quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Um Peixe Chamado Antônio

Os ambientalistas e protetores dos animais que me perdoem, mas preciso contar essa história.
Devo adiantar que sou casada com um vegetariano convicto, quase um militante do PETA, e que eu mesma sou totalmente a favor da proteção aos animais. Já fui parar até numa delegacia em defesa de um deles - mas essa é uma outra história. No entando, confesso que tenho uma boa parcela de culpa na história do peixe chamado Antônio.
O peixe chegou em nossa casa pelas mãos da minha filha Bia. Menina trabalhadora, desde os quatorze anos fazia free lancers como monitora num buffet de festas infantis. Um dia, depois de uma das festas, chegou em casa apressada, toda esbaforida pedindo ajuda. Além da mochila e sacolas, numa das mãos trazia um saquinho daqueles transparentes com o tal peixinho dentro. Um beta azul belíssimo com suas enormes nadadeiras. Ele era uma das lembrancinhas que sobraram da festa inspirada na Pequena Sereia.
Na falta de um aquário o colocamos numa tigela e imediatamente foi batizado de Antônio pela Bia. Segundos depois, uma das duas ilustres moradoras felinas da casa já estava rondando a escrivaninha onde a "casa" provisória do Antônio foi colocada. Como a Maria é totalmente antissocial, a Augusta se encarregou de inspecionar o novato. Ali mesmo na nossa frente a audaciosa já estava implicando com o novo morador. A gata foi expulsa e a porta do quarto passou a ser trancada e vigiada.
Gatos e peixes realmente não dão certo como animais de estimação simultâneos. Bastava alguém esquecer a porta do quarto aberta que dona Augusta, de prontidão, invadia o recinto e "atacava" a tigela com o peixe. Depois de uns três flagrantes, compramos um aquário com tampa.
O Antônio crescia belo e formoso, tão belo e formoso quanto é permitido aos betas crescerem belos e formosos.
Numa tarde, a Bia havia saído e eu estava no banho quando ouvi uma barulheira danada no quarto. Saí às pressas e cheguei há tempo de salvar a vida do Antônio. O aquário estava caído na escrivaninha, a água espalhada por tudo e o peixe se debatendo no chão enquanto uma gatinha muito cara-de-pau assistia ao desespero do peixe. Por sorte o aquário não quebrou. Expulsei a felina maquiavélica do quarto, troquei a água e limpei tudo. O Antônio sobreviveu e a vigilância foi reforçada.
Algum tempo depois, bem no início de dezembro, recebi a visita de minha mãe. Feliz por tê-la conosco e por estar de férias, não paravámos em casa. Passavámos o dia todo indo à lugares que ela queria rever, fazendo compras e passeando pela cidade. Mal chegávamos em casa e já saíamos de novo. Numa dessas chegadas e partidas apressadas o mal se fez.
Nós havíamos acabado de chegar do shopping carregadas de sacolas e pacotes, entramos em casa e encontramos a Bia de saída. Ainda gritou da porta: "se forem sair não esqueçam de trancar o Antônio!"
Entramos no quarto dela, colocamos as coisas sobre a cama e lembramos que tínhamos horário marcado no salão e estávamos atrasadas. Saímos logo em seguida e apressadas nem nos lembrando da existência do Antônio.
Duas horas depois, quando voltamos orgulhosas do nosso novo visual, a casa vazia e silenciosa não denunciava nada de anormal, até que minha mãe entrou no quarto e gritou:
- Ai meu Deus! O Antônio!!!"
Corri para o quarto, mas já não havia mais nada a fazer, o pobre Antônio jazia no chão, o aquário espatifado e a água toda espalhada.
Depois de sepultarmos os restos mortais do Antônio na privada, desoladas minha mãe eu nos desesperamos: "a Bia vai nos matar!" Foi então que eu tive a brilhante idéia de atravessar a rua e tentar encontrar outro peixinho beta azul na Pet Shop da esquina.
Minha mãe, totalmente cúmplice, foi junto para ajudar a encontrar o peixe perfeito e um novo aquário. Demos sorte! Encontramos um peixinho idêntico ao Antônio e um aquário igual ao anterior. Corremos para casa e limpamos tudo. Nenhum vestígio do assassinato!
Mais tarde, estávamos na sala vendo tevê e nem nos lembrávamos mais do que tinha acontecido. Minha mãe, solidária, tinha concordado em não dizer palavra alguma sobre a morte do peixe. Em seguida a Bia entra em casa, passa na cozinha, come alguma coisa e vai para o quarto.
- Mãeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee!!!! Cadê o Antônio???? O que vocês fizeram com ele? Esse aqui não é o Antônio! O Antônio tinha uma pintinha preta do lado esquerdo da cauda dele e era bem maior que esse!

Um comentário:

  1. Dri,

    amei o texto!

    Você achava mesmo que ea]la não iria perceber que o outro peixinho não era o Antônio?!

    Muito bom ler o que escreve!

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