Minha tia Isa ia se casar. Alguns dias antes fomos – minha mãe, minhas tias e eu – numa boutique em Iporã. Coisa importante comprávamos sempre na cidade vizinha, um pouco maior, onde haviam lojas mais modernas. Nesse dia minha mãe me comprou um lindo vestido amarelo de tricô. Meu vestidinho era todo bordado na pala e na gola. Tinha mangas compridas e pregas que saiam logo abaixo do peito.
Junto com o vestido, minha mãe comprou uma meia calça rendada e um par de sapatos brancos, estilo boneca, com fivelas. Eu me apaixonei imediatamente pelo vestidinho amarelo. Já queria ir para casa vestida com minha roupa nova, mas minha mãe não deixou.O casamento só aconteceria dali a quinze dias. Eu tinha cinco anos e quinze dias era muito tempo de espera. Todos os dias eu pedia para minha mãe me deixar usar o vestido novo e ela sempre dava a mesma resposta dura:
-Não! Só no dia do casamento.
Eu fui ficando triste e amuada. De triste fiquei doente. Até febre eu tive.Minha mãe me deu remédio, contou histórias, me agradou de todo modo, mas nada adiantou. Eu continuava febril e amuada. Quando minha mãe perguntava a razão de tanta tristeza eu só respondia que queria usar meu vestidinho.
Preocupada minha mãe não teve escolha. Dez dias antes do casamento ela se rendeu. Me deu banho, passou talco, colocou-me a meia calça, o vestido e os sapatos novos. Penteou os meus cabelos e fez uma trança. Depois me pegou no colo, chamou minha tia e então saímos. Fomos até a quitanda do seu Júlio e compramos maçãs frescas.
Quando minha mãe se cansava me passava para minha tia e vice versa. Usei a roupa nova, mas não pisei no chão em momento algum. No dia seguinte, milagrosamente sarei.
Confesso que fiquei meio frustrada de não ter podido correr livremente pelo quintal com o meu vestido novo e também porque no dia do casamento eu fui a única que não estava com uma roupa novinha em folha.
Quando eu era criança era bastante comum a molecada adoecer quando queria muito alguma coisa. Fiquei com febre por causa de queijo prato e chocolate. Meu irmão, bem mais esperto, adoeceu por causa de uma bicicross e um ferrorama.
Com o tempo os pais ficaram mais espertos.
Ah! Tá doente é? Então vamos na farmácia aplicar uma injeção para curar essa febre.
A criançada sarava rapidinho.
A criançada sarava rapidinho.
Olá, Dri. Doce Dri!
ResponderExcluirBom, nem preciso dizer que amei o post né?! Lendo seu texto consegui imaginar as cenas... O Vestidinho Amarelo... Ah que lindo deveria ser... E o mais lindo é como você consegue descrever lindamente as coisas simples da sua infância... É sempre tão bom ler o que escreve! Ao contrario de você eu tive uma jardineirinha vermelha que eu detestava, mas era obrigada a usá-la... Eu que gosto tanto de amarelo... rs.
Um super abraço, Dri!
Ai, que delícia essas memórias. De vez em quando também acho que faz falta essa importância dos rituais - sapato novo e roupa nova em dia de festa, brinquedo só no Natal. Coisa mais gostosa querer tanto uma coisa que até ficamos doente. Bem melhor que ter tanto a querer e não querer nada - e isso ser visto como doença...
ResponderExcluirAdorei seu blog!
(vim te visitar, também fui me sentindo à vontade).
Beijo.