um pouco os problemas, mas no fim não deu nada certo e fui dormir chorando por ter sido "esquecida". Eu nem comecei ainda o meu tratamento e já sinto às vezes esse tal isolamento.

É claro que tem pessoas que estão ali prô que der e vier, como a minha mais-que-irmã Cris, que na sexta fez, aliás o Kauê, marido dela fez, um almoço delicioso e tivemos um dia super agradável. Eu seria extremamente injusta se não dissesse que tenho pessoas incríveis ao meu lado, mas o fato é que algumas coisas andam pesando bastante. Eu preciso me conectar com o mundo e fazer todas as mudanças que eu quero na minha vida. E eu quero trabalhar, quero ficar mais tempo com o Diego, quero sair e me divertir, quero fazer mais as coisas que eu gosto e estar mais perto das pessoas que realmente se importam comigo.

Essa coisa de não pertencer mais ao "mundo das pessoas saudáveis" é complicado. Você se olha no espelho e não há nada de errado com você, mas olha os seus exames e tem um monstro terrível no teu caminho - um monstro grande e feio que você vai ter que enfrentar sozinha. E vai ter que lidar com uma porção de comentários infelizes, talvez ingênuos,  e muitas vezes fingir que não entendeu. Vai ter que explicar um monte de vezes a mesma coisa (às vezes pra mesma pessoa) e ainda ter que estar sempre bem pra não espantar ainda mais as pessoas. Muitas vezes você mesmo vai se isolar por saber que não será uma boa companhia. 

Uma das coisas que já descobri é que "ninguém no mundo tira um câncer de letra!". Ninguém! Se alguém disse isso não deve ser verdade. Não dá para passar por isso tudo na boa o tempo todo. Por mais forte e determinada que você seja, tem dias que vai estar no chão e na maioria das vezes não vai ter ninguém lá pra te ajudar (e, a bem da verdade, você nem vai querer ninguém lá te juntando do chão).

Por mais que tenha um monte de gente a sua volta, você nem sempre vai se sentir parte. E nem sempre vão saber te dizer a coisa certa. Então você se fecha. É por isso que o sentimento de solidão é muito grande nesse momento. Escrever aqui no blog tem me ajudado a lidar um pouco com isso. Dividir o que estou passando, minhas dores e descobertas, alivia um pouco a pressão emocional. Espero, em breve, conhecer mais pessoas, aqui no blog ou lá no IBCC, porque eu sei que estar com pessoas que estão passando pela mesma situação vai me devolver o sentimento de pertencimento.

No fim das contas eu sei que tudo vai melhorar muito depois que eu fizer a cirurgia e saber que esse câncer não está mais aqui dentro de mim. Por enquanto ainda é muito complicado passar a mão no seio e sentir esse caroço fazendo parte do meu corpo. Saber que ali estão crescendo (mesmo que lentamente) células que podem te matar é algo assustador. Ir dormir e acordar sabendo que há algo ali, palpável, dentro de você que está te destruindo não é uma coisa fácil de lidar.

Eu não queria que essa postagem tivesse esse ar deprê. Queria ter falado isso tudo de outra forma, mas hoje, talvez por conta dos hormônios (sempre eles) não estou lá muito "u-hulll", Mas amanhã, depois de descansada, acordarei mais confiante que a situação vai ser facilmente resolvida e que depois do tratamento todo eu vou poder esquecer que tive essa pelota estranha, um dia, crescendo dentro de mim.

Quer saber mais? (clique nos links):

Vamos lá!
Orem por mim!
Vibrem por mim!
Torçam por mim!
Me convide pra um café!

Beijo Todos!


foto: shutterstock free










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