Hoje é aquele dia em que a Internet descobriu que a mulher existe. O dia em que o comércio distribui rosas vermelhas para todas as mulheres que passarem em seus estabelecimentos. E já que todo mundo está prestando atenção na gente hoje seria bom aproveitar para dizer que rosas vermelhas não igualam salários.
Também podemos aproveitar esse instante, de fama, para dizer que NÃO, não somos "guerreiras", na verdade odiamos guerras! Também não somos essa "mulher forte"e muito menos queríamos estar vencendo "batalhas".
Honestamente, nós até que precisamos muito de ajuda e temos um bocado de medos e só queríamos ser valorizadas de verdade. Não apenas por homens, mas pelas outras mulheres. Principalmente por elas!
Gostaríamos que empatia fosse algo genuíno, que já nascesse implícito nas pessoas e que antes de julgar uma mulher, seja pelo que for, que ao menos tentassem entender o que acontece com ela. Uma mulher não precisa de rosas vermelhas, num dia qualquer, só porque querem vender algo para ela. Na verdade o que as mulheres querem é não ser importunadas nas ruas, em suas casas, ter que brigar por seus direitos fundamentais e nem ser comparadas o tempo todo.
Tudo que uma mulher quer é não ser mais um número nas estatísticas de feminicídio. Aliás, feminicídio não acontece apenas quando um homem descarrega uma arma numa mulher ou a atire do décimo andar. Acontece também quando uma mulher é obrigada trabalhar à exaustão sem ter tempo, ou dinheiro, de cuidar da sua saúde. Quando lhe é negado o direito de cuidar adequadamente da sua saúde e ela morre por causa disso. Acontece quando uma mulher é negligenciada e quando ela precisa carregar o mundo nas costas sozinha até sucumbir.
O que uma mulher realmente quer, não apenas no dia de hoje, é ter um tratamento justo, honesto. Não ser um objeto de consumo e não ser obrigada a ser perfeita o tempo todo. Ela quer ter o direito de não seguir padrões de belezas absurdas ou sofrer julgamentos ferozes. Ninguém, além dela própria, saberá jamais o que é estar na sua pele, enfrentando seus medos, suas fraquezas e dificuldades, então ninguém está apto a julgá-la.
Ela quer ter a liberdade de ser quem é, sem tantas cobranças, sem que o mundo siga achando que ela é uma "mulher guerreira e forte e dá conta de tudo". Porque não somos! Nós somos iguais a todo mundo: temos limites, nos cansamos, não damos conta, fracassamos e nos esgotamos, mas somos OBRIGADAS a ir além de nossos limites. Somos obrigadas a respirar fundo e levantar nosso corpo cansado e ir à luta. Uma luta que jamais queríamos travar, com nada e nem ninguém.
Ela só quer ser acolhida por outras mulheres quando precisar de apoio. Não ser agredida justamente por quem mais deveria entendê-la. Não ter a sua imagem atrelada à sexualidade, à uma perfeição que a agride tanto. Não ter as suas decisões mais íntimas à cargo de quem não conhece suas dores. Não ter o seu corpo e destino nas mãos de homens inescrupulosos e falsos moralistas. Ela quer exercer o seu direito sobre si mesma.
Seria tão simples! Com apenas um pouco mais de empatia e respeito nós não precisaríamos de "dia" nenhum para dizer essas coisas todas. Se tivéssemos um pouco mais de justiça e voz, nós não precisaríamos de nos impor, buscar migalhas de empoderamento ou gritar nas ruas que estamos cansadas.
Quanto mais "super', "batalhadora", "fodona', e o escambáu a gente se declarar, num dia como hoje, mais o mundo seguirá achando que aguentamos tudo, que suportamos tudo e que damos conta de tudo. Nós não damos conta de tudo! Precisamos compartilhar a carga, precisamos de ajuda, de abraços sinceros, de justiças e de compreensão.
Se você não vai caminhar ao lado dessas mulheres e ajudá-las a carregar suas cargas, se não nos entende, se nos julga e nos compara. Por favor, não nos deseje um "feliz dia da mulher".
Adriana Mani - lavienrosedadri.blogspot.com
arte: A.J. Cass - disponível na internet.
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