Eu já contei aqui, no blog, que o meu câncer foi totalmente retirado na cirurgia. Que não havia nenhum comprometimento de nenhum linfonodo, nenhum órgão e nem dos tecidos. Nem mesmo as margens do tumor estavam comprometidas por células cancerígenas.
O tumor que eu tive era um nódulo formado por células de gordura, sendo que algumas delas sofreram alterações genéticas pelo excesso de hormônios - estrógenos e progesterona - no meu organismo, transformando-se em células cancerígenas.
Quando se ouve falar em um tumor, de 2 cm, a gente logo imagina que tem um câncer de 2 cm, mas a coisa não é bem assim. Células cancerígenas se formam dentro de um tumor, rapidamente se proliferam e tomam conta desse tumor, invadem os tecidos - metástase próxima-, entram na corrente sanguínea e se desenvolvem em outros órgãos e partes do corpo - metástases distantes e espalhadas. Eu tive sorte, muita sorte. Descobri em tempo. Muito antes disso tudo acontecer comigo. No meu caso, o tumor era uma massa de gordura contendo em seu interior apenas 16% de células cancerígenas. Essas células ainda estavam encapsuladas dentro do tumor. Isso é um grande motivo para comemorar e o que me faz estar entre uma porcentagem maior de cura.
O tumor, apesar de médio, ainda estava em estágio inicial. Quando penso nisso agradeço muito por ter me tocado, naquela noite do dia 16/03/2018, e ter encontrado o nódulo. Se eu não tivesse feito isso, se não tivesse percebido logo, a história poderia ser bem diferente hoje. O tratamento, que já foi tão agressivo nessas condições, poderia ter sido muito pior e as chances de cura bem menores ou nulas. Agradeço sempre por ter o hábito de me examinar. Por ter encontrado o nódulo e ter corrido imediatamente atrás de auxílio médico. Isso fez toda a diferença. Não significa que estou totalmente livre - não ainda - mas as minhas chances de estar curada hoje são de 90%.
Mais do que qualquer exame "preventivo", o ato de me tocar foi essencial para o meu rápido diagnóstico e aumentou muito minhas chances de cura. Eu não era uma pessoa relapsa. Faço anualmente um check up. Fiz uma mamografia em dezembro de 2017 e o nódulo não apareceu no exame. Em março de 2018, ao me tocar encontrei um caroço do tamanho de uma uva. Faço um aqui então alerta: se toque, se examine sempre, não tenha medo do que possa encontrar! Se achar algo suspeito, corra! A maioria dos achados, cerca de 80%, são de origem benigna, mas não tem como saber isso sem examinar o achado. Mamografias, ultrassom, ressonância ou biópsias são necessárias para descartar ou confirmar malignidade. Muitas mulheres têm medo de se examinar, dizem que quem procura acha! Mas outro dia ouvi, de um médico, o complemento dessa frase: "e quem acha, cura!".
Apesar de ter encontrado relativamente cedo o tumor, o protocolo do tratamento envolveu, como sabem, uma mastectomia e quimioterapia adjuvante (preventiva) até agora. Ainda faltam algumas etapas. No fim do mês começo a tomar o tamoxifeno, terei exames de rotina e acompanhamento oncológico por cinco anos. Só então, depois desse tempo, caso não tenha nenhuma intercorrência em relação à doença, terei alta.

Além de lidar com o medo e o estigma de morte o tempo todo - se não a sua, a de pessoas que você conhece e se afeiçoa -, você ainda precisa lidar com todas as transformações que estão acontecendo no seu corpo, na sua vida e no seu emocional.
Durante esses seis meses vivi uma avalanche de emoções. Você precisa se reabastecer de coragem e forças o tempo todo. E você conhece o melhor e o pior das pessoas. Acho que as coisas acabam ficando mais claras. Você passa a enxergar tudo com muito mais honestidade e todos também acabam se mostrando como realmente são. Essa é a parte boa de tudo. Sempre gostei de saber a verdade, por mais cruel que ela seja. Se muitas coisas ruins acabam vindo à tona, muita coisa boa também surge. Descobri que tinha pessoas inacreditavelmente maravilhosas à minha volta e que o mundo ainda é um lugar de pessoas boas na sua maioria. Estreitei relações que ficarão por toda eternidade. Chorei e ri com pessoas que amo e que me amam. Fiz amigos e reencontrei pessoas lindas que estavam distantes. Eu nem vou agradecer individualmente porque esse texto não teria mais fim. Eles todos sabem o quanto estou grata. OBRIGADA, OBRIGADA, OBRIGADA!
Durante esses seis meses vivi uma avalanche de emoções. Você precisa se reabastecer de coragem e forças o tempo todo. E você conhece o melhor e o pior das pessoas. Acho que as coisas acabam ficando mais claras. Você passa a enxergar tudo com muito mais honestidade e todos também acabam se mostrando como realmente são. Essa é a parte boa de tudo. Sempre gostei de saber a verdade, por mais cruel que ela seja. Se muitas coisas ruins acabam vindo à tona, muita coisa boa também surge. Descobri que tinha pessoas inacreditavelmente maravilhosas à minha volta e que o mundo ainda é um lugar de pessoas boas na sua maioria. Estreitei relações que ficarão por toda eternidade. Chorei e ri com pessoas que amo e que me amam. Fiz amigos e reencontrei pessoas lindas que estavam distantes. Eu nem vou agradecer individualmente porque esse texto não teria mais fim. Eles todos sabem o quanto estou grata. OBRIGADA, OBRIGADA, OBRIGADA!
