sexta-feira, 3 de setembro de 2010

O Pé de Bife

Eu devia ter uns 4 ou 5 anos no máximo. Morava na casa dos meus avós e vivia rodeando minha mãe e as minhas tias ainda moças e que, para mim ao menos, estavam sempre fazendo ou dizendo coisas interessantíssimas.

Era uma casa de madeira com três quartos e um quintal enorme. Nessa casa, no interior do Paraná, havia um belo jardim cultivado com muito carinho pela minha avó. Tínhamos hortências azuis, um pinheirinho de natal e até um pé de café. Tudo que poderia nascer e crescer na terra a minha avó metia ali no jardim, resultando numa verdadeira confusão de árvores, plantas e flores. Mas, por alguma razão que desconheço, aquilo tudo harmonizava-se e o jardim era realmente muito bonito.

Na manhã de um sábado ensolarado acordei e não encontrei ninguém na casa. Passei pela cozinha, apanhei um pãozinho de minuto recém saído do forno e comecei a chamar pela minha avó. Logo descobri que as mulheres da casa estavam todas no jardim, aguando as plantas e conversando.

Fiquei por ali ouvindo a conversa enquanto observava a destreza com que minha avó tirava os galhinhos e folhas secas de uma das plantas.

Em seguida minha avó e minha mãe entraram, provavelmente já estavam preocupadas com os afazeres do almoço. Meu avô e meus tios chegavam por volta das onze horas para almoçar.

Assim que elas entraram, minhas tias começaram a falar sobre as flores, de como estavam bonitas e que minha avó tinha uma mão ótima para plantá-las. A conversa girava em torno disso quando a tia Isa falou:

- Eu queria saber como é um pé de pimenta do reino, pois eu nunca vi nenhum!
- E eu – disse a tia Ironí – queria saber como é um pé de cupuaçu.

Querendo entrar na conversa e ao mesmo tempo satisfazer minha curiosidade, saí com essa:

- Ah! Eu queria mesmo era saber como é um pé de bife!
- Um pé de bife?!- riram as duas espantadas.
- É! – respondi sem graça.

Então a tia Isa me explicou que não existia um 'pé de bife'. Fiquei intrigada quando ela disse que as carnes que eu via penduradas no açougue do seu João vinham das vacas.

Pensei em como era que as vacas produziam as carnes. Imaginei que deveria ser algo parecido com a produção do leite. Demorou ainda um bom tempo para eu descobrir toda a cruel verdade.

2 comentários:

  1. ô gente! ótimo texto... a inocência presente.... lindo!!!!
    =)

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  2. Que lindo, Dri. É, são essas doces lembranças da infância que faz de nós o que somos. A inocência puramente retratada. Imagino que deve ter sido difícil mesmo saber a cruel verdade.

    Beijos.

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