sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Autoestima em forma de amor em mechas.


Em abril de 2018, quando recebi o diagnóstico de câncer de mama, entre o turbilhão de pensamentos com que fui inundada, uma das coisas em que eu pensei muito naqueles dias foi no quanto o tratamento da minha doença seria duro e um tanto quanto cruel. Vou perder os meus cabelos! Chorei. E antes mesmo de saber em que pé estavam as coisas e qual a real extensão da minha enfermidade eu fui ao salão de um amigo e disse pra ele: "raspa tudo!". Mesmo as pessoas me dizendo que eu estava me precipitando e que talvez eu nem fosse precisar fazer quimioterapia e que, se fizesse, poderia não cair os meus cabelos. "Eu não vou perder os meus cabelos pra uma doença", respondi, "essa decisão ainda vai ser minha". E mandei ver a máquina nos meus cabelinhos.

O Eduardo, meu cabeleireiro, ainda fez uns charmes e saí bonitinha do salão. Ainda levaria alguns meses para eu realmente perder toda a minha juba. Nesse tempo de espera o meu cabelo cresceu e tive que cortar curtinho mais duas vezes, antes de iniciar de vez a quimio. E nesse período muitas coisas, muitas informações e transformações foram acontecendo e eu fui mudando muito o meu modo de encarar as coisas. 
Diria que eu aprendi mais sobre mim mesma nesses últimos seis meses do que nos 46 anos anteriores. Meus cabelos passaram a ter a menor das importâncias para mim. Tudo o que eu queria era estar livre do câncer, me curar e reverter toda a situação. Queria estar novamente saudável apesar das consequências. No final de agosto comecei finalmente a segunda etapa do meu tratamento: as temíveis quimioterapias. Meu cabelinho, que estava curto, mas crescido novamente, enfim não resistiram. Contei pra vocês na postagem: Tchau Cabelo - Parte II.

No dia 13 de setembro de 2018 eu fiquei careca de vez. Quinze dias após a primeira aplicação eles não resistiram. Foi diferente do que eu havia imaginado. Mesmo, há meses já, com o cabelo curto, foi doloroso passar a mão por eles e vê-los caindo, como se tivessem assoprado um dente de leão ao vento. Eu já sabia que isso iria acontecer e já estava preparada para isso. Mas, a realidade é que, mesmo tendo raspado os cabelos em abril, aquela escolha - por mais que eu quisesse provar que era - não era minha. Os meus cabelos foram embora contra a minha vontade, essa era a cruel verdade. Eu não fiquei amargando o luto por muito tempo. Assim que começaram a cair, fui lá e raspei de novo. Fiquei com essa carinha ai ao lado por alguns minutos apenas. Foi o tempo de tomar banho para ver o restante da penugem ir literalmente por água abaixo. Não chorei. 

Ainda estranhava muito a minha imagem no espelho. Por mais que eu estivesse aceitando a situação e tivesse a convicção de que isso tudo é passageiro, e que é apenas um efeito colateral de um tratamento, eu não queria sair na rua com cara de doente. Não queria as pessoas me olhando ou sentindo pena. Justo agora que não tenho mais câncer? Justo agora que me livrei da doença vou ficar com cara de doente? Durante todo o tempo que estive doente, gravemente doente, ouvia das pessoas que estava ótima, que estava forte e que não parecia doente. Agora que estou livre disso tudo as pessoas vão me olhar com pena? Passei a usar lenços coloridos, mas não era o suficiente para ser ignorada na multidão. Eu queria ser igual, queria passar despercebida nos lugares, sem aqueles olhares de dó que as pessoas fazem antes de te dizerem que você está linda.

Dias depois a sobrinha da Cida, a querida professora do meu filho, a Luana Tomaselli, resolveu se tornar a minha madrinha em mais um dos projetos lindos que o câncer me deu oportunidade de conhecer. A Luana, mesmo sem me conhecer pessoalmente, me indicou no projeto e me apresentou para a Débora Pieretti, uma das mulheres maravilhosas que eu tenho conhecido ao longo dessa minha jornada.

A Débora, passou por um câncer de mama em 2015 e, como muitas de nós, sentiu um chamado. O desejo de fazer alguma coisa com a sua dor. Quando participou de um evento, para pacientes oncológicos, ela conquistou sua autoestima de volta ao ganhar uma peruca. E enquanto arrumava sua peruca no salão ela decidiu: "quando estiver melhor é isso que vou fazer: vou ajudar outras mulheres a sentir isso que estou sentindo agora!". E desde setembro de 2016 ela trabalha incansavelmente por essa causa. Eu fui a sua causa número 729! 

No dia 01/10/2018, na abertura do Outubro Rosa, na Assembléia Legislativa de São Paulo, junto com outras pacientes, ganhei a minha peruca das mãos da querida Débora, por intermédio do seu projeto: Amor em Mechas. Foi um dia muito especial para mim. Não apenas por estar recebendo uma peruca linda, de ótima qualidade, muito parecida com o meu cabelo original, feita totalmente gratuita e especialmente para mim, mas porque a Débora, e outras palestrantes incríveis, fizeram por mim muito mais que me deixar com um aspecto mais saudável -  através dos kits maravilhosos que ganhei -, mas porque me devolveram realmente autoestima, autoconfiança e algo que há muito eu não sentia: estar plenamente a vontade com quem eu sou.
Tanto que no meio do meu depoimento no evento, tirei o meu chapéu e o meu lenço enquanto falava, sem a menor vergonha de ser quem eu sou de verdade. De como estou na realidade.

O que a Débora e o Instituto Amor em Mechas faz, é muito mais que devolver autoestima. É um verdadeiro ato de amor ao próximo, de irmandade e apoio às mulheres. Eu fiquei encantada com o que elas fazem. Uma dedicação, em tempo integral e totalmente despretensiosa. Eles arrecadam mechas nos salões e eventos espalhados pelo Brasil e com essas doações fabricam perucas maravilhosas e doam para pacientes oncológicos ou pessoas portadoras de alopecia. É um trabalho lindo e eu quero convidá-los todos para conhecer e fazer parte. Vocês podem entrar em contato com a equipe para saber como doar ou solicitar a sua peruca, inteiramente grátis. Basta clicar aqui: AMOR EM MECHAS! 

Eu e minha careca no evento

E com a minha peruca, com cara de Adriana de novo.

Eu tenho muito a agradecer, uma vez mais, por tudo que tenho recebido nessa minha trajetória. Só o fato de estar conhecendo pessoas tão enriquecedoras e verdadeiramente generosas já vale a pena estar passando por tudo que estou vivendo. Obrigada, obrigada, obrigada!

Fotos: Adriana Mani e Página IAM - Instituto Amor em Mechas, gentilmente cedidas por Débora Pieretti.










Nenhum comentário:

Postar um comentário