E a cada instante eu tenho a noção exata do que isso significa.
Quando a gente recebe um diagnóstico de uma doença grave cruza uma fronteira que a gente nem sabia que existia: a consciência da nossa efemeridade.
Você está ali vivendo sua vida sem prestar atenção e de repente você entende que o tempo pode ser realmente muito curto.
Logo que peguei o resultado da biópsia eu pesquisava, o tempo todo, notícias de sobreviventes. E conheci histórias lindas de superação, de força e coragem. Mas, o que mais me chamou atenção nesses relatos era que 100% dos sobreviventes tinham algo em comum: eles haviam descoberto uma centelha de vida. Um significado grandioso para sua existência: SER FELIZ!
Naqueles primeiros dias eu ficava pensando: como alguém poderia descobrir essa tal felicidade passando por momentos tão difíceis?E foi ao longo do tratamento que eu fui compreendendo cada vez mais o segredo disso. Quando você entende, pra valer, que pode ter que ir embora a qualquer momento a vida começa ter outro sentido. Eu não sei exatamente quando essa transformação aconteceu comigo, mas quem vai sobrevivendo vai se nutrindo de uma vontade férrea de viver. De não perder mais tempo algum com pequenas coisas ou dissabores. O tempo tá passando e você já esteve à beira do abismo, sabe quão profundo ele pode ser.
Então você passa a se nutrir de vida. Enquanto há vida!
Eu sempre fui uma pessoa feliz, sempre gostei de viver e sempre gostei de quem eu sou. Ao menos eu achava isso. Mas agora, cada segundo tem um sabor especial, não desperdiço uma única oportunidade de ser feliz. E quanto mais eu me embriago nessa alegria de estar viva, mais vontade eu tenho de viver.
Hoje quando eu penso em todas as coisas incríveis que só me foi possível perceber e compreender a partir daquele diagnóstico eu quase fico feliz por ter passado por essa experiência.
É um divisor de águas: o antes e depois da descoberta de mim mesma. Isso só foi possível, para mim, passando por um período muito muito muito tenebroso.
Eu não sei explicar exatamente qual foi o momento em que eu encontrei essa centelha, essa coisa etérea que transformou tanto a minha existência, mas quando eu olho as pessoas à minha volta eu fico desejando tanto que todo mundo também tivesse encontrado isso.
O mundo seria tão menos competitivo e tão mais divertido.