"Tempos Modernos.
Lytton Strachey, por Dora Carrington - 1916
Diego Moreira, por Adriana Mani - 2018"
Menos duas! Metade já foi!
Um pequeno susto e uma constatação linda.
Entre uma medicação e outra deu até tempo de brincar de Dora Carrington e fazer uma foto, totalmente despretensiosa, do meu amor.
Dora amava o Lytton e fez essa pintura dele em 1916. Eu amo o Diego e fiz essa foto dele hoje, 19/09/2018. Como eu também amo arte, não foi difícil identificar as semelhanças entre eles.
Minha infusão hoje começou bem tranquila, como já tinha feito uma, sem nenhuma intercorrência, eu estava bem calma. Tomei a pré medicação enquanto papeava com a minha amiga Cris no celular. Em seguida a Daniele colocou o Docetaxel e tudo caminhava bem. Mas, depois de dez minutos de infusão comecei a ter uma aceleração cardíaca, meu rosto esquentou e comecei a me sentir meio estranha. Pensei que estava tendo uma crise de ansiedade, mas comecei a ter outros sintomas não habituais: um leve ardor no nariz, uns choquinhos por toda a extensão da coluna e pelve, boca seca e garganta arranhando. Então pedi para o Diego chamar a médica - que na verdade estava na minha frente, pois ela fica num balcão no centro da sala de onde ela consegue ver todos.
Imediatamente elas estavam (duas enfermeiras e a Dra. Letícia) à minha volta. Elas desligaram o infusor, a médica me explicou que o que estava acontecendo era absolutamente normal e esperado, disse que iam me fazer uma medicação para bloquear as reações e que esperariam mais 15 minutos antes de religar. Isso tudo aconteceu em, no máximo, 2 minutos entre os sintomas e o controle, mas foi bem chato. A medicação fez efeito imediato e os sintomas desapareceram, mas eu fiquei bem nervosa (apesar de aparentar estar bem calma), minha pressão subiu um pouco e levei 25 minutos até estar totalmente tranquila de novo. Só então a médica reiniciou o processo. Levei ainda uns cinco minutos até acreditar que realmente não iria acontecer de novo.
Depois disso foi tudo bem tranquilo como da primeira vez. A minha onco, Dra. Kelly, já tinha me alertado que o segundo ciclo costuma ser o mais chatinho de todos. No primeiro o corpo da gente é pego de surpresa com a medicação e pode dar ou não reações alérgicas. Já no segundo ciclo o organismo reconhece que tem algo estranho acontecendo e por isso acontecem mais reações alérgicas. Depois disso o nosso corpo começa a se acostumar com a droga e as reações alérgicas costumam não aparecer mais (assim espero). Tudo não passou de um susto mesmo. Recobrei a confiança e até consegui voltar a tirar fotos e papear com as amigas pelo whats para me distrair um pouco. Acho até que o tempo pareceu correr mais rápido dessa vez.
O Diego foi buscar um café e eu fiquei conversando com a Dani (uma linda que atende pelo nome de enfermeira. Já tá ficando repetitivo o tanto que eu digo que o pessoal do IBCC é maravilhoso, mas não é nenhum exagero não, em todas as interações que tive com todos lá, nesses 4 meses de tratamento, fui positivamente surpreendida). Mas, continuando, fiquei conversando com a Daniele e falamos bastante sobre a importância do paciente ter o apoio da família e das pessoas que o amam. Ela me disse que consegue identificar melhoras impressionantes quando o paciente está positivo, alto astral e recebe amor e apoio durante o tratamento. Que isso pode até ser coincidência, mas que ela vê até nos exames da pessoa uma imunidade alta (se a pessoa está bem psicologicamente) ou baixa (se está carente ou deprimida). Então ela me disse que é muito comum - muito mais do que se imagina - que os parceiros (as) abandonem a mulher durante um tratamento de câncer de mama, que ela, e nem eu, entendemos porque isso acontece, mas que acontece muito.
O Diego voltou, ela foi acompanhar outros pacientes e eu fiquei pensando em tudo que tínhamos conversado. Olhei o meu amor ali do meu lado, quietinho, ouvindo músicas, quase cochilando e me senti extremamente grata por tê-lo na minha vida. Por reafirmar, no meio dessa confusão toda, que eu tenho ao meu lado uma das - senão a - pessoas mais lindas que eu já conheci. O que ele tem feito por mim é muito mais que cuidar, que apoiar e se dedicar. Ele tem me mostrado a cada dia que ter me casado com ele (20 dias depois de tê-lo beijado pela primeira vez) foi a escolha mais certa de toda a minha existência. Em 9 anos de casados eu já sabia bem da pessoa linda, íntegra, honrada e bondosa que ele é, mas eu não imaginava que ele fosse capaz de lidar com tanta sutileza e sabedoria com uma situação tão complicada quanto essa que estamos vivendo. Ele é a pessoa que verdadeiramente me conhece - com todos as minhas infinitas falhas, -, mas que me ama por quem eu sou.
Meu marido ama também a minha essência e não apenas o meu corpo. Porque uma coisa é a pessoa te amparar, te apoiar e cuidar de você (isso qualquer pessoa boa que tenha empatia pode fazer). O que difere (e muito) é o marido continuar te olhando, te amando e te querendo exatamente como você é (ou como está temporariamente). É ver que nada, absolutamente nada, mudou entre nós. Isso é o que talvez me faz mais forte, me dá a coragem e determinação que estou tendo. A coisa mais linda que o Diego tem feito por mim é me mostrar a beleza (real) que eu nem sabia que tinha e estar me ajudando a fortalecer o meu amor próprio.
Dessa vez a minha expectativa sobre mim foi pior do que a realidade. Eu achava que iria ser muito difícil me olhar no espelho, que seria deprimente e doloroso demais me ver sem meus cabelos ou sem um dos dos meus seios, mas o que realmente está acontecendo é que a cada dia, por mais esquisitona que eu esteja eu gosto mais e mais do que vejo no espelho.
Agora só faltam mais duas. Depois eu quero muito comemorar a vida e essas descobertas todas que tenho feito. Quero aproveitar cada segundo que tenho pela frente com o meu amor, meus filhos e as pessoas que hoje me são muito caras.
Ainda não sei o que me espera pela frente nesse ciclo. Já comecei com um sustinho, mas espero que eu me recupere tão bem e rápido como no ciclo passado. E desejo, com toda sinceridade, que cada pessoa possa ter ao seu lado alguém que lhe ame e lhe queira exatamente como você é. Um beijo carinhoso a todos que me seguem.
Imagem: Lytton Strachey, por Dora Carrington - 1916
Fotos: Diego Moreira E Adriana Mani
Achei seu rostinho um pouquinho inchado, mas depois de ler entendi sobre a reação alérgica,mas isso nao diminuiu o charme da última foto...
ResponderExcluirE vamos em frente, um mundo lindo, novinho e cheio de descobertas te espera, curada e forte
Bju bju
#CancerTemCura
Obrigada, assina seu nome assim posso interagir melhor com você. O inchaço faz parte do pacote, tenho tomado doses cavalares de corticoides, mas isso é reversível, depois que terminar o tratamento o inchaço some <3
ExcluirOwnnnn seus lindos!! Amo vcs!! Já já acaba esse perrengue, amiga! Menos uma, yeaaaaah! \o/
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