Todo ano quando chega outubro o Brasil se veste de rosa. Colocamos um lacinho na lapela e falamos para todo mundo sobre a necessidade de fazer o autoexame de mamas e a mamografia anual a partir dos 40 anos.
Ontem, na abertura do outubro rosa, na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, tive a oportunidade de falar um pouco mais sobre isso. Eu estava entre mulheres inspiradoras. Cada uma delas contribuiu para que eu aprendesse um pouco mais com essa doença que recentemente me visitou. Cada uma tirou uma pedrinha do meu caminho e me disseram: vá tome o teu lugar na vida!
Nós temos ouvido ano após ano sobre as recomendações e cuidados que devemos ter com as nossas mamas. A cada ano pessoas empenhadas como essas, vem nos alertar sobre o perigo que nos ronda. Ouvimos, em todos os meios, que é preciso fazer exames preventivos. Na verdade, eu preciso acrescentar, os exames não são preventivos de câncer. O que previne um câncer é tudo aquilo que você pode fazer antes do tumor aparecer: uma alimentação saudável, exercícios físicos, não beber em excesso, não fumar e não ter uma predisposição genética (se isso fosse possível). Exames médicos não vão te livrar de ter um câncer, mas podem te livrar de uma sentença de morte. Eles servem para um diagnóstico precoce da doença e isso pode salvar a sua vida.
Eu sou uma mulher cuidadosa que há muitos anos tem ouvido esse alerta. Desde os meus 35 anos, hoje tenho 46, faço frequentemente o autoexame e faço anualmente uma mamografia. Em dezembro de 2017 eu fiz a minha consulta anual, fiz a mamografia e saí do consultório com um laudo escrito: "não há evidências de nódulos". No dia 16 de março de 2018, fazendo o autoexame, percebi um nódulo no meu seio esquerdo, ovalado e medindo cerca de 2 cm. No dia seguinte, cuidadosa que sou, passei no mastologista que me pediu outra mamografia e um ultrassom. Novamente saí da sala de mamografia com um exame escrito: "não há evidência de nódulos" e mais: "nenhuma alteração desde o último exame realizado em 04 de dezembro de 2017". Em seguida entrei na sala de ultrassom e lá estava ele: um nódulo de 2,1cm, circunscrito, vascularizado e que uma biópsia posterior revelou: Carcinoma ductal invasivo grau I. O resto da história, todos que acompanham o meu blog conhecem: fiz mil exames, cirurgia, quimioterapias em andamento e ainda vou tomar tamoxifeno por mais 5 anos.
O que eu preciso dizer aqui é sobre a necessidade sim de se fazer uma mamografia anualmente, mas que existem tumores que não aparecem na mamografia e eu descobri isso da pior forma. E quero alertá-las: quando o seu médico pedir a vocês apenas uma mamografia, principalmente se você é atendida pelo SUS, diga à ele que você também precisa de um ultrassom. Se eu tivesse tido essa informação antes e tivesse feito um ultrassom em dezembro de 2017, provavelmente eu não estaria aqui agora usando uma prótese mamária externa. Eu não teria precisado passar por uma mastectomia radical e nem iria precisar dos 4 ciclos de quimioterapia que estou fazendo. Em dezembro o tumor teria sido descoberto ainda bem no início e teria tirado apenas o nódulo e não a mama toda. Façam seus exames médicos sempre! Mamografia e Ultrassom. Mas não esqueçam que o mais comum é descobrirmos sozinhas no autoexame. Se toquem como eu me toquei, corram se encontrarem algo suspeito, como eu corri, para ter a chance de serem salvas como eu fui!
Durante as duas horas do evento, tive a oportunidade de conhecer mulheres com lindas histórias de vida. Mulheres que passaram ou estão passando pela experiência de um câncer, mas que transformaram suas dores em algo muito belo. Mulheres que realmente fazem acontecer. Que seguiram o chamado e hoje se propõem amenizar o caminho de outras que vem chegando. Eu ainda estou bem no meio desse caminho, mas já estou ouvindo esse chamado. Essa necessidade de gritar, aos quatro cantos, todas as coisas incríveis que o câncer está me ensinando. Uma vontade férrea de acolher, apoiar, amparar e amar a cada uma dessas mulheres que estão passando pela tortura de esperar por resultados de exames ou que acabaram de receber um diagnóstico positivo de câncer. Tenho o desejo de toma-las pela mão e dizer-lhes: vêm comigo, por aqui o caminho tem menos espinhos. Do mesmo modo que mulheres como: Cristiane, Luzia, Cecília, Ivone, Edilene, Edna. Fernanda, Débora, Cida, Eunice, Vanessa, Gislene, Graça, Helena, Neusa, Celma... Mulheres que me acolheram com sinceridade, me tomaram pela mão e estão tirando os espinhos do meu caminho. Mulheres que estão fazendo com que eu embale a minha dor assim como as ostras embalam suas pérolas. Fazendo com que eu aprenda a me amar. Amar essa pessoa que estou me tornando e a não ter a menor vergonha de quem eu realmente sou.
Dizer obrigada, me parece tão pouco, tão pequeno!
Mas é só isso que posso dizer: OBRIGADA!
Fotos: Bino Reises @binoreises