A minha recuperação desse último ciclo está sendo bem mais tranquila. Não estou mais ansiosa e não tive nenhum efeito colateral debilitante. Acho que o fato de saber que acabou me deu um gás extra. A medicação ainda vai levar cerca de seis meses para ser totalmente eliminada do meu organismo. Algumas sequelas serão inevitáveis. Acho que nunca mais enxergarei bem como antes, já que a presbiopia - que aconteceria naturalmente - foi acelerada pela químio. Ando muito esquecida, ainda sinto dores no corpo e estou mais cansada que o normal, mas a deprê e ansiedade - que mais estavam me incomodando muito - foram embora. Espero que para sempre! Agora estou me empenhando em recuperar meu corpo, minha energia e os meus cabelinhos - que já começaram a nascer, bem loirinhos - uma graça! Daqui alguns dias vou recomeçar a dieta anterior ao tratamento, continuar reforçando a minha imunidade, voltar a correr e fazer exercícios físicos. É a única forma de dizer adeus definitivamente para o câncer.
Dia 22 começo a tomar o tamoxifeno. Ainda não sei como vai ser, mas acredito que será bem tranquilo. Consegui passar relativamente bem pela quimioterapia - os efeitos emocionais foram os piores. Apesar de ter ficado um pouco inchada em alguns períodos, engordei apenas 1,5 kg durante o tratamento. Isso é algo realmente importante, pois é bastante comum engordar muito durante a químio. Vi relatos de pessoas que engordaram mais de 18 kg em apenas quatro ciclos. Acho que a alimentação que adotei ajudou nisso também. Durante os ciclos consegui recuperar, em apenas 15 dias, 100% das minhas plaquetas e de todo o sistema imunológico. Não tive nenhuma infecção - que também é bastante comum - e poucos episódios desconfortáveis ou de fraqueza.
No penúltimo ciclo fiz um teste para ver a eficácia da minha alimentação. Durante o ciclo inteiro não tomei o suco para elevar a imunidade - tomava apenas os suplementos - e os resultados foram impressionantes. Com o suco a quantidade de células brancas iam de 3 mil (no auge da baixa na químio) para 9 mil (quinze dias depois). Sem o suco foram de 3 mil para apenas 5 mil. Todo o exame deu alterações significativas (com e sem os sucos). Isso só prova o que a gente já ta cansado de saber: uma boa alimentação é a chave para uma vida saudável.
Muita gente tem me perguntando sobre minha alimentação. Quero escrever sobre isso, mas durante o processo percebi a grande responsabilidade que isso implica. Não posso simplesmente escrever receitas de sucos e falar da dieta que tenho feito, porque para chegar à alimentação adequada precisei fazer inúmeros exames de sangue - e então saber o que o meu corpo produzia e o que não produzia - para saber o que eu precisava repor ou evitar. Respondi um questionário gigantesco para a nutricionista e tudo o que pesquisei e descobri foi em torno do que iria funcionar para mim. Tudo foi levado em conta: meu biotipo, o tipo de tumor que tive, o tratamento, a medicação e a recuperação que eu precisava. Não é simplesmente uma fórmula mágica que vai funcionar para todo mundo. É uma responsabilidade muito grande, então preciso pensar muito bem no que vou escrever aqui.O que já posso adiantar é que cortar produtos industrializados e fazer uma alimentação mais balanceada vai ajudar qualquer pessoa se manter mais saudável.
Ainda tenho muito o que falar aqui sobre o tratamento e toda essa experiência que estou vivendo, mas quero fazer isso com calma para poder realmente ajudar, de alguma forma, quem esteja precisando dessas informações. Agora que a minha vida está retomando o seu curso eu tenho muitas pendências para resolver, muitas coisas que ficaram suspensas e que preciso fazer ainda, mas assim que possível volto aqui para contar mais coisas para vocês.
Obrigada, por me fazerem companhia nessa jornada.
Deixo aqui a mesma mensagem que escrevi no mural do IBCC no dia da minha última químio:
"Queridos Companheiros de Jornada! Hoje faço a minha última químio e queria dizer à vocês que estão começando seus tratamentos que NÃO DESISTAM! Por mais difícil ou complicado que sejam alguns desses dias, essa é a sua chance de CURA, de tratamento e talvez de melhorar a sua vida pós câncer. Eu sei bem que não é algo fácil, mas VAI PASSAR! Por mais longo e doloroso que seja, sempre há esperança e sempre há uma nova chance. Eu acordo TODOS os dias pensando: "É hoje que vão descobrir a cura definitiva de todos os cânceres!". E um dia será! Um abraço afetuoso - 31/10/2018 "
